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SOCIEDADE CIVIL E ONGs
A FUNDAÇÃO AGÊNCIA DA BACIA DO ALTO TIETÊ
COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA


SOCIEDADE CIVIL e ONGs

Eduardo Raccioppi
Diretor Presidente do Instituto Aruandista de Pesquisas e Desenvolvimento

SOCIEDADE CIVIL e ORGANIZAÇÕES
Uma tentativa para mostrar a importância e o que significam as associações civis dentro do contexto social e no progresso das relações e das políticas públicas. Mostrar a toda a sociedade sem nenhuma exceção, incluindo as próprias associações, as ONGs, os poderes e administrações públicas e as instituições o papel e a responsabilidade da sociedade civil e sua necessária e inegável participação nas questões que envolvem o Desenvolvimento Sustentável e o progresso social e econômico. Também como contribuição para o aprimoramento e melhoria das administrações públicas e suas relações com as associações civis.

ALGUMAS DEFINIÇÕES e um POUCO DE HISTÓRIA
Após a Revolução Francesa, quando se funda a concepção unitária do Estado-Nação, a noção de Sociedade Civil se considera como uma sociedade independe do mando do Estado e passível a ser opositora ao mesmo. Partindo desta noção a Sociedade Civil se apresentava como um ente ambíguo já que no real a sociedade estava governada e administrada por um Estado estabelecido. Após longas e permanentes discussões filosóficas e práticas e já no século XIX começa a desvendar-se e toma outras concepções sendo a prevalecente a que surge da formatação sistêmica em 1821 nos princípios da Filosofia do Direito (Hegel). A modernidade política da época e a partir do trabalho de Hegel apresenta a separação do que seria a “vida civil” e a “vida política”, ou seja, da Sociedade e do Estado, que concomitantemente também separa a sociedade industrial que por seu crescente poder econômico consegue uma autonomia econômico-financeira e com esta também política.
Podemos dizer que desde aquela época, envolvida na maior discussão e produção filosófica histórica que marcaram o século XIX, muitos conceitos navegaram pelo mar agitado e tormentoso dos poderes e da sociedade. Sem querer deixar um vazio e sim marcando já o nosso tempo contemporâneo podemos mencionar a definição de Dominique Colas: “Designa a vida social organizada segundo sua própria lógica, principalmente associativa, que assegura a dinâmica econômica, cultural e política”.
Se tomamos a história e sua evolução com todos os conceitos e experiências sociais dinâmicas, chegamos a entender que a Sociedade Civil como expressão fundamental se representa como uma noção conflitiva ideológica, controladora social e receptora dos conflitos da sociedade. Não entendê-lo ou negá-lo seria não entender os processos e conflitos históricos sociais e ignorar a sociedade como promotora e produtora principal de todas as formas de progresso.
As associações civis têm aumentado no mundo todo após a década de sessenta, e em grande forma após os anos oitenta, observando-se que estas são bem maiores e crescentes onde as democracias e as constituições exercem um papel burocrático que apenas ineficazmente atende as necessidades sociais mínimas e se omite das conseqüências. Também entre outras motivações estão as crises do Estado e a desgovernança. A partir desta realidade François Ranegon resume que “Antes de ser um conceito ou uma idéia, a sociedade civil envolve todo um conjunto de valores positivos: a autonomia, a responsabilidade, o assumir os indivíduos e seus próprios problemas. Por sua dimensão coletiva, a sociedade civil parece escapar dos perigos do individualismo e motivar a solidariedade. Pela sua dimensão civil promove a emancipação da tutela estatal, mas também os valores mais efetivos tais como a intimidade, a familiaridade, etcetera. Se explica assim a reativação recente de algumas parcerias sociedade civil-estado”. Podemos agregar a definição de Bobbi: “Se entende por sociedade civil a esfera de relações sociais que não estão reguladas pelo Estado, estendida como um conjunto de ações que exercem o poder pró-ativo de um sistema social organizado”.
Não obstante a existência de definições modernas e das experiências históricas, a expressão sociedade civil é para uma boa parte dos estados autoritários e pseudo-democráticos uma definição e função entendida como opositora, e assim, sobre ela, tenta manter seu mando e controle através de entraves e ações próprias do uso da máquina pública e de práticas comuns do autoritarismo. Nos estados que transitam o caminho à democracia ou nas democracias de práticas populistas e liberais, se apresenta a mesma definição e se agrega a competição própria do estado “vazio” e incompetente. Em todos os casos e pelas evidências históricas onde a sociedade civil cumpre seu papel e ao observar-se que as organizações civis de alguma maneira conseguem ilustrar, sensibilizar e conscientizar de forma independente a sociedade, esta atitude pró-ativa é mal compreendida, repudiada e até repelida pelo Estado, o qual não consegue visualizar que este fato é de grande valia para a sociedade e em conseqüência para o Estado em sua plena totalidade.
Devemos colocar que os conflitos anteriormente descritos não acontecem comumente na maioria dos Estados modernos, democráticos e progressistas e por alguns poderes econômicos os quais colaboram e apóiam sem interferências e incondicionalmente; respeitam princípios, ideologias, independência, soberania e direitos; estreitam relacionamentos, não interferem, financiam projetos, conveniam parcerias, desenvolvem projetos conjuntos, promovem espaços de discussão e consulta; sem temer e sem concorrer. Esta seria a arte moderna da relação democrática Estado – Sociedade.

AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS (ONGs) AMBIENTALISTAS
Como organizações, começam a surgir incipiente e globalmente a partir da década de 60, se multiplicam nos anos 80 e tomam força expressiva antes da Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a chamada Rio-92, que acontece em junho de 1992 no Rio de Janeiro de onde nasce a Agenda 21. É a partir desta que progressivamente as ONGs se multiplicam no Brasil, percebendo-se a partir do ano 2000 um alto surgimento em áreas interioranas de pouca população e periferias das grandes e medianas cidades. Segundo dados do IBGE teríamos hoje no Brasil aproximadamente 140 mil associações sem fins lucrativos (dados não oficiais falam de 200.000); este número pode ser três vezes maior que em toda a Europa . A maioria das ONGs se organiza e desenvolve na forma de pequenos grupos carentes de meios, recursos, planejamento, profissionalismo e preparação suficientes para entender a complexidade sociopolítica, socioeconômica e as conseqüências socioambientais . O voluntariado, ferramenta principal das ONGs, tem suas vantagens e seus efeitos contrários como por exemplo a dedicação, tempo e recursos para formação. Analistas especializados no assunto afirmam que a grande maioria das ONGs trabalha no improviso sem um planejamento de curto e médio prazos e carente de propostas formais e continuidade “A maioria das organizações sociais e ambientais ... é coordenada por pessoas com muita vontade de ajudar, mas nenhum conhecimento sobre gestão” segundo o diagnóstico de Mário Aquino Alves, professor de Administração para o terceiro Setor da FGV/SP. Isto nunca desmereceu nem desmerece de forma alguma a existência e a criação destas associações e nos confirma a pobreza democrática e o crescimento da crise social e da desgovernança a qual assume unicamente o papel burocrático do Desenvolvimento Sustentável para atender apenas os requisitos formais e os conflitos sociais pontuais e sempre quando estes são politicamente insustentáveis. Estas realidades históricas e presentes, e sempre atuais, provocam o nascimento constante de novas e novas associações.
O Próprio BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), ante os conflitos próprios relacionados com a democratização, numa América latina ainda com fortes rasgos coloniais e de autoritarismo, entende que não é possível focalizar o desenvolvimento econômico sem o desenvolvimento social, processo este lento e contraditório, demorado pela resistência de interesses opostos às mudanças que ela implica. Soma-se a isto a globalização, que exige novos conhecimentos e profissionalização e impõe mudanças e adequações do Estado e das forças produtivas. O BID, financiador de projetos em países da América Latina e Caribe, reconhece as ONGs estruturadas e portadoras de conhecimento, produtoras e promotoras de propostas, como atores essenciais para o desenvolvimento social e o fortalecimento da democracia.
Para apreciar um panorama global e daqui surgir uma análise, podemos indicar comparativos mundiais sobre a participação da sociedade e da comunidade nas ONGs, entendendo como participação todas as formas como: recrutamento, voluntariado, militância, ativismo, contribuição intelectual, apoio a pesquisas, divulgação e colaboração econômica.
Colocaremos exemplos percentuais de participação que indicam quantos habitantes por cada cem participam dentro ou junto as ONGs. Europa: Holanda 20,77; Inglaterra: 19,12; França 17,7; Alemanha 11,9 e Espanha 6,47. América do Norte: Estados Unidos 19,1. América do Sul: Colômbia 2,35; Argentina 1,85 e Brasil 0,86.
Essas diferenças podem ser entendidas fundamentalmente pelas contribuições históricas, grau e nível cultural e educacional, maior politização e visão da realidade pública e das conseqüências dos conflitos de interesses e socioambientais. Também a maior liberdade de expressão e de ação, maior independência cultural, maior compromisso e preparo das lideranças associativas e comunitárias e maior credibilidade no exercício participativo do controle social.

PARTICIPAÇÃO, LIDERANÇAS, REDES E COLETIVOS
Temos que considerar que, no marco das associações civis, a participação de lideranças históricas, empresariais, religiosas, culturais e científicas, validam firmemente tanto a existência como o papel e a imprescindibilidade da sociedade civil organizada. Líderes políticos afastados da atividade política e empresários acreditados e engajados seriamente com a responsabilidade social corporativa, artistas reconhecidos por suas qualificações artísticas e humanas, cientistas, pesquisadores e fundações características demonstram permanentemente suas participações como líderes, membros ou apoiadores. Na ordem institucional temos o exemplo e o reconhecimento das Nações Unidas que criou um espaço oficial e formal de discussão para as ONGs dentro do seu âmbito. Dos múltiplos e diversos fóruns internacionais estruturados com temáticas e participação de altíssimo nível, destaca-se o Fórum Social Mundial. Temos ainda a considerar: o surgimento de associações de jornalistas sociais, estas praticadas mediante o denominado “Jornalismo Social” e o “Jornalismo sem Fronteiras”; as redes socioambientais abertas e fechadas onde através da internet trocam de forma permanente informações, pesquisas e dados; as comunidades organizadas, os coletivos ambientalistas considerados como organizações de discussão coletiva onde são superadas as diferenças entre as ONGs e se promovem ações comuns; a maior credibilidade da sociedade nas ONGs quando cada vez menor nas organizações e administrações públicas e nos poderes políticos.
Todo o exposto nos conduz a entender a existência e crescimento do número de ONGs e de associações comunitárias e o surgimento de movimentos de expressão relevante e a profissionalização e estruturação de ONGs e coletivos.

AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS - CRISES E CONFLITOS
Se bem a grande maioria das ONGs e associações, em geral, carece de estruturas e capacitação suficientes para enfrentar as demandas sociais, estes conflitos reais, como outras realidades, são também o produto do subdesenvolvimento e do atraso. Isto também repercute nas instituições associativas do terceiro setor onde o fator econômico não as afeta, mas sim os objetivos e desenvolvimento que estão em permanente dependência das conjunturas econômicas e políticas e os riscos e entraves próprios da globalização, dos oligopólios e da dependência econômica e tecnológica . O mesmo acontece nas agremiações trabalhistas, na maioria das vezes atreladas a correntes de interesses fisiológicos, político-partidários e econômicos pontuais, em vez dos interesses próprios da classe trabalhadora e as agremiações e conselhos profissionais onde primam os esforços para a manutenção dos espaços de trabalho e desenvolvimento. No caso das ONGs ambientalistas, estas na grande maioria passam por uma crise, geralmente não compreendida nem entendida por elas próprias, que começa nas definições ideológicas, continua nos objetivos e funções como sociedade civil, transita pelos interesses e a falta de estrutura, continua na vontade de fazer e de não saber como e pára nas demandas e nos conflitos sociais em amplo crescimento que superam sua própria capacidade. Não podemos deixar de colocar a existência de algumas interferências governamentais promotoras da desagregação e de ocupação dos espaços e atividades das organizações, motivadas por fatores políticos, econômicos, de interesses, de promoção, de marketing e de ocultamento da realidade. Existem também as desconfianças entre ONGs, motivadas por condutas e atitudes consideradas como colaborativas ou omissas que beneficiam interesses políticos e econômicos descompromissados com a solução objetiva dos problemas socioambientais ou praticantes de ações que servem como alienantes da sociedade em vez de conscientizadores.

A CRISE SOCIAL E O SURGIMENTO DE ASSOCIAÇÕES
As crises individuais, familiares e grupais próprias da permanente inestabilidade se somam à crise de valores que sofre a população brasileira, a qual não vislumbra perspectivas e esperanças, tanto nos âmbitos da nação como no local. Como conseqüência, nos últimos anos percebe-se que a sociedade por si e apesar dos esforços em contrário, tem crescido e amadurecido no entendimento das causas de sua situação real dentro do contexto político, social e econômico. Isto tem propiciado o surgimento de associações comunitárias espontâneas, sendo que com o tempo muitas se convertem em organizações. A título de informação podemos citar as declarações e entrevistas do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, que afirmou que “O futuro é das ONGs”, e entre suas declarações diz estar apostando nas ONGs e descrendo nos políticos que não entendem as questões da degradação, o aumento da pobreza, da desigualdade social e do desenvolvimento econômico sustentável. Bill Clinton reconhece a desconfiança que a sociedade tem sobre as condutas políticas e administrativas dos poderes nas questões socioambientais.
Muitas vezes é comum que os interessados na permanência e perpetuidade do desequilíbrio socioambiental, através de modelos de pseudo inclusão e participação, criem formas de controle e submetimento de setores associativos, grupos e indivíduos.
As ONGs não deverão nem poderão ficar de fora dos desdobramentos das crises históricas e presentes. As ONGs pró-ativas e conscientes continuam promovendo a discussão local, nacional e global para a solução da insustentabilidade econômica, social, ambiental e ecológica que afeta a humanidade. A atual e a futura. Para isto é prioritário preparar-se, já que a curto e médio prazos a ferocidade anti-ambiental e de degradação dos recursos naturais e da sociedade poderá ser até legitimada por alguns poderes políticos e econômicos. A sociedade civil e os coletivos sociais sabem que serão grandes os desafios, e para isto, as organizações necessitam analisar e administrar sua própria crise, organizar-se internamente, definir-se ideologicamente, objetivar ações, procurar entendimentos entre seus pares e ocupar os espaços coletivos e dentro da sociedade com a sociedade, guardar sua independência e soberania institucional e capacitar-se continuamente. Deverão ser objetivas, diferenciar e reconhecer quem é quem no âmbito ambiental, seja na ordem das ONGs como nos poderes, administrações e órgãos públicos. Nessas análises objetivas e em todos os casos, as conclusões permitirão identificar e definir diferenciais e intenções e esses resultados poderão ser capazes de impulsionar ações coletivas e de promover parcerias com as administrações públicas locais e regionais que demonstrem transparente e real interesse e condutas pró-ativas, sendo assim também com os setores privados, produtivos ou de instituições de ensino e pesquisas independentes. As ONGs, tanto no global como no local, independentes de suas crises, situações e conflitos, no decorrer do tempo ocuparão um grande espaço na cena do Desenvolvimento Sustentável, no progresso social e econômico e na qualidade de vida das maiorias. Isto é inevitável.

Eduardo Raccioppi
Consultor
Diretor Presidente do Instituto Aruandista de Pesquisas e Desenvolvimento
Coordenador da ELIVRE – Escola Livre de Meio Ambiente e Administração

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A FUNDAÇÃO AGÊNCIA DA BACIA DO ALTO TIETÊ

Artigo do Eng. Julio Cerqueira Cesar Neto

1. Características Gerais

O Comitê:
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê – CBH-AT integra o SIGRH – Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.
É responsável pelo planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos na bacia do Alto Tietê. Apóia-se no tripé: Agência, Plano e Cobrança pelo uso da água.

A Agência:
A Fundação Agência da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê – FABH-AT é o braço executivo do Comitê. Deverá elaborar, atualizar e seguir as diretrizes do plano. Deverá efetuar a cobrança pelo uso da água e gerenciar a sua aplicação.

Personalidade Jurídica:
Fundação de direito privado criada com base na Lei Estadual n° 10.020 de 03/07/1998.
Está sujeita à fiscalização do Tribunal de Contas do Estado e dos Municípios e às leis do Código Civil.
Guarda natureza jurídica “sui generis”, inserida no limbo entre o Direito Público e o Privado com características de terceiro setor.

Composição:
Diretoria colegiada composta de três diretores, sendo um Diretor Presidente, um Diretor Técnico e um Diretor Administrativo e Financeiro; complementada com um Conselho Curador e um Conselho Fiscal compostos de forma paritária por representantes do Governo do Estado, das Prefeituras e de entidades da sociedade civil.

Poder de Decisão:
No âmbito de suas atividades internas o poder de decisão é de titularidade exclusiva da Diretoria Colegiada, sendo especificamente previstas as medidas administrativas que deve submeter ao crivo do Conselho Curador.

Recursos Financeiros:
A agência terá auto-suficiência financeira especialmente com base nos recursos provenientes da cobrança pelo uso da água. Desses recursos poderá dispor de até 10% para suas despesas de custeio e pessoal e os restantes 90% serão usados na elaboração de estudos, planos, projetos, programas, serviços e obras constantes do Plano da Bacia aprovado pelo Comitê, inclusive projeto, instalação e operação de sistema de informações. Enquanto não for aprovada a lei de cobrança o custeio terá que correr por conta de doações das Prefeituras e de entidades da sociedade civil.

2. Objetivo e Metodologia

Prever e prover todas as medidas que forem necessárias para propiciar a efetiva gestão dos recursos hídricos da bacia através de seus próprios meios e mais aqueles disponíveis nos órgãos do Governo do Estado, nas Prefeituras Municipais e nas instituições da Sociedade Civil que façam parte do Comitê e as demais pessoas ou instituições que não façam parte do mesmo mas que de alguma forma possam contribuir para a consecução desse objetivo.
A Agência contará especialmente com a participação dos Sub-Comitês e das Câmaras Técnicas do Comitê.
A formulação dessas medidas será desenvolvida nas seguintes etapas:
• definição técnica procurando empregar em cada caso toda a tecnologia disponível através de técnicos e instituições especializadas nacionais e internacionais;
• apresentação e discussão com os Sub-Comitês e Câmaras Técnicas do Comitê;
• montagem de documento final para ser submetido à aprovação do Comitê.
Obs: a definição técnica incluirá os problemas de engenharia, de urbanismo, de economia e sócio-economia, de administração e institucionais, jurídicos e financeiros.

3. Características especiais da sua atuação

A Agência da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê – ABH-AT foi criada pelo CBH-AT a partir da constatação por este da necessidade de um braço executivo descentralizado, ágil e eficiente na promoção das gestões que por si são deliberadas.
Veio prevista dentro de um contexto institucional e sistemático, devendo desempenhar um papel preestabelecido por lei independentemente de interesses de parte a parte, sendo, entretanto, fundamental para desempenhar suas funções “a articulação” com os outros atores que, direta ou indiretamente, compartilham a responsabilidade do gerenciamento da Bacia.
A ABH-AT tem por função primordial encaminhar e após executar o resultado das articulações e negociações dos processos de trabalho que cortam vários setores e fronteiras organizacionais representadas dentro do CBH-AT.
Para tanto é necessária sua imparcialidade na elaboração de pareceres técnicos, técnico-jurídicos e institucionais relativamente às ações contidas na legislação, considerando o grande número de agentes organizacionais envolvidos na Bacia.
É desejável que sua atuação se processe em “rede” com desenvoltura e eficácia, a fim de que possibilite, ainda, a articulação destes agentes com os demais sistemas, estados vizinhos e União, sem, contudo, perder de vista seu interesse maior estabelecido na Lei que instituiu o sistema de gerenciamento de recursos hídricos – SIGRH.
Como é sabido, o gerenciamento de recursos hídricos pressupõe o envolvimento de diversas organizações públicas, privadas e entidades não-governamentais, cujo conjunto compreende o que se denomina “rede organizacional”, por meio da qual são operacionalizadas políticas públicas, transacionados recursos financeiros, materiais e informacionais por meio de alianças, convênios, parcerias e outras modalidades de articulação e cooperação.
O papel da ABH-AT nessa rede deve ser o de buscar sinergia na utilização desses recursos, visando economias de escopo e de escala. A ABH-AT não é um segmento ou setor, à semelhança daqueles que participam no CBH-AT. Ela é síntese inter governamental que converge, através do Plano da Bacia, as diversas atuações dos vários níveis de governo e também as relações entre os setores público e privado.
Importante reforçar que a concepção prevista para as Agências de Bacias não esbarra em competências já definidas dos órgãos que atuam nas bacias. Pelo contrário, a Agência implementará o que nenhuma outra entidade faz.
Trata-se de um ente pesquisador, formulador, articulador, negociador e executor das ações discutidas e deliberadas na esfera do Comitê, necessárias à melhoria do padrão de gestão das águas da Bacia do Alto Tietê.
A ABH-AT deve adotar uma abordagem não setorial da Bacia, pois as soluções dos problemas e projetos merecem abordagem multidisciplinar, contemplando cada uma das visões dos atores representados no CBH-AT. A Agência deve ter o papel de “integração” ou “alinhamento interinstitucional”, na medida em que cada uma das organizações atuantes na região persegue objetivos diferentes, e foram criadas segundo contextos e óticas diversas, possuindo, portanto, percepções desiguais a respeito de seu objeto de trabalho, o que dificulta uma ação integrada.
A ABH-AT será a organização capaz de dirimir conflitos de interesses e de integrar ações isoladas. É um papel estratégico que dá sentido de identidade e legitimidade institucional à “rede”. Agregado a isso, o papel de facilitadora de processos de trabalho, envolvendo a remoção de dificuldades ou obstáculos operacionais, objetivando a compatibilidade das ações e a obtenção de recursos.
A ABH-AT deve promover a negociação intersetorial técnica, segundo os variados interesses, lógicas e responsabilidades institucionais legitimamente estabelecidas pelo CBH-AT. Deve procurar viabilizar a uniformidade de ações técnico-gerenciais para a Bacia, como fiscalização, monitoramento, operação de sistemas de saneamento básico, proteção ambiental, uso e ocupação do solo, entre outros. Do ponto de vista institucional, a Agência buscará minimizar a “poluição institucional” existente na Bacia, articulando as ações necessárias a uma gestão ágil, efetiva e eficaz.
Para tanto seu Regimento Interno prevê uma composição de quadro reduzido, bem articulado, forma administrativa moderna e desburocratizada.

O Eng. Julio Cerqueira Cesar Neto foi Presidente da Fundação Agência da Bacia do Alto Tietê.

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COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA

Artigo do Eng. Julio Cerqueira Cesar Neto

ONDE ESTÁ INSERIDA
Felizmente o Brasil possui uma Política Nacional de Recursos Hídricos instituída pela Constituição de 1988 que se extende aos Estados no mesmo formato. Em São Paulo foi prevista na Constituição de 1989 e instalada através da lei nº. 7663/91.
Dispomos hoje de um SIGRH – Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos e a Cobrança pelo Uso da Água se constitui num dos instrumentos de gestão, numa das ferramentas do SIGRH, juntamente com a Outorga e os Planos de Bacia.

PRINCÍPIOS
• Os princípios da cobrança pelo uso da água são fundamentados nos conceitos de “usuário pagador” e do “poluidor pagador”, adotados com o objetivo de combater o desperdício e a poluição das águas, de forma que quem desperdiça e polui paga mais.
• O reconhecimento de que a água é recurso natural limitado, finito e escasso, é que nos obriga a tratá-la como um bem de uso público, essencial a vida, dotado de valor econômico e a adotar a cobrança pelo uso deste bem para sua gestão de forma integrada e participativa.

POR QUE COBRAR PELO USO DA ÁGUA?
• Os padrões de consumo e uso da água adotados no Brasil e, principalmente no Estado de São Paulo até o início dos anos 90, resultaram na morte e degradação por poluição dos principais rios paulistas, como por exemplo, o Tietê, o Jundiaí, o Cubatão e o Piracicaba. Essa realidade, associada à ocupação urbana e ao adensamento populacional sem planejamento, resultam na grave situação de falta de água para abastecimento público em diversas regiões do estado, que apresentam índices muito abaixo dos padrões internacionais considerados críticos, de 1500 metros cúbicos de água por habitante, ano.
• No Brasil, o código de águas, instituiu os princípios de poluidor pagador em 1934, porém o instrumento da cobrança não havia sido posto em prática, talvez em virtude da falsa idéia de que há água em abundância no país e que esse recurso é da natureza e portanto não pertence a ninguém.
• A cobrança pelo uso da água começa de fato a ser trabalhada no Brasil com a criação da ANA – Agência Nacional de Águas, instituída a partir da Lei 9433, que criou o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos.
• Os Estados do Ceará, Paraná e Santa Catarina já instituíram a cobrança pelo uso da água e a União também, inclusive em rios que cortam São Paulo, como por exemplo, o Paraíba do Sul.

NÃO TEM COMO NÃO COBRAR
Corresponderia a destruir os princípios do SIGRH – Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos que representa um dos maiores avanços político-institucionais de que dispomos. Seria um retrocesso imperdoável na medida em que permite a continuidade dos padrões de uso da água sem planejamento, com desperdício e poluição, além do fato de que a não adoção da cobrança por São Paulo poderia gerar um problema de guerra fiscal e descontrole, entre o uso de águas de rios de domínio do Estado e os de domínio da União, para os quais já existe a cobrança.

A DESCENTRALIZAÇÃO É A GARANTIA DE QUE A COBRANÇA NÃO É UM IMPOSTO
Para que a cobrança pelo uso da água seja um instrumento de gestão que possibilite mudanças de comportamento, a melhoria a situação ambiental das nossas bacias hidrográficas e rios e que possa garantir a disponibilidade de água para população e os demais usos, é fundamental que o controle sobre esse instrumento (a cobrança) se dê de forma descentralizada e com ampla participação da sociedade, através dos Comitês de Bacia e aplicação integral dos recursos na bacia onde foram arrecadados.
Dessa forma estará sendo coerente com toda a estrutura do Sistema de Recursos Hídricos, não só com o Estadual mas também com o Federal. É tipicamente um problema de economia interna da bacia:
DE FORMA NENHUMA PODERÁ SER CONSIDERADA COMO MAIS UM IMPOSTO.
DE FORMA NENHUMA PODEMOS PRESCINDIR DESSE INSTITUTO.

Conheça o Decreto que Regulamenta a Cobrança pela Utilização dos Recursos Hídricos no Estado de São Paulo em Notícias

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