CHEGA
AO FIM UMA ERA DOMINADA PELO EGO
O
CRESCIMENTO GLOBAL É INSUSTENTÁVEL
O
RODOANEL NA POLÍTICA DE EXPANSÃO METROPOLITANA
O
RIO DA POLÊMICA
DESIGUALDADE SOCIAL
DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL CAUSA DOENÇAS E ATÉ
A MORTE
A OFENSIVA CONTRA A CULTURA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Chega ao fim uma era dominada pelo Ego
Estruturas
sociais como conhecemos, como temos conhecido e vivido desde que nascemos,
estão cambaleando, se desmanchando em ritmo acelerado. Paradoxalmente,
muito parecido com o que está acontecendo nos ecossistemas da Terra.
As estruturas sobre as quais a economia atual lançou seus alicerces
não podem mais suportar o peso e se desmantelam perante o olhar atônito
de bilhões de pessoas que, mais cedo ou mais tarde, se encontrarão
com o desafio de criar novos sistemas sociais, com base em paradigmas até
agora descartados, escondidos e censurados.
O maior perigo reside na possibilidade de entrar, se não estamos preparados,
em um estado de histeria, o que impediria ou dificultaria a ação
daqueles que poderiam processar o enorme desafio que a humanidade enfrenta
como um todo.
Tudo treme, na terra e abaixo dela, como uma peneira de proporções
planetárias, tentando separar o joio do trigo, escolhendo, de alguma
forma, no momento desconhecida para nós, o que vai permanecer em pé
para iniciar esta nova fase.
Os tempos do universo, os planetas não são os mesmos que os
dos seres humanos. E é por isso que, para não nos sentirmos
tão pequenos e insignificantes, que muitas vezes caímos na tentação
de pensar que algo de importante a nível global deve acontecer durante
o curso de nossas vidas. Infelizmente há uma chance em bilhões
que isso aconteça.
Naturalmente poderia haver 100 000 grandes mudanças nas nossas sociedades,
antes de haver uma única no planeta.
No entanto, nesta fase da humanidade, em que nosso desenvolvimento tecnológico
teve um crescimento tão meteórico e de proporções
enormes, isso mudou. Criamos nosso próprio evento climático
em escala planetária. Aceleramos milhares de vezes a velocidade em
que o ecossistema global se move naturalmente e isso está causando
uma infinidade de efeitos que serão muito negativos para nós
mesmos.
Não demos tempo para a maioria das espécies se adaptarem, e
estamos vivenciando uma extinção em massa que está alterando
todas as cadeias alimentares, incluindo, é claro, a nossa.
Este nível de desenvolvimento tecnológico em si não deveria
ter nos causado tantos problemas. Mas foi o mau uso, irresponsável
e egoísta, que o fez.
Foi esse gigantesco Ego que nos levou a tentar dominar a natureza ao invés
de nos sentirmos parte dela, de cuidar e valorizar aquela que nos deu a vida
e tudo que nos rodeia. Esse gigantesco e maldito Egoi é a primeira
coisa que deve desaparecer, para que um mundo melhor comece a tomar forma
dentro de nós esejamos assim capazes de articular sociedades melhores,
justas, solidárias, vivendo em harmonia com outras espécies
que vivem nesta bela casa em que vivemos.
Ricardo Natalichio
28.11.11
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"O
crescimento global é insustentável"
FERNANDO ALMEIDA Presidente do Conselho Empresarial Brasileiro
para o Desenvolvimento Sustentável prega uma mudança urgente
no modo como as companhias vêem o mundo e fazem negócios.
O engenheiro civil Fernando Almeida, 52 anos, abandonou, por duas vezes nos
últimos anos, o conforto do seu escritório no Rio de Janeiro
para mergulhar no Brasil profundo. Licenciou- se da presidência do Conselho
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS),
entidade que reúne grandes grupos empresariais do Brasil, e percorreu
35 mil quilômetros.
"Vi um Brasil anônimo e surpreendente, dotado de uma extraordinária
capacidade de fazer diferença e empreender realizações
que independem do poder central para avançar", diz Almeida.
Mas o que mais o marcou foi uma imagem numa estrada secundária em Goiás,
ao pôr-do-sol.
"Até onde a vista alcançava não se via uma árvore
sequer. Na contraluz vermelho-alaranjada, uma colheitadeira funcionava sem
operador, controlada remotamente via satélite. Na beira da estrada,
uma menina de cinco anos, miseravelmente coberta de trapos, observava a máquina
maravilhosa."
A experiência das viagens pelo Brasil e pelas principais capitais do
mundo, onde participa de importantes eventos de desenvolvimento sustentável,
inspirou Almeida a escrever o livro "Os desafios
da sustentabilidade: uma ruptura urgente". Na entrevista a seguir,
ele explica por que já chegou a hora da mudança no modelo de
desenvolvimento econômico.
DINHEIRO - Por que o sr. costuma dizer que a sustentabilidade é subversiva?
FERNANDO ALMEIDA - Porque precisamos subverter a ordem dos atuais modelos
de negócios para provocarmos as mudanças radicais, pacíficas
e urgentes de que a humanidade necessita para continuar a viver neste planeta.
Grande parte da comunidade científica já concluiu que o atual
modelo de crescimento econômico global é insustentável,
está provocando a falência dos serviços ambientais e o
esgarçamento do tecido social, com o aumento da pobreza, da violência,
do terrorismo.
DINHEIRO - E como mudar esse cenário?
ALMEIDA - Tem que ser por meio de uma ruptura urgente e planejada. Cabe às
lideranças da sociedade tentar evitar que esse rompimento com o atual
status quo não ocorra de maneira incontrolável, na forma de
cataclismos ambientais, como a escassez global de água e a elevação
do nível dos oceanos, e/ou graves crises sociais, como a migração
de milhões de famintos.
DINHEIRO - Com o que devemos romper?
ALMEIDA - Para sobrevivermos fisicamente, economicamente e como sociedade,
temos de entender que a ruptura está nos relacionamentos, no modo de
operar, de pensar, nos modelos de negócios, e não apenas em
uma revolução tecnológica. Aceitar que os recursos naturais
têm que ser perenizados, porque a falência dos ecossistemas planetários
é a falência dos negócios. Fazer negócios com os
pobres e miseráveis do mundo, saindo da zona de conforto de só
produzir para quem já está no mercado. Entender que comportamentos
éticos trazem ganho econômico, e não prejuízo.
DINHEIRO - O que nos garante realmente que o atual modelo de crescimento econômico
é insustentável?
ALMEIDA - O trabalho mais denso e sério realizado até hoje foi
a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM), encomendada
pelo então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e da qual eu
participei. O estudo envolveu 1.360 especialistas de 95 países e esses
dados foram revisados por outros 800 cientistas. Foram listados os 24 serviços
ambientais considerados essenciais para a nossa vida, entre eles a água
e o ar limpos, a regulação do clima e a produção
de alimentos, fibras e energia. Desses 24 serviços ambientais vitais,
15 estão desaparecendo ou perdendo gradativamente a função.
Revela-se, assim, que está se esgotando a capacidade do planeta de
continuar a prover os recursos básicos, tanto para o setor privado,
produtor de bens e serviços, quanto para a sociedade. A atividade pesqueira,
por exemplo, no modelo atual se inviabiliza em 2040.
DINHEIRO - Em resumo, vai faltar água, comida, energia?
ALMEIDA - Na verdade, já falta. Em muitas regiões do planeta
há carência de diversos recursos naturais e o que se projeta
é que esse desequilíbrio vai se acentuar. Mesmo no Brasil, que
possui 12% da água doce do planeta, há um colapso de muitas
bacias, a ponto de já vivenciarmos secas nos Estados do Sul. A distribuição
dos recursos é desigual no planeta e vai afetar inclusive aqueles que
hoje se julgam livres de qualquer ameaça.
ÁLVARO ALMEIDA - Isto É Dinheiro - junho de 07
O
RODOANEL NA POLÍTICA DE EXPANSÃO METROPOLITANA:
QUEM PAGA A CONTA?
Renato Arnaldo Tagnin
O Rodoanel é uma rodovia proposta pelo governo estadual, para responder a problemas de congestionamento de veículos e de fluxos de carga que atravessam a Região Metropolitana de São Paulo.
Como vem evoluindo a metrópole e quais poderão ser os efeitos dessa solução?
É freqüente ouvirmos comentários e lermos nos jornais que a ocupação urbana aqui é caótica, irregular ou desenfreada. Dito assim parece um problema sem causas ou responsáveis, portanto, fica impossível pensar e agir para alterar essa situação. Procuremos analisar algumas pistas.
Depois
do grande crescimento econômico e populacional, que durou até
o começo da década de 1980, a área urbana da metrópole
continuou crescendo, mostrando uma expansão que não se baseia
no desenvolvimento industrial, na oferta de empregos e nas grandes migrações
do passado.
Ao
se analisar os dados e os estudos feitos sobre o crescimento da área
ocupada e o adensamento populacional da metrópole, o que se observa?
Em primeiro lugar, a metrópole já não cresce tanto em
termos populacionais. Em segundo lugar, as áreas centrais, mesmo com
todos os prédios em construção estão com cada
vez menos moradores, deixando sua infra-estrutura em parte ociosa e, em contrapartida,
as periferias não param de se expandir. Em terceiro lugar, as periferias
que crescem seguem uma ordem e apresentam uma configuração homogênea;
portanto, não são “caóticas” ou “irregulares”.
Esse
processo mostra uma lógica: todos querem morar bem e próximos
de tudo que interessa: emprego, infra-estrutura e equipamentos públicos,
creches, hospitais, meios de transporte de massa etc. Ocorre que, nos locais
onde existem essas condições básicas para se viver numa
cidade o preço dos imóveis sobe e quem não pode pagar
e realmente precisa dessas condições – a população
mais pobre - tem de se afastar.
Afastar
para onde? Para qualquer lugar, onde for possível sobreviver.
Quanto
mais distante, precário, inseguro e desprovido de qualquer assistência
governamental ou amparo legal for esse lugar, mais barato viver ali. Nesses
locais, o jeito é buscar improvisar a moradia em pedaços de
lotes, divididos com outras pessoas e construí-la com materiais precários,
saneamento improvisado, sem acabamento, encostada a outras, sem espaços
suficientes para ventilação ou iluminação adequadas,
sobrando ruas ou passagens estreitas e sem condições de acesso
a caminhões de coleta de lixo, a bombeiros, ambulâncias, dificultando
até mesmo escapar em caso de incêndio, bastante provável,
também, pela precariedade das instalações de gás
e eletricidade. Penduradas em barrancos, ou na beira de córregos, cada
uma dessas moradias abriga várias famílias, com muitas crianças
morando juntas, muitas vezes rodeadas por esgoto e lixo.
Como se pode observar, essa situação é comum em toda a periferia e nada tem de caótica ou irregular. Ao se ter contato com essa realidade, fica difícil não se escandalizar e questionar a falta de políticas, como a de habitação, transportes, mananciais etc. Será que elas não existem?
Política é normalmente conceituada como o que um governo escolhe fazer, ou ele escolhe não fazer e o resultado das duas atitudes. Vamos, então, observar como essas escolhas e efeitos nos permitem identificar quais são as políticas aqui praticadas pelos governos.
Ao privilegiarem melhorias em determinadas regiões, como nas áreas centrais, sem se dedicarem a criar condições para que as populações mais pobres permaneçam nessas áreas e se beneficiem dos investimentos, os governos têm promovido a transferência de mais renda do setor público (a nossa) para os proprietários dos imóveis melhor localizados, que têm renda suficiente para mantê-los; resultado: empurram os mais pobres para fora desses locais. Essa é uma das formas pelas quais os governos têm continuado a concentrar a renda em pequena parcela da população e promovido a conhecida exclusão social de grande parte da população.
Infelizmente, como muitos estudos confirmam, a nossa região tem ajudado o Brasil a ser um dos maiores campeões do mundo em exclusão social e concentração de renda. Na medida em que outras oportunidades, como a oferta de empregos, também se concentram nas áreas centrais, fica mais fácil entender como a falta de perspectivas dignas permite à criminalidade recrutar tantos jovens, aumentar os níveis de violência na cidade e comprometer o futuro de todo o mundo.
Acontece que, além da mão de obra barata, que chegue com boa aparência e pontualmente para trabalhar, quem mora nos locais privilegiados da cidade precisa de outras coisas da periferia: água, qualidade do ar, controle de enchentes, um clima mais equilibrado, produtos agrícolas, lenha e carvão, areia e pedras para construção e locais para dar um ‘sumiço’ no lixo e nos esgotos.
As alternativas habitacionais para essa parcela da população pobre, quando existem, também são oferecidas nesses locais distantes, porque o investimento governamental na compra dos terrenos é menor. Uma vez ocupados esses lugares, com muita pressão política legítima das populações, algum nível de investimento em infra-estrutura pode ser conseguido, ao longo do tempo. A partir daí, o processo de valorização dos imóveis e expulsão dos que não podem pagar passa a ocorrer também nessas periferias, alimentando a contínua busca de novos espaços viáveis, por parte daqueles que não podem arcar com os benefícios.
Esses espaços “viáveis” são criados, em geral, com a retirada da vegetação que sobrou fora da cidade, que ainda ajuda na produção e preservação da água.
Anos atrás, pela sua raridade e importância, a faixa que ainda tinha algum nível de vegetação em torno da metrópole, em boa parte já considerada legalmente como de ‘proteção aos mananciais’, passou a ser chamada ‘Cinturão Verde da Cidade de São Paulo’, ganhando o reconhecimento internacional da UNESCO, como ‘Patrimônio da Humanidade’. Aqui, infelizmente, além de alguns institutos de pesquisa e organizações sociais que não têm meios para protegê-las, esse patrimônio não é reconhecido pelos nossos governantes.
O resultado é que a política metropolitana tem utilizado a periferia para esconder seus problemas, a sujeira que a região produz e as populações que exclui. O pior é que, nela há áreas frágeis e de importância fundamental, onde a vegetação protege locais sujeitos a deslizamentos, segura a água que pioraria as inundações da cidade e produz aquela que bebemos. Nessas áreas, os problemas estão alcançando diretamente as represas, as nossas caixas d’água.
Vocês sabem como elas estão? É difícil conhecê-las sem se escandalizar com o cheiro, com o que bóia e afunda ali. Há ainda o que proteger, mas não por muito tempo!
As políticas governamentais vigentes estão claramente reforçando esse processo de avanço, sem a imposição de qualquer controle. É como construir um carro com um potente acelerador, sem equipá-lo com volante ou freio!
Quando os governos escolhem o que vão gerir, em que gastar, que serviços prestar, que obras fazer, onde e, principalmente, para quem elas se destinarão eles determinam a maior parte dos movimentos de valorização imobiliária que comandam a expansão, o adensamento, a qualidade de vida e o desenvolvimento de uma região.
No caso da metrópole paulistana, a responsabilidade principal da sua gestão tem sido do governo estadual, mesmo hoje em que há regulamentos – ainda não aplicados aqui - que determinam uma maior democratização dessa gestão.
Além de ser o responsável maior por essa política metropolitana de expansão urbana, concentração de renda, exclusão social e degradação ambiental, acima descrita, o governo estadual é o proponente e o empreendedor do Rodoanel. O que uma coisa tem a ver com a outra?
Por falta de espaço, não trataremos aqui de todas as deficiências do projeto, como é o caso dos precários levantamentos utilizados para justificar a sua “demanda”, o simplório leque de opções estudado, sem adequado debate (mais uma evidência da falta de democratização da gestão metropolitana), além da crônica falta de investimentos em transporte público, como atesta a pífia rede de trens e metrô.
De todas essas deficiências, e mesmo como resultado delas, aqui interessa destacar que o Rodoanel vai ocupar as últimas áreas livres e verdes da metrópole. Por quê?
É mais barato! Essa opção é coerente com a política já apontada, que também não atribui valor algum à produção de água, ao controle de enchentes, ao equilíbrio climático e ao controle da poluição que essas áreas ainda realizam e que garantem alguma condição – cada vez mais precária – de vida na metrópole.
A imprensa ajuda a tornar essas áreas baratas e a isentar os governantes pela sua perda. Ultimamente, a abordagem mais freqüente que lemos nos jornais é a de que “Chuva causa enchente” e que mais obras serão necessárias. Quando falta água, é por que ‘não choveu’ e tome aí mais obras; sempre com o nosso dinheiro, claro! Mesmo quando pode ler jornais, a população não tem muitas perspectivas de avançar no conhecimento, para sair dessas ‘arapucas’ e melhorar sua condição de vida.
Na medida em que perdemos esse potencial de prevenir a falta de água e as enchentes, pela destruição sucessiva das condições naturais que fazem isso de graça, a brincadeira sai cara e o dinheiro, curiosamente, beneficia os mesmos grupos – os que fazem as obras, os que as inauguram e os que ainda poderão continuar morando nos locais que as receberam.
Além de se constituir numa obra extensa e larga, o projeto do Rodoanel, tal como está proposto, precisa de uma pista com pequenas inclinações, para facilitar um grande volume de tráfego em alta velocidade. Para isso, há duas opções: colocá-lo sobre viadutos, ou apoiá-lo no solo, cortando e aterrando o terreno em todo o percurso, principalmente nos mananciais, onde ele é mais acidentado. Por mais cuidados que se tome, desmatar e aterrar esses locais acaba com suas nascentes de água, permitindo que ali aconteça tudo, menos a produção de água - função que define o que é um ‘manancial’.
Para assegurar que a obra não fará isso, seus promotores têm divulgado que a engenharia de rodovias evoluiu muito e apresentam como prova disso, a nova pista da Rodovia dos Imigrantes, que causou menores impactos negativos que as obras tradicionais, por estar assentada sobre túneis e viadutos, em quase todo o seu percurso. Ao concordarmos que isso é uma evolução, criamos um problema para o governo, por esse alegar que não há recursos para se fazer o Rodoanel desse jeito. Impressiona essa forma de tratar a inteligência do eleitor e os recursos do contribuinte...
Nada como a realidade para demolir os discursos. O trecho Oeste do Rodoanel, já implantado, traz tudo o que precisamos saber sobre ele; da falta de cuidados na construção, aos efeitos negativos de seu funcionamento, coroados pela ausência total de controles governamentais sobre a desobediência a normas técnicas na obra, a falta de resolução dos problemas gerados e o descumprimento das obrigações e responsabilidades sociais e ambientais, formalmente assumidas por ocasião de seu licenciamento.
Farta documentação, preparada por moradores próximos, instituições de pesquisa, organizações sociais, ambientalistas e alguns técnicos de prefeituras registra esses problemas que permanecem, em sua maior parte, sem solução.
A alegada “competência” da engenharia fica prejudicada por falhas graves no projeto e na própria execução da pista, que sofreu afundamentos e desbarrancamento de encostas por sondagens, projetos, taludes e drenagens mal feitas, em vários trechos. Dessas deficiências resultam acidentes, interrupções no tráfego do Rodoanel em si e das rodovias interligadas, além de dificuldades de acesso a caminhões de grande dimensão; justo a “clientela” utilizada para justificar a necessidade do Rodoanel.
Da extensa lista de compromissos assumidos como condição da obra ser permitida, poucas ações foram concluídas ou realizadas para reduzir os impactos negativos da obra. Mesmo assim, ela foi licenciada e colocada em funcionamento, evidenciando que o órgão ambiental responsável por essas licenças, que é subordinado ao governo que realiza a obra, se submeteu a ele e não à legislação que aplica aos demais cidadãos e empreendedores.
Nesse contexto de falhas graves de engenharia, impactos negativos sem solução, descumprimento de qualquer compromisso assumido ou exigência legal e sem que órgãos responsáveis exerçam qualquer controle, a quem podemos recorrer?
Isso é ainda mais grave se considerarmos que também houve o compromisso formal interno ao próprio governo estadual, em 1997, entre as secretarias de transportes, meio ambiente e transporte metropolitano de seguir diretrizes na concepção e implantação do Rodoanel. Essas diretrizes incluem a adoção de medidas necessários ao controle do maior impacto que essa obra pode ter: aumentar a velocidade de ocupação de toda a periferia, incluindo os mananciais. Este impacto é ocasionado pela melhoria das condições de acesso a novas áreas, ainda desocupadas e protegidas, a partir de qualquer ponto da cidade ou de fora dela, considerando a falta total de controles e as políticas vigentes de ocupação.
Essas diretrizes, que incluíam a implantação de um parque contínuo, nos dois lados, ao longo de toda a rodovia em sua passagem pelos mananciais, não estão sendo obedecidas e, ainda, os “estudos” contratados pelo empreendedor, para avaliar impactos descartaram qualquer influência significativa do Rodoanel na expansão da cidade.
Essas conclusões contrariam outras avaliações e a própria realidade. Já em 1997, empreendedores imobiliários anunciavam pela imprensa que a superfície da cidade iria duplicar com o Rodoanel, considerando as mudanças de centros atacadistas, de distribuição de mercadorias e de indústrias, além da valorização de áreas periféricas para a implantação de loteamentos de alto padrão. Apesar do próprio governo se utilizar desses argumentos como vantagens da obra, o “estudo” contratado conclui que isso não terá qualquer efeito no crescimento da cidade. É impressionante: o fenômeno existe apenas se for para “vender” a idéia do Rodoanel!
Ao mesmo tempo, a implantação do trecho Oeste foi mostrando o óbvio: a ocupação das últimas áreas que ainda conservavam alguma vegetação naquela região, piorando as condições de poluição do ar, das enchentes e da falta d’água para o abastecimento, seja ali, como no conjunto da região.
Agora, a mesma situação se repete nos mananciais do trecho sul e seus efeitos também já podem ser sentidos, antes mesmo da implantação da obra. Os negócios imobiliários estão aquecidos, os terrenos já apresentam valorização e estão sendo comercializados, contando com o acesso direto e indireto ao Rodoanel. Onde buscar essas evidências: jornais, revistas, imobiliárias e população em geral, além da visita à área.
Considerando que muita gente pobre foi empurrada para morar ali, essa valorização vai provocar o mesmo movimento de sempre: afastar esses moradores para lugares mais distantes e despreparados para recebê-los: as últimas áreas que sobraram para produzir água. Como se pode ver, essa política governamental de expansão metropolitana, aproveita-se das obras, da falta de aplicação da lei, do desconhecimento da população, da mídia e das forças do mercado para se viabilizar.
Dentre seus efeitos mais dramáticos para a cidade, está a perda da capacidade de produção de água, que já é muito inferior à necessidade. De acordo com os padrões que a ONU se utiliza para avaliar a disponibilidade de água, na Região Metropolitana de São Paulo a quantidade de água por habitante é mais de sete vezes pior à classificação mais crítica. Mais da metade da água que consumimos aqui vem de outras regiões, como a de Campinas (que está mais de três vezes pior que a situação mais crítica na classificação da ONU), onde a falta de água vem dificultando cada vez mais o desenvolvimento e o saneamento de dezenas de municípios e milhões de pessoas.
Nesse contexto de escassez, produzir água aqui parece ser um bom negócio. No entanto, mesmo que a legislação de proteção aos mananciais preveja - há décadas - compensações aos municípios produtores, o governo estadual também não aplica isso. O pouco que havia de recursos no orçamento para as ações de “Compensação Financeira a Municípios”, foi cortado pelo governo estadual para 2006 e o mesmo ocorreu com as ações de “Desenvolvimento Sustentável”, destinadas a identificar alternativas de geração de emprego e renda adequadas à preservação ambiental no entorno das unidades de conservação.
Sem qualquer compensação pela água que produzem, nem alternativas econômicas permitidas e incentivadas pelo governo estadual e, ainda, recebendo continuamente os contingentes de excluídos do restante da metrópole, a esses municípios periféricos resta driblar as restrições legais (à urbanização, indústrias e demais atividades econômicas) da proteção aos mananciais, para se sustentarem. Esta situação pode ser considerada mais uma das sólidas bases da política de expansão metropolitana.
Nesse contexto, qualquer obra ou investimento que lhes seja oferecido, passa a ser fundamental e, em face do nível de carência em que se encontram interessam, sobretudo, os benefícios de curto prazo. Efeitos negativos para a metrópole, como a ocupação dos mananciais, não preocupam a maioria desses municípios; ao contrário, já que isso pode significar alguma perspectiva de sustento e desenvolvimento.
Por essas razões, ao serem chamados a se manifestar sobre os impactos do Rodoanel, muito poucos municípios colocaram preocupações ou exigências de compensações significativas pelos impactos negativos que terão em relação a ele. Sem essas condições e não havendo exigências maiores do órgão licenciador - subordinado ao governo que quer realizar a obra e colher seus benefícios eleitorais no curto prazo - poucas serão as chances de que sejam colocados controles, ou de que haja cobrança de condições para a obra.
Um dos argumentos utilizados pelo empreendedor para justificar o descumprimento dos compromissos do trecho Oeste foi a falta de recursos. No caso do trecho Sul, já foi amplamente noticiado que, por enquanto, há recursos para começar a obra, devendo o restante ser buscado e resolvido mais adiante. Novamente, vejamos como estão os compromissos quanto aos investimentos que deveriam acompanhar o Rodoanel: os “Centros Logísticos Integrados” e o “Ferroanel” foram esquecidos na proposta orçamentária do governo, apesar de terem sido utilizados para justificar as condições da obra de resolver a questão do transporte de cargas. Recomeçamos bem!
Quem já acompanhou obras desse tipo sabe que não há nada pior que começar e parar, principalmente da forma que se anuncia, em várias frentes ao mesmo tempo. A destruição da vegetação e a realização de cortes e aterros para nivelar a estrada, abrem a possibilidade de destruição ainda maior dos mananciais, pois a ação das chuvas intensas daquela região, atingirá solos frágeis e de alta declividade, como são os trechos a serem percorridos pelo Rodoanel, causando a destruição de áreas ainda maiores, piorando os danos aos córregos e reservatórios.
Além da falta de água, a situação da região metropolitana é agravada pela má qualidade daquela que já existe nos mananciais Guarapiranga e Billings – situação da qual a população não tem sido informada pelas autoridades responsáveis. As bacias desses reservatórios, ao serem percorridas pelo trecho Sul do Rodoanel, sofrerão efeitos que agravarão sua situação, podendo inviabilizar sua utilização. Isto porque o tratamento dessas águas já demanda pesados e crescentes investimentos na tentativa de torná-las potáveis, nem todos ainda realizados.
Ainda que em nível insuficiente à necessidade, é nisto que o governo tem investido: tentar melhorar o tratamento à medida que a qualidade da água vai piorando, ou tentar sanear alguns bairros situados dentro dos mananciais. Isto, depois que a ocupação avança e se consolida. Coerentemente com a política metropolitana de expansão: nada de prevenção!
Mesmo com essas tentativas atrasadas e muito inferiores à necessidade, o governo corta os poucos recursos destinados a elas no seu orçamento, como está ocorrendo para este ano de 2006.
Apesar da retórica de que as questões ambientais são importantes, a realidade, as atitudes na viabilização do Rodoanel e os recursos nos dão outro quadro: houve redução na participação, já inexpressiva, da Secretaria do Meio Ambiente (de 0,56% para 0,51%) no orçamento do Estado, implicando na redução ou manutenção de recursos irrisórios para ações como as de “Controle Ambiental” e “Recuperação de Áreas Degradadas”, entre outras.
Mesmo aprovadas na Lei de Diretrizes Orçamentárias, desapareceram da proposta orçamentária do governo ações como a de “Controle de Ocupações Irregulares em Áreas de Proteção e Recuperação de Mananciais da Grande São Paulo”. Já os programas de “Planejamento e Gestão Ambiental para o Desenvolvimento Regional Sustentado” e o de “Saneamento Ambiental em Mananciais de Interesse Regional” tiveram seus recursos reduzidos para menos da metade.
Tratando-se de resgate social àquelas comunidades sucessivamente marginalizadas, também sofreram redução no orçamento para 2006 os recursos que vinham sendo destinados a programas habitacionais como “Morar Melhor”, “Atuação em Cortiços” e “Urbanização de Favelas e de Núcleos Habitacionais”. Recursos também inexpressivos em relação à demanda habitacional foram destinados para o Programa “Saneamento Ambiental em Mananciais de Interesse Regional” e a ação “Mananciais do Alto Tietê”.
Como enfrentar essas mazelas e proteger o que restou?
Há um longo caminho a ser percorrido, que deve começar, pela sua urgência, em relação ao Rodoanel. Nesse sentido, deve ser exigido do empreendedor – aqui entendido como a Dersa e o conjunto do governo estadual - como condição básica para o licenciamento, as seguintes providências:
1.
Honrar compromissos assumidos anteriormente:
a. Reparar os passivos e cumprir o que foi acordado em relação
ao trecho Oeste;
b. Cumprir as diretrizes que foram acordadas em 1997 entre as Secretarias
de Estado de Transportes, Meio Ambiente e Transportes metropolitanos –
que incluem o equacionamento de uma política metropolitana, com os
municípios atingidos, além do parque linear em todo o percurso
nos mananciais e não apenas no Município de São Paulo;
2.
Adotar garantias adicionais ao cumprimento dos compromissos:
a. Antecipar as compensações e mitigações em relação
às obras da rodovia em si;
b. Arcar, permanentemente, com os recursos necessários à manutenção
das áreas protegidas a serem criadas como compensação;
c. Criar comissão independente, integrada por um colegiado de representantes
da universidade e de ONGs para avaliar o andamento e o cumprimento das exigências
e medidas de caráter ambiental, que deverá atestar esse cumprimento,
periodicamente, como condição para a liberação
dos trechos de obra e das sucessivas licenças;
d. As ações de responsabilidade técnica no exercício
da engenharia não poderão ser consideradas como medidas de caráter
ambiental e o seu descumprimento deverá sujeitar os infratores, entre
outras, a penas limitadoras do exercício da profissão, devendo
ser acompanhadas por comissão específica;
e. A obra deverá ser concebida para, a exemplo da nova pista da Rodovia
dos Imigrantes, minimizar o apoio no solo, contando com obras de arte, particularmente
em função de dois fatores:
i. A fragilidade das áreas pelas quais deverá passar e;
ii. Porque essa obra da Imigrantes foi utilizada pelos promotores do Rodoanel
como exemplo de que a engenharia no país está desenvolvida o
suficiente para não causar impactos (se ela serve como argumento de
defesa, vamos aceitá-la).
3.
Evitar os maiores impactos da obra:
a. Definir estratégia para reorientação da expansão
urbana para fora dos mananciais, indicando os responsáveis, prazos
e custos articulados às diferentes fases do Rodoanel; e
b. Viabilizar o programa de saneamento ambiental dos mananciais, revisto para
incluir como prioritárias em termos de prazo, alocação
de recursos e metas as ações preventivas à ocupação
dos mananciais.
Essa relação de propostas deverá ser ampliada e melhorada para constituir um ponto de partida. Resgatar a competência e a credibilidade governamentais pressupõe um longo processo que incluirá, necessariamente, a reorientação da atual política metropolitana, que vem reduzindo as nossas perspectivas para o futuro.
Ousado,
caro, polêmico. Seja qual for o adjetivo, o projeto de desviar água
do rio São Francisco para levá-la até a região
do semi-árido que mais sofre com a seca está prestes a ganhar
um desfecho, após ter sido aprovado pela Agência Nacional de
Águas e pelos órgãos ambientais. Pela vontade do governo
federal, em 2006, ano eleitoral, a transposição do Velho Chico
finalmente sairá do papel. Mas não é de surpreender se
a polêmica fizer o projeto dormir nas gavetas do Palácio do Planalto,
como aconteceu diversas vezes nos últimos anos – para não
dizer desde que a obra foi pela primeira vez proposta por D. Pedro II, no
século 19.
Ao custo de R$ 4,5 bilhões, a transposição seguirá
dois eixos – o Norte, levando água para rios menores e açudes
do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba; e o Leste, beneficiando
Pernambuco. No total, são 722 quilômetros de canais, além
de estações de bombeamento, túneis e elevatórias.
O projeto visa captar 1,4% da água que corre no São Francisco
e vai parar no Atlântico, esperando abastecer 12 milhões de pessoas
e alimentando açudes que hoje secam durante os nove meses de estiagem
do semi-árido.
Entre os que defendem a obra, está o Ministério da Integração
Nacional e os governos dos estados beneficiados pelo projeto. Eles alertam
que a quantidade de água disponível por pessoa no semi-árido
é menos da metade do que a Organização das Nações
Unidas estabelece como mínimo para a vida humana. Entre os críticos,
estão os governos dos estados banhados pelo São Francisco, lideranças
sociais, ONGs e o Comitê da Bacia do São Francisco, que reúne
vários setores da sociedade com a missão de harmonizar os vários
usos do rio. Para esses, a prioridade é revitalizar o rio, reflorestando
as margens e investindo em saneamento básico. Afirmam que devolver
a vida ao São Francisco é mais importante do que realizar uma
nova e arriscada intervenção no rio que já sofreu muitos
impactos desde que foi descoberto, em 1502.
Revista Horizonte Geográfico - dezembro de 2005.
Leia também Os descaminhos do São Francisco
DESIGUALDADE
SOCIAL
O mundo é mais desigual do que há dez
anos
Em
agosto de 2005 a Organização das Nações Unidas
tornou público um relatório que demonstra que em muitos países
o abismo entre ricos e pobres tem aumentado em vez de diminuir. Entre esses
países se encontra o Brasil.
O estudo permite ver este abismo de acesso e oportunidades se focalizar
no desemprego, no emprego informal, no acesso à informação
e à educação de qualidade, entre outras coisas.
Assinala que os caminhos para a participação econômica,
política e social ou são fechados ou são manipulados
com os fins de legitimar políticas e ações governamentais
favoráveis às minorias e aos poderes e administrações
públicos.
O relatório expõe também que os efeitos da globalização
têm aprofundado as desigualdades entre os países e no espaço
social de cada país, industrializados ou não, percebendo-se
que nos países "emergentes" as diferenças são
maiores e em constante processo progressivo.
Coloca o exemnplo da China e Índia que, não obstante seu grande
progresso econômico, as diferenças de salário entre
os trabalhadores de maior e menor capacitação são maiores.
As
diferenças tanto globais como locais dentro do âmbito empresarial
e tecnológico provocam a obsolescência e a a falta de competitividade
de muitas, colocando-as sob o risco de desaparecimento com as conseqüências
econômicas e sociais.
Observa-se que em vários países democráticos a prática
democrática tem retrocedido e progressivamente se instalam condutas
cada vez mais autoritárias, a serviço de interesses com maiores
influências e poderes de decisão.
As expectativas de melhorias não são observadas nos países
pobres e em desenvolvimento. Seus governos, independente de suas ideologias,
aparecem como responsáveis pelo aumento da desigualdade.
"O relatório pode servir como guia para serem tomadas
medidas
para a criação de um mundo mais seguro e próspero,
onde as pessoas possam desfrutar melhor dos seus direitos e liberdades.
Superar a situação da desigualdade é um elemento substancial
para poder lográ-lo".
Kofi Annan, Secretário Geral da ONU
"Não vamos alcançar a Agenda do Desenvolvimento
Sustentável sem abordar
os desafios da desigualdade dentro e entre os países.
Com a data limite de 2015 para alcançar os Objetivos do Milênio,
é o momento para incorporar a redução das desigualdades
dentro de nossas estratégias".
José Antonio Ocampo, Subsecretário para Assuntos Políticos
e Econômicos da ONU
LUC
MONTAGNIER AFIRMA QUE O DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL CAUSA DOENÇAS
E ATÉ A MORTE
(resumo extraído da entrevista de Flávia Varella – Veja
23.02.2005)
“ A poluição atmosférica, a queima de combustíveis fósseis, a utilização maciça de inseticidas, na agricultura, os dejetos que liberam toxinas, o empobrecimento da comida, representam riscos e doenças. Nossa alimentação hoje é talvez menos rica em elementos protetores, como vitaminas – a conservação de legumes e frutas em câmara fria faz com que uma parte das vitaminas se perca. E o nosso sistema imunológico é menos eficiente, justamente por estarmos expostos a todos esses novos fatores ambientais. Portanto, a incidência de câncer pode resultar de uma combinação da ação direta do ambiente e da maior debilidade do sistema imunológico”. “Todos esses fatores que mencionei provocam em nossas células o mesmo efeito bioquímico; a formação de radicais livres, moléculas super-reativas derivadas do oxigênio que atacam o DNA, as proteínas, os lipídios. Normalmente essas moléculas são neutralizadas por nossa defesa autioxidante. Mas essa defesa tende a se enfraquecer com a idade ou, às vezes, não vence a qualidade de radicais livres. Quando isso acontece, há um stress oxidativo, que danifica os tecidos e induz a inflamações crônicas, câncer e doenças neurovegetativas”.
(Luc Montagnier, ilustre cientista descobridor do vírus HIV)
Como
funciona a globalização na cultura?, perguntou-se o pesquisador
e jornalista Ignacio Ramonet, diretor de Le Monde Diplomatique, durante o painel
dedicado a Mercado e Diversidade Cultural. Antes de responder lembrou que a
globalização neoliberal é a luta do mercado contra o Estado,
do privado e público e do individual contra o coletivo, e, quanto à
cultura se manifesta da mesma maneira.
Diz que para a dinâmica da globalização (significa dizer
para o mercado , a cultura não é uma singularidade nas atividades
humanas, e sim “um território” no qual há produtos,
produtores e consumidores e, em conseqüência, também se devem
selecionar os produtos que se consomem.
Informou que hoje há um debate no seio da UNESCO para saber se a produção
cultural deve beneficiar-se de uma espécie de “exceção”
na medida em que não é um produto como outro qualquer, já
que tem a ver com a especificidade do que é uma cultura, um povo, uma
tradição, a identidade nacional.
Ramonet questionou que esta ofensiva do mercado, com legitimidade na lógica
do neoliberalismo, na realidade está produzindo o temor em alguns setores
de que se deseje chegar a uma certa unificação cultural global,
uma espécie de homogeneização cultural que conduza a desaparição
das singularidades que constituem a identidade.
Reconheceu que há três grupos fundamentais que, consciente ou inconscientemente,
“resistem” a esta “modernização” (ocidentalização)
do mundo, e mencionou ao campesinato mundial, sublinhando que está em
vias de extinção como categoria social ativa; os indígenas,
porque na lógica da globalização não têm espaço
– não produzem e não consomem – e a resistência
que ocorre no mundo islâmico.
(pesquisa AEA – Aruanda Estudos Avançados)
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CONTINUA SENDO CADA VEZ MAIS QUESTIONADA E DISCUTIDA
Estamos no tema de discussão do assunto desde 1992. Os que tiveram acesso a nossas propostas e aos nossos trabalhos sobre o tema e aqueles que participaram e participam permanentemente na discussão da questão em todo o Brasil, sabem do que se trata e o que fazer. Estes assuntos são abordados no Link “EDUCADORES”, mas desejamos colocar algo do que escreveu e ensinou Mario Fillipo:
“A
arte e o sucesso da Educação da criança e dos jovens para
enfrentar o mundo e o futuro, consistem em que ela aprenda a analisar, discernir,
criticar com fundamento e
enxergar além do óbvio”.
(Mario Fillipo)
O que diz Mario Fillipo é mais do que suficiente para apagar o que aparentemente “serve” e começar tudo de novo, buscando primeiro o que não se sabe, o que não se conhece e o que provoca.