ESPECIAL AQUECIMENTO GLOBAL (clique aqui)
  TODO O UNIVERSO INDÍGENA EM PERIGO
TERRA PRECISARIA TER 50% MAIS RECURSOS PARA SUSTENTAR PADRÃO DE CONSUMO ATUAL
FAO 
  DESTACA VÍNCULO ENTRE ALIMENTAÇÃO E ÁGUA
  
  A 
  ÁGUA NOVAMENTE ENTRE A VIDA E A MORTE
  
  SÃO 
  PAULO TERÁ CONFLITO POR ÁGUA EM 2020 
  
  
  QUANDO 
  JEGUES PERDEM PARA MOTOCICLETAS - Washington Novaes
  
  OS LIMITES DO CAPITAL SÃO OS LIMITES DA TERRA 
  
  
  UMA LEI DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL? 
  
  
  ECONOMIA VERDE VERSUS ECONOMIA SOLIDÁRIA 
  - Leonardo Boff 
  
  O MUNDO DESENVOLVIDO VIVE ÀS CUSTAS DO SUL 
  
  
  CIVILIZAÇÃO DO RISCO 
  
  NOVE LIMITES DA TERRA PARA EVITAR MUDANÇAS CATASTRÓFICAS 
  
   
 
   
  RIO+20 - NOS ÚLTIMOS 40 ANOS SÓ 4 METAS AMBIENTAIS AVANÇARAM, 
  REVELA ONU 
   
   
  
  TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO - 8 BILHÕES 
   
   
  
   
   
   
   
   
  
   
  ODM - OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO 
  
  NA 
  DESPENSA DA HUMANIDADE 
  
   
   
  HÁ CHÃO CONSISTENTE POR BAIXO?
  UMA VERDADE INCONVENIENTE 
  RODOANEL 
  VAI 'ENGOLIR' 2,8 MIL FAMÍLIAS 
  - leia em Billings/notícias
   AQUECIMENTO GLOBAL AMEAÇA DESERTOS
  ESPECIALISTAS EXAMINAM AS CAUSAS DE ELEVAÇÃO 
  DO NÍVEL DO MAR
  FAO 
  - META DE REDUÇÃO DA POBREZA SÓ SERÁ ATINGIDA EM 
  2150
   IMPACTO DO EFEITO ESTUFA PODE SER MAIOR DO QUE O 
  PREVISTO
  AGROTÓXICO É A SEGUNDA CAUSA DE CONTAMINAÇÃO 
  DE ÁGUA NO PAÍS
  IMPACTOS 
  PROVOCADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL
   
  PROF. AZIZ AB'SABER FAZ DURAS CRÍTICAS À POLÍTICA AMBIENTAL 
  DE LULA
  O DESAFIO DA EDUCAÇÃO 
  SOCIOAMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
  UM ENFOQUE NA CULTURA SOCIOAMBIENTAL
  POLUIÇÃO DA ÁGUA CRESCE DE FORMA CONSTANTE
  MAIS DE 27 MILHÕES DE CRIANÇAS VIVEM NA POBREZA 
  NO BRASIL
  EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA SOCIEDADE
  EMPRESA - EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO 
  AMBIENTAL 
Todo 
  o universo indígena em perigo
  “A situação 
  dos povos em isolamento voluntário, que são mais de 70 referências 
  no Brasil, é grave”, 
  afirma Sydney Possuelo, presidente da Funai durante o governo Collor.
Presidente da Funai durante o governo Collor, Sydney Possuelo foi o responsável pela demarcação da terra indígena Yanomami. É tido como criador do departamento de índios isolados da Funai (atual Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato), responsável por institucionalizar a postura de não-contato com os povos indígenas em isolamento voluntário.
O 
  tema é complexo, e hoje, a situação dos povos em isolamento 
  voluntário, que são mais de 70 referências no Brasil, é 
  grave. Em várias situações, como entre os awa-guaja no 
  Maranhão, ou os Piripkura no norte do Mato Grosso, ou grupos isolados 
  Yanomami, a situação é de risco grave de genocídio.
  A 
  qualquer momento, um desastre pode acontecer, com um ataque feito por madeireiros 
  ou garimpeiros, nesses casos citados, podendo ocasionar o extermínio 
  massivo de uma população. Ou seja: o crime de genocídio. 
  E muitas obras do governo atingem diretamente essas áreas ocupadas por 
  povos isolados, desde prospecção de petróleo no Vale do 
  Javari a Usina Belo Monte. Para Possuelo, “Todo o universo indígena 
  está a perigo, inclusive os isolados”.
CartaCapital: 
  O que está acontecendo hoje, como explicar esse ataque aos direitos indígenas?
  
  Sydney 
  Possuelo: De um modo geral, a sociedade nacional nunca gostou de índio. 
  Hoje, se soma a essa postura histórica de nunca gostar e não respeitar, 
  a ação governamental que se alia aos tradicionais inimigos dos 
  povos indígenas. O agronegócio, no Brasil, esta aliado ao governo. 
  O governo está mais desmatando do que tudo. As grandes obras nacionais, 
  hidrelétricas, que também se aliam ao governo porque é 
  o governo que esta fazendo. Há um monte de ONG que dependem do governo, 
  e elas não tem mais voz. Dentro da Funai não se encontra mais 
  nenhum defensor dos índios. Aquela Funai antiga, que vários companheiros 
  faziam da Funai um órgão de luta de defesa dos povos indígenas, 
  hoje não existe mais.
  
  Há 
  ha uma convergência de fatores, vários fatores tradicionalmente 
  anti-indígena, e todos convergem junto do governo por interesses. Uma 
  situação que faz recrudescer a tradicional indiferença 
  nacional com os povos indígenas. E, contra os índios, o agronegócio, 
  o grande desenvolvimento a qualquer preço, as obras. Essas convergências 
  se misturam com ausência de pessoas e fatores, e a própria imprensa, 
  que antigamente era mais atuante a favor dos povos indígenas. Na imprensa, 
  de um modo geral, os artigos são contra os povos indígenas. Não 
  se tem vozes nacionais que se levantem na defesa. Todos calados, alimentando 
  esse processo do governo com suas obras, a ideia do “Brasil grande” 
  que precisa se desenvolver.
CC: 
  Qual a ameaça dessas mudanças legislativas (PEC 215, PLP 227) 
  para o futuro?
  
  SP: 
  Os índios estão mais ameaçados. Antigamente, a esperança 
  era maior. Porque tínhamos muita atividade indigenista, demarcávamos 
  terra, bastante vozes se levantavam na imprensa, grupos, entidades, falavam 
  sobre os povos indígenas. Existia mais esperança. Hoje, é 
  o contrario. A esperança diminui e aumenta as dificuldades para os povos 
  indígenas. O resultado é que desde 1500 até hoje, com pequenos 
  momentos mais leves na nossa historia politica, todo o processo ameaça 
  os povos indígenas. A sociedade até entende, mas a ganancia e 
  a possibilidade de ganhar dinheiro e fazer negócios predominam. Fatores 
  que atuavam isoladamente, hoje estão todos juntos. Todo mundo em volta 
  do governo, que é o elemento que converge esses interesses, que subordina 
  a todos. Eu vejo esse governo como um dos mais nefastos com relação 
  aos povos indígenas, desde a entrada do lula até hoje. A postura 
  é: vamos desenvolver. O índio permanece sendo o entrave.
CC: 
  Como esse processo de força contrário aos índios se tornou 
  tão poderoso e influente?
  
  SP: 
  O polarizador foi o governo, com bilhões de reais, ele faz a estrada, 
  e quem faz a estrada esta a favor do governo, é a empreiteira, o governo 
  deixa desmatar, “autoriza”. E o governo alimenta essa situação 
  porque o que eles querem é a produção de mais carne, de 
  mais soja para mais gente criar boi na Europa e na China. Os interesses do governo 
  convergem com parte da sociedade nacional, os construtores de estrada, os chamados 
  desbravadores.
CC: 
  O que pode ser feito? Ou o que deveria ser feito no Brasil?
  
  SP: 
  Não é simples, e não basta simplesmente mudar o governo. 
  Historicamente, os governos de centro ou esquerda ou direita, seja qual for 
  a tendência, sempre foram contrários aos índios. Uns mais, 
  outros menos. Não acredito que venha um governo de centro, ou de direita, 
  que vai transformar. É uma coisa incorporada a nossa sociedade, por vários 
  motivos histórico. Como vamos ter um órgão a favor dos 
  índios se o governo não se porta a favor dos índios. E 
  não falo só do federal, mas o estadual e municipal: todos são 
  contrários aos índios. Na época das demarcações 
  que fizemos nos meus dois anos de presidência da Funai, tivemos uma ação 
  demarcatória muito positiva, no governo Collor. Em um ano duplicamos 
  a superfície de terras indígenas no brasil. Houve momento em que 
  essa situação estava melhor, como voltar a uma atividade mais 
  respeitosa. Como respeitar os povos indígenas se a gente não se 
  respeita? Somos uma sociedade que tem que caminhar muito.
CC: 
  E como está a situação dos povos indígenas isolados, 
  tema com o qual o senhor trabalhou durante muitos anos?
  
  SP: 
  A situação dos índios isolados está igual a dos 
  outros povos: de mal a pior. tudo aquilo que fizemos com a criação 
  do departamento de índios isolados, com seis ou sete equipes funcionando, 
  mantendo a terra, dando um pouco de sossego para os índios, tudo aquilo 
  se perdeu. Perdeu-se a motivação porque não tem mais aquelas 
  pessoas, que foram anuladas e mandadas embora, e a começar por mim mesmo, 
  mas, todos os que contribuíram de alguma forma. Antes da criação 
  desse departamento e toda a filosofia que eu implantei, cada um fazia aquilo 
  que queria. Fizemos uma filosofia de não contato, porque são sociedades 
  vulneráveis, e somos tão grande, porque não sermos um pouco 
  generosos e deixá-los nas sua áreas? As frentes estão abandonadas, 
  não tem pessoas motivadas trabalhando nelas. Os índios isolados 
  estão tão a perigo quanto os que estão contatados. Todo 
  o universo indígena esta a perigo, inclusive os isolados.
  
  Eu 
  não consigo ver lados positivos em qualquer desenvolvimento que não 
  respeite as populações diretamente afetadas, que não considere 
  elas, que não faça obras de atenuação dos impactos. 
  Impactos sempre vão ocorrer, mas convém atenuar. Senão 
  não é desenvolvimento nem sustentável nem ético.
* Felipe Milanez é pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Felipe Milanez escreve sobre meio ambiente, conflitos sociais e questões indígenas. É também pesquisador visitante na Universidade de Manchester e integra o European Network of Political Ecology (Entitle). Twitter: @felipedjeguaka
Fonte: Carta Capital
Terra precisaria ter 50% mais recursos para sustentar padrão de consumo atual
Esgotamento foi 
  registrado mais cedo do que em 2012 (22 de agosto). Foto: woodleywonderworks.
  
  O planeta Terra teria que “fechar as portas” na terça-feira, 
  20 de agosto, caso a humanidade se comprometesse a consumir a cada ano só 
  os recursos naturais que pudessem ser repostos no mesmo período. A estimativa 
  é da Global Footprint Network, organização não governamental 
  que calcula o “Dia da Sobrecarga”.
  Em 2013, o 
  esgotamento foi registrado mais cedo do que em 2012 (22 de agosto), e a piora 
  tem sido uma constante. “A cada ano, temos o Dia da Sobrecarga antecipado 
  em dois ou três dias”, destacou à Folha Juan Carlos Morales, 
  diretor regional da entidade na América Latina.
  A Global Footprint 
  Network promove o uso do conceito de “pegada ambiental”, uma medida 
  objetiva do impacto do consumo humano sobre recursos naturais. No Dia da Sobrecarga, 
  porém, expressa-o de outra maneira: para sustentar o atual padrão 
  médio de consumo da humanidade, a Terra precisaria ter 50% mais recursos.
  Para fazer 
  a conta, a ONG usa dados da ONU, da Agência Internacional de Energia, 
  da OMC (Organização Mundial do Comércio) e busca detalhes 
  em dados dos governos dos próprios países.
  
  Critérios 
  considerados
  O número 
  leva em conta o consumo global, a eficiência de produção 
  de bens, o tamanho da população e a capacidade da natureza de 
  prover recursos e biodegradar/reciclar resíduos. Isso é traduzido 
  em unidades de “hectares globais”, que representam tanto áreas 
  cultiváveis quanto reservas de manancial e até recursos pesqueiros 
  disponíveis em águas internacionais.
  A emissão 
  de gases de efeito estufa também entra na conta, e países ganham 
  mais pontos por preservar florestas que retêm carbono.
  Apesar de ter começado a calcular o Dia da Sobrecarga há uma década, 
  a Global Footprint compila dados que remontam a 1961. Desde aquele ano, a sobrecarga 
  ambiental dobrou no planeta, e a projeção atual é de que 
  precisemos de duas Terras para sustentar a humanidade antes de 2050. A mensagem 
  é que esse padrão de desenvolvimento não tem como se sustentar 
  por muito tempo.
  
  “O problema 
  hoje não é só proteger o ambiente, mas também a 
  economia pois os países têm ficado mais dependentes de importação, 
  o que faz o preço das commodities disparar”, ressaltou Morales. 
  “Isso ocorre porque os serviços ambientais [benefícios que 
  tiramos dos ecossistemas] já não são suficientes”.
  
  Brasil credor 
  ambiental
  No panorama 
  traçado pela Global Footprint Network, o Brasil aparece ainda como um 
  “credor” ambiental, pois oferece ao mundo mais recursos naturais 
  do que consome. Isso se deve em grande parte à Amazônia, que retém 
  muito carbono nas árvores, e a uma grande oferta ainda de terras agricultáveis 
  não desgastadas.
  Mas, segundo 
  a WWF-Brasil, que faz o cálculo da pegada ambiental do país, nossa 
  margem de manobra está diminuindo e exibe grandes desigualdades regionais. 
  “Na cidade de São Paulo, usamos mais de duas vezes e meia a área 
  correspondente a tudo o que consumimos”, justificou Maria Cecília 
  Wey de Brito, da WWF. O número é similar ao da China, um dos maiores 
  “devedores” ambientais.
  
  Entre os principais 
  devedores ambientais (consomem mais do que repõem) estão: Japão, 
  Qatar, Suíça, Itália, Reino Unido, Grécia, China, 
  Egito e Estados Unidos.
  
  Já 
  entre os principais credores (consomem menos do que repõem) destacam-se: 
  Indonésia, Suécia, Austrália, Madagascar, Canadá 
  e Brasil.
  Fonte: EcoD 
FAO 
  destaca vínculo inseparável entre alimentação e 
  água
  Thalif Deen 
Roma, Itália, 
  21/6/2013, (IPS) - Como a água e a alimentação são 
  coisas que estão estreitamente ligadas, há um perigo latente de 
  que, se a primeira escassear, a segunda faltará. 
  
  A Organização das Nações Unidas para a Alimentação 
  e a Agricultura (FAO) destacou os fortes vínculos entre os dois temas, 
  ao assinalar que a produção rural responde por mais de 70% do 
  uso da água no mundo.
  Em um informe 
  divulgado em Roma - onde realiza sua 38ª Conferência Bianual, que 
  começou no dia 15 e terminará amanhã - a FAO alertou que 
  a parte da água disponível para a agricultura cairá em 
  40% até 2050. Sua projeção se baseia em estatísticas 
  da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento 
  Econômicos (OCDE), que tem entre seus integrantes os países mais 
  industrializados.
  
  A disponibilidade 
  de água potável mostra uma tendência semelhante à 
  das terras: há recursos suficientes em nível mundial, mas distribuídos 
  de forma desigual. Entretanto, em um número cada vez maior de países 
  ou partes destes, há escassez de água, segundo a FAO. Devido à 
  sua vulnerabilidade, as áreas costeiras, a bacia do Mediterrâneo, 
  os países do norte da África e da Ásia central parecem 
  ser lugares onde os investimentos em técnicas de manejo de água 
  devem ser considerados uma prioridade quando se trata de promover a produtividade 
  agrícola.
  Consultado 
  sobre se o vínculo entre produtividade agrícola e escassez de 
  água é real, Jan Lundqvist, assessor científico do Instituto 
  Internacional da Água de Estocolmo (Siwi), disse à IPS que "sim 
  e não". Se não há água (por exemplo, nos desertos), 
  não se pode produzir alimentos, afirmou. Mas, acrescentou, a água 
  é um recurso renovável e o ciclo hidrológico continuará 
  no futuro.
  O problema 
  é que está cada vez mais difícil, caro e perigoso, segundo 
  Lundqvist, desviar água dos rios e lagos ou extrair a que se encontra 
  nas reservas subterrâneas. "Ao mesmo tempo, com o desenvolvimento 
  econômico, aumenta a demanda de água por habitante", pontuou. 
  O fato de se necessitar deste recurso para produzir tudo o que o ser humano 
  come ficou claramente ilustrado em uma exposição realizada no 
  Siwi no ano passado.
  Naquela ocasião 
  foi explicado que a produção de um hambúrguer médio 
  (duas fatias de pão, carne, tomate, alface, cebola e queijo) consome 
  cerca de 2.389 litros de água, contra 140 litros para uma xícara 
  de café e 135 para um simples ovo. Para um prato de arroz com carne e 
  verduras são necessários 4.230 litros, enquanto um grosso e suculento 
  bife, alimento básico em muitos países do Norte industrializado, 
  consome uma das maiores quantidades de água: aproximadamente sete mil 
  litros.
  Vincent Casey, 
  gerente de apoio técnico da organização WaterAid, com sede 
  em Londres, disse à IPS que a agricultura irrigada responde pela maior 
  parte da extração de água em muitos países. A escassez 
  poderia ser prevenida mudando as práticas agrícolas, argumentou. 
  É possível modificar os tipos de cultivos, os métodos de 
  irrigação e as tarifas da água para reduzir a demanda. 
  Mas essas ações exigem compromisso político, o que pode 
  ser difícil de obter, reconheceu.
  Para garantir 
  a segurança da água também é necessária uma 
  boa administração dos recursos e dos serviços de fornecimento, 
  como bombas, tubulações e tanques de reserva. A escassez de água 
  já é uma realidade para mais de 760 milhões de pessoas, 
  alertou Casey, em grande parte pela falta de serviços de fornecimento. 
  "Se não tivéssemos represas, tubulações e torneiras 
  na Grã-Bretanha, também sofreríamos escassez", afirmou.
  Para enfrentar 
  a crise do fornecimento será preciso controlar a demanda nas áreas 
  onde os recursos estão mais pressionados, e ampliar a oferta aos lugares 
  onde há dificuldades de acesso. Se existe escassez de água, a 
  produção de alimentos é afetada por muitos motivos, observou 
  Lundqvist. Em primeiro lugar porque outros setores demandam uma boa parte do 
  fornecimento. Com a crescente urbanização, tanto a indústria 
  como as famílias necessitarão de água adicional. "A 
  água está ficando escassa, não só pela redução 
  no volume, como também porque está aumentando a demanda da sociedade", 
  ressaltou Lundqvist.
  Um segundo 
  motivo é que o padrão de chuvas ficará mais alterado devido 
  à mudança climática. A incerteza e os riscos aumentarão 
  para os agricultores. Isto é particularmente problemático para 
  a agricultura que depende da chuva, afirmou Lundqvist. E a situação 
  ficará mais complexa conforme as secas e inundações se 
  tornarem mais frequentes e amplas. Por outro lado, o aumento das temperaturas 
  acelera a evaporação da água, o que também complica 
  para os agricultores.
  
  Nessas circunstâncias, 
  e considerando o fato de que se produz comida suficiente para alimentar de forma 
  adequada toda a população mundial, é vital garantir que 
  esses alimentos cheguem a todos, inclusive aos pobres. Segundo Lundqvist, entre 
  um terço e metade dos alimentos produzidos é desperdiçado 
  ou transformado. Isto significa uma enorme perda de recursos. "Deveremos 
  caminhar bem firme no futuro, assegurando que se produza o necessário, 
  que se possa ter acesso à produção e que esta seja aproveitada", 
  destacou. IPS (FIN/2013) 
  [Topo] 
   
Economia 
  verde versus economia solidária.
  Artigo 
  de Leonardo Boff
“O 
  futuro que queremos”, lema central do documento da ONU, não é 
  outra coisa senão o prolongamento do presente. Este se apresenta ameaçador 
  e nega um futuro de esperança. Num contexto desses, não avançar 
  é retroceder e fechar as portas para o novo", escreve Leonardo Boff, 
  filósofo, teólogo e escritor.
  
  Segundo ele, junto com a "Rio+20 seria um ganho resgatar também 
  a Estocolmo+40", pois, continua Leonardo Boff, "nesta primeira conferência 
  mundial da ONU de 5-15 de julho de1972 em Estocolmo na Suécia sobre o 
  Ambiente Humano, o foco central não era o desenvolvimento mas o cuidado 
  e a responsabilidade coletiva por tudo o que nos cerca e que está em 
  acelerado processo de degradação, afetando a todos e especialmente 
  aos países pobres. Era uma perspectiva humanística e generosa. 
  Ela se perdeu com a cartilha fechada do desenvolvimento sustentável e 
  agora com a economia verde".
Eis o artigo.
O 
  Documento Zero da ONU para a Rio+20 é ainda refém do velho paradigma 
  da dominação da natureza para extrair dela os maiores benefícios 
  possíveis para os negócios e para o mercado. Através dele 
  e nele o ser humano deve buscar os meios de sua vida e subsistência. A 
  economia verde radicaliza essa tendência, pois, como escreveu o diplomata 
  e ecologista boliviano Pablo Solón, “ela busca não apenas 
  mercantilizar a madeira das florestas mas também sua capacidade de absorção 
  de dióxido de carbono”. Tudo isso pode se transformar em bônus 
  negociáveis pelo mercado e pelos bancos. Destarte, o texto se revela 
  definitivamente antropocêntrico como se tudo se destinasse ao uso exclusivo 
  dos humanos e a Terra tivesse criado somente a eles, e não a outros seres 
  vivos que exigem também sustentabilidade das condições 
  ecológicas para a sua permanência neste planeta.
  
  Resumidamente: “O futuro que queremos”, lema central do documento 
  da ONU, não é outra coisa senão o prolongamento do presente. 
  Este se apresenta ameaçador e nega um futuro de esperança. Num 
  contexto desses, não avançar é retroceder e fechar as portas 
  para o novo.
  
  Há outrossim um agravante: todo o texto gira ao redor da economia. Por 
  mais que a pintemos de marrom ou de verde, ela guarda sempre sua lógica 
  interna que se formula nesta pergunta: quanto posso ganhar no tempo mais curto, 
  com o investimento menor possível, mantendo forte a concorrência? 
  Não sejamos ingênuos: o negócio da economia vigente é 
  o negócio. Ela não propõe uma nova relação 
  para com a natureza, sentindo-se parte dela e responsável por sua vitalidade 
  e integridade. Antes, move-lhe uma guerra total, como denuncia o filósofo 
  da ecologia Michel Serres. Nesta guerra não possuímos nenhuma 
  chance de vitória. Ela ignora nossos intentos. Segue seu curso mesmo 
  sem a nossa presença. Tarefa da inteligência é decifrar 
  o que ela nos quer dizer (pelos eventos extremos, pelos tsunamis etc.), defender-nos 
  de efeitos maléficos e colocar suas energias a nosso favor. Ela nos oferece 
  informações mas não nos dita comportamentos. Estes devem 
  se inventados por nós mesmos. Eles somente serão bons caso estiverem 
  em conformidade com seus ritmos e ciclos.
  
  Como alternativa a esta economia de devastação, precisamos, se 
  queremos ter futuro, opor-lhe outro paradigma de economia de preservação, 
  conservação e sustentação de toda a vida. Precisamos 
  produzir sim, mas a partir dos bens e serviços que a natureza nos oferece 
  gratuitamente, respeitando o alcance e os limites de cada biorregião, 
  distribuindo com equidade os frutos alcançados, pensando nos direitos 
  das gerações futuras e nos demais seres da comunidade de vida. 
  Ela ganha corpo hoje através da economia biocentrada, solidária, 
  agroecológica, familiar e orgânica. Nela cada comunidade busca 
  garantir sua soberania alimentar. Produz o que consome, articulando produtores 
  e consumidores numa verdadeira democracia alimentar.
  
  A Rio-92 consagrou o conceito antropocêntrico e reducionista de desenvolvimento 
  sustentável, elaborado pelo relatório Brundland de 1987 da ONU. 
  Ele se transformou num dogma professado pelos documentos oficiais, pelos Estados 
  e empresas sem nunca ser submetido a uma crítica séria. Ele sequestrou 
  a sustentabilidade só para seu campo e assim distorceu as relações 
  para com a natureza. Os desastres que causava nela, eram vistos como externalidades 
  que não cabia considerar. Ocorre que estas se tornaram ameaçadoras, 
  capazes de destruir as bases físico-químicas que sustentam a vida 
  humana e grande parte da biosfera. Isso não é superado pela economia 
  verde. Ela configura uma armadilha dos países ricos, especialmente da 
  OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento 
  Econômico) que produziu o texto teórico do PNUMA Iniciativa da 
  Economia Verde. Com isso, astutamente descartam a discussão sobre a sustentabilidade, 
  a injustiça social e ecológica, o aquecimento global, o modelo 
  econômico falido e mudança de olhar sobre o planeta que possa projetar 
  um real futuro para a humanidade e para a Terra.
  
  Junto com a Rio+20 seria um ganho resgatar também a Estocolmo+40. Nesta 
  primeira conferência mundial da ONU de 5 a 15 de julho de1972 em Estocolmo 
  na Suécia sobre o Ambiente Humano, o foco central não era o desenvolvimento 
  mas o cuidado e a responsabilidade coletiva por tudo o que nos cerca e que está 
  em acelerado processo de degradação, afetando a todos e especialmente 
  aos países pobres. Era uma perspectiva humanística e generosa. 
  Ela se perdeu com a cartilha fechada do desenvolvimento sustentável e 
  agora com a economia verde.
  
  [Topo] 
  
06.06.12 - Roberta 
  Pennafort - Agência Estado
  [Topo] 
   
 
  
  Custo 
  da transposição do São Francisco já aumentou 71% 
  e projeto vai superar R$ 8 bilhões
Vencido o prazo original em que a transposição do Rio São Francisco deveria estar pronta e funcionando no semiárido nordestino, a obra registrou aumento de R$ 3,4 bilhões - ou 71% - em seus custos em relação à previsão inicial, segundo a mais recente estimativa feita pelo Ministério da Integração Nacional. Desde o início do governo Dilma Rousseff, o custo total da obra pulou de R$ 4,8 bilhões para R$ 8,2 bilhões. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva previa inaugurar a obra em 2010.A reportagem é de Marta Salomon e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 23-03-2012.
Isso 
  significa que, se a transposição fosse uma aplicação 
  financeira, teria rendido 65% acima da inflação do período. 
  Para essa comparação, o Estado usou a variação de 
  preços medida pelo IPCA, índice usado no regime de metas de inflação 
  do governo. A alta foi de 8,2% entre dezembro de 2010 e março de 2012.
  A 
  construção de cerca de 600 quilômetros de canais de concreto 
  que desviarão parte das águas do rio ainda deve consumir mais 
  45 meses. O preço aumentou com a renegociação dos contratos 
  originais e o lançamento programado de mais de R$ 2,6 bilhões 
  em novas licitações.
Iniciada 
  em 2007 como a mais cara a ser paga com dinheiro dos tributos entre os projetos 
  do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a obra da transposição 
  do São Francisco está parada em três trechos: em Salgueiro 
  (PE), Verdejante (PE) e São José das Piranhas (PB). Os contratos 
  originais referentes a esses trechos serão rompidos e haverá nova 
  licitação. Também serão licitados trechos de obras 
  "remanescentes" ao longo de quase toda a extensão do projeto.
  Há 
  dois outros trechos em reforma, pois placas de concreto que haviam sido colocadas 
  racharam, registraram fissuras, ou se deslocaram, supostamente por falhas na 
  drenagem de canais que não suportaram chuvas fortes.
  Todos 
  os demais trechos tocados pela iniciativa privada tiveram os preços aumentados 
  em até 25%, limite fixado pela lei de licitações.
Novos 
  editais
  
  Só 
  neste mês, o Ministério da Integração Nacional lança 
  quatro novos editais para a licitação de R$ 2 bilhões em 
  obras. Até junho, outros dois editais serão lançados, ao 
  custo estimado em R$ 645 milhões. O total é superior ao previsto 
  pelo ministro Fernando Bezerra Coelho menos de três meses atrás, 
  quando revelou ao Estado que a obra custaria R$ 1,2 bilhão extra.
  Responsável 
  pela obra, o Ministério da Integração atribuiu o aumento 
  do custo da obra a adaptações no empreendimento, em decorrência 
  do detalhamento dos projetos. As obras começaram de forma apressada, 
  sem os respectivos projetos executivos. Além disso, segundo o ministério, 
  "a forte demanda" sobre a construção civil e a construção 
  pesada pressionou os custos.
  No 
  mesmo período em que o preço da transposição aumentou 
  71%, os custos da construção civil no Brasil cresceram 6,9%. No 
  Nordeste, local da obra, os custos cresceram 7,2%.
O 
  Ministério do Planejamento, que coordena o PAC, autorizou o aumento do 
  custo da obra. "Os aditivos são explicados pelo avanço dos 
  projetos executivos, que têm identificado, com maior grau de precisão, 
  as intervenções necessárias para a completude (sic) do 
  projeto de interligação (sic) do São Francisco", informou 
  em nota a assessoria da ministra Miriam Belchior.
  O 
  início das obras, em 2007, sem o projeto executivo, não seria 
  um caso único entre os projetos do PAC, continua a nota, que classifica 
  o projeto como "estratégico, desafiador e fundamental" para 
  390 cidades dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande 
  do Norte.
  O 
  Ministério da Integração evita criticar abertamente o início 
  das obras sem um projeto detalhado porque isso aconteceu sob a gestão 
  do então ministro Ciro Gomes, correligionário no PSB do atual 
  ministro Fernando Bezerra e padrinho do novo secretário de recursos hídricos 
  da pasta, Francisco Teixeira, principal executivo da transposição. 
  No início das obras, Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, 
  era citada como a "mãe" do PAC.
  Segundo 
  o Ministério da Integração, é responsabilidade das 
  empreiteiras já contratadas recuperar cerca de 900 metros de canais de 
  concreto danificados antes mesmo de entrarem em uso. "Essas falhas serão 
  refeitas, sem custo adicional para os cofres públicos", reiterou 
  a pasta, referindo-se a trechos deteriorados dos canais, revelados pelo Estado, 
  no final do ano passado.
No início deste ano, outros 240 metros do canal foram danificados no Ceará por causa das "fortes chuvas" em Mauriti. O ministério contabiliza que 150 quilômetros foram concretados até o momento.
Fonte: 
  UNISINOS/ARUANDA AMBIENTE 23.03.2012
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Quando 
  jegues perdem para motocicletas...
  Washington 
  Novaes
Durante 
  a semana passada, com a realização do Fórum Mundial da 
  Água em Marselha, na França, a comunicação bombardeou 
  os leitores/espectadores com uma pletora de informações a esse 
  respeito – que tranquilizam, por alguns ângulos, e inquietam, por 
  outros.
  
  Uma 
  pesquisa da Universidade de Twente, na Holanda, por exemplo, diz que o mundo 
  consome 9 trilhões de metros cúbicos de água por ano – 
  20% dos quais estão embutidos em produtos exportados (o que faz do Brasil 
  grande “exportador virtual” de água).
  
  Já 
  a ONU informou que em duas décadas mais 2 bilhões de pessoas passaram 
  a ter acesso a água de boa qualidade; com isso se reduziu à metade 
  a parcela da população desfavorecida; agora, segundo o Fundo das 
  Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização 
  Mundial de Saúde, 89% das pessoas (6,1 bilhões de pessoas) dispõem 
  de água potável; e 11% (785 milhões) não a têm.
  
  Já 
  no saneamento a situação continua dramática: 3,5 bilhões 
  não têm suas casas ligadas a redes de esgotos. Mas nas áreas 
  rurais dos países mais pobres 97% não têm água canalizada. 
  A cada ano morrem no mundo 1,5 milhão de crianças (4,5 mil por 
  dia) vitimadas por doenças transmitidas pela água, principalmente 
  diarréias.
  
  Mas 
  há notícias boas, como a de que se conseguiu em uma década 
  economizar na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) – 
  quase 20 milhões de pessoas – cerca de 14 bilhões de litros 
  mensais de água com programas de combate a perdas (vazamentos e furtos), 
  que eram de 32% do total de água posta à disposição 
  pelas estações de tratamento; hoje as perdas estão em 25,6% 
  e se pretende chegar em 2019 a entre 10% e 15%, com investimentos de R$ 4,3 
  bilhões (Estado, 1.º/3). É uma situação muito 
  melhor que a média brasileira nas cidades, onde as perdas estão 
  próximas de 40% do total.
Na 
  RMSP a disponibilidade de água é de 146 mil litros anuais por 
  habitante (400 litros/dia). Mesmo se reduzirmos as perdas a 15%, ainda estaremos 
  longe do Japão (que nos está fornecendo tecnologia), onde essa 
  perda é de 3%.
  Aqui, 
  um dos dramas está na extensão das redes – 32,7 mil km na 
  RMSP. Mas é uma questão vital, porque a região metropolitana 
  só dispõe de 1,6% da água do País. E mesmo assim 
  com água “viajando” até 120 km, como no sistema Cantareira.
  
  Já 
  no saneamento básico a situação brasileira continua constrangedora, 
  como se tem comentado neste espaço. Só 45,7% da população 
  (IBGE) têm suas casas conectada a redes de esgotos e, do que é 
  coletado, apenas 37,9% recebem algum tipo de tratamento, em geral primário, 
  que devolve aos rios metade da carga orgânica e não trata da poluição 
  secundária e terciária. Ou seja, poluímos os cursos d’água 
  com mais de metade dos 9,3 bilhões de litros de esgotos gerados a cada 
  dia. Fossas sépticas em pouco mais de 50% das residências amenizam 
  a situação; 2.495 municípios não dispõem 
  de sistemas de esgotos.
  
  Na 
  Região Norte do País, a situação é dramática: 
  só 13,5% da população conta com rede de esgotos. No Nordeste, 
  33,8%. Só 30% das obras do PAC nesse setor foram concluídas. E 
  a Agência Nacional de Águas (ANA) pede investimentos de R$ 22,1 
  bilhões em cinco anos nas infraestruturas para que não falte água 
  na maioria dos municípios em 2025.
  
  Com 
  todos esses dramas, o governo federal continua a garantir que o projeto de transposição 
  de águas do Rio São Francisco – paralisado em tantos lugares, 
  apesar do aumento dos custos – resolverá o problema do abastecimento 
  de água no semiárido. Quando, desde o estudo de impacto ambiental, 
  foi afirmado que 70% da água transposta iria para irrigação 
  em grandes projetos de exportação, 26% para uso industrial e só 
  4% para a chamada “população difusa” – ainda 
  assim, reforçando o abastecimento em cidades que chegam a desperdiçar 
  até 70% da água que distribuem. Mais ainda, a F undação 
  Getúlio Vargas calcula o custo da água no Eixo Leste em R$ 0,13 
  por metro cúbico, quando a média nacional é de R$ 0,02.
  
  Em 
  certos momentos, a impressão é de que se reserva para o Nordeste 
  certa cota de notícias indesejáveis. Uma delas é na área 
  do abastecimento de comunidades isoladas, aonde não chegará água 
  da transposição. Há muitos anos uma coligação 
  de ONGs – chamada de Articulação do Semiárido – 
  vem instalando nesses locais as chamadas cisternas de placa, com revestimento 
  de concreto para impedir que se infiltre na terra a água de chuvas recolhida 
  nos telhados e para elas canalizada.
  
  Cada 
  cisterna consegue abastecer com 20 litros diários cada pessoa de uma 
  família, na estiagem. Ao custo de pouco mais de R$ 1 mil por unidade, 
  já foram construídas mais de 300 mil e é preciso implantar 
  outras centenas de milhares. Pois bem, há poucas semanas o governo federal 
  anunciou que substituiria as cisternas de placa por cisternas de plástico, 
  muito mais caras (R$ 5 mil cada).
  
  E 
  algumas das primeiras instaladas, com três meses ao sol, já se 
  estão derretendo (texto e fotos de Roberto Malvezzi/CPT, 5/3), quando 
  tinham “garantia” de 15 anos. O governo federal já recuou 
  de 300 mil para 60 mil cisternas de plástico e assegura que o derretimento 
  foi apenas um “acidente” já resolvido – mas ainda não 
  faz sentido. Sem falar que poderia optar também pelas minibarragens desenvolvidas 
  pela Embrapa Sete Lagoas.
  
  Não 
  bastasse, o Ministério da Agricultura pensa agora em liberar variedades 
  de mandioca resistentes ao glifosato (usado com transgênicos), quando 
  a mandioca, a mais brasileira das variedades de alimento, mais adaptada aos 
  nossos solos, não costuma precisar nem de fertilizantes nem de agrotóxicos.
  
  Devem 
  estar estimulados por tantos descaminhos produtores nordestinos que decidiram 
  agora vender à China 300 mil jegues por ano, para serem abatidos pelas 
  indústrias de cosméticos e alimentos (remaatlantico, 7/3). Dizem 
  os exportadores que não há mais lugar para jegues, substituídos 
  no sertão por motocicletas.
Glauber Rocha, lá do seu canto, deve estar pensando que o sertão vai mesmo virar mar e o mar vai virar sertão.
(Fonte: O 
  Estado de S. Paulo) - 22.03.12
  [Topo] 
   
  
 A 
  água novamente entre a vida e a morte 
  
  O 
  Conselho Mundial da Água, liderado por empresas como Veoliam, Suez, Coca 
  Cola, Monsanto e outras grandes transnacionais desenvolveu uma visão 
  muito sofisticada da água, uma visão que está fundamentada 
  no conceito de que ela é um bem mercantil necessário para a vida 
  e a ecologia, funcional aos direitos humanos e à sobrevivência 
  e, portanto...um grande negócio. Como é possível que o 
  Fórum Mundial da Água negue-se a reconhecer o direito humano à 
  água e ao saneamento? O artigo é de Elizabeth Beltrán.
  Elizabeth Peredo Beltrán (*) - Alai-Amlatina 
  Passaram-se já 15 anos da primeira edição do Fórum 
  Mundial da Água e 20 da Declaração do Rio. Durante esses 
  anos, o Conselho Mundial da Água, liderado por empresas como Veoliam, 
  Suez, Coca Cola, Monsanto e outras grandes transnacionais desenvolveram uma 
  visão muito sofisticada da água, uma visão que está 
  fundamentada no conceito de que água é um bem mercantil necessário 
  para a vida e a ecologia, funcionais aos direitos humanos e à sobrevivência 
  e, portanto...um grande negócio.
Em todo esse período, ao invés de melhorar o cuidado com as fontes e aquíferos em todo o mundo a situação piorou substancialmente. Os equilíbrios ecológicos necessários para a sobrevivência e a fluidez do ciclo hidrológico foram rompidos como nunca havia acontecido, devido aos processos de agroindústria em larga escala, contaminação mineradora e projetos de energia baseados na construção de enormes hidroelétricas, entre outras causas. As empresas, por sua vez, estão buscando cada vez ganhar mais terreno da gestão pública e seguem ocorrendo debates entre gestores públicos e empresários diplomáticos corporativistas que tentam nos convencer de que o papel do setor privado é absolutamente necessário para a gestão da água.
Nestes debates e acordos de governança global da água pretende-se deslegitimar a gestão pública e fortalecer o conceito que foi desenvolvido pelo Consenso de Washington: o desenvolvimento e o cumprimento dos objetivos do Milênio só serão possíveis se existir um forte investimento privado; portanto, o desenvolvimento, os direitos humanos e os equilíbrios ecológicos estão ligados à sorte do mercado.
Este princípio permitiu construir um sistema especulativo de alto voo que agora é reforçado com o desenvolvimento da economia verde que é mais do mesmo, mas concebido para criar mercados especulativos coloridos com uma tinta verde acrescentada para dar a sensação de que se está protegendo o planeta e com a intenção de mercantilizá-lo todo; não só a água que tomamos e até o ar que respiramos, mas inclusive o futuro do planeta. Ainda que pareça ficção científica, isso é possível assim como foi possível que desde este Fórum tenham surgido soluções técnicas e corporativas escandalosas há alguns anos e que agora estão sendo colocadas em prática.
Em Haia, o Fórum Mundial da Água de 2003 se propôs incentivar a criação de sementes transgênicas para “poupar água”, sob o diagnóstico de que a agricultura é a atividade que consome mais água em todo o mundo. Na época, os ativistas da água reclamaram que esta solução podia se constituir em um crime que poderia afetar a saúde de todo o mundo e lançaram campanhas para evitar as sementes transgênicas e incluir o princípio de precaução nestas tecnologias. Hoje, as sementes transgênicas são parte do comércio mundial de alimentos e suas tecnologias e insumos. Nesta semana a Argentina apresentou ao mundo com orgulho o patenteamento de uma nova semente transgênica capaz de “poupar” água na produção de trigo, milho e soja em nível mundial.
As coisas vão mal porque deixaram as decisões mais importantes sobre a vida e sobre o planeta nas mãos das corporações e de governos poderosos e desenvolvimentistas que, baseados no princípio de que tudo se compra, se paga, se vende ou se repara pagando, levaram até os limites a impossibilidade de construir uma sociedade solidária, protetora do meio ambiente e, sobretudo, respeitosa de um bem sagrado para a vida como é a água.
O Fórum Mundial da Água se negou sistematicamente a apoiar em suas declarações o Direito Humano à Água e ao Saneamento. No Fórum Mundial da Água do México, em 2006, foram apenas quatro os países que assinaram uma declaração minoritária exigindo o direito humano à água, entre eles Uruguai e Bolívia. No entanto, nas Nações Unidas, há dois anos não houve nem um só voto contra a Resolução 64/292 declarando o Direito Humano à Água e ao Saneamento. Os países que se opunham a ela só puderam se abster de votar, mas não explicitar sua negativa a um evidente consenso gerado pelos povos e pelos países que sabem que esse é um direito inalienável para a humanidade.
Como 
  é possível que, sistematicamente, o FMA se negue a reconhecer 
  esse direito e que, na ONU, ele tenha sido aprovado sem oposição 
  há dois anos?
  Sendo que são os mesmos países que fazem parte das declarações 
  ministeriais, por um lado, e das resoluções e conferências, 
  por outro. Por que é que agora que ocorreu esse passo tão importante 
  na ONU, o FMA não avança, mas, ao contrário, busca retroceder 
  e diminuir as possibilidades de implementação do direito humano 
  à água, favorecendo os processos de privatização? 
  Mais do que isso, agora o FMA está decididamente disposto a incluir a 
  água em “todas as suas dimensões econômicas, sociais 
  e ambientais em um marco de governança, financiamento e cooperação”...como 
  afirma sua declaração emitida ontem, apesar do protesto de alguns 
  países.
Enquanto isso, milhares, senão milhões de experiências e iniciativas de gestão social e solidária, experiências exitosas de gestão pública, são implementadas com base no conceito de que água é um bem comum, um bem não mercantil para a vida.
As 
  políticas e visões promovidas pelo Fórum Mundial da Água 
  não estão à
  altura dos desafios colocados diante do planeta e da humanidade. Pelo contrário, 
  estão condenando a gestão da água a seu manejo pelos poderes 
  corporativos incapazes de priorizar a vida, preocupados mais em extrair lucros 
  de qualquer parte, por sistemas financeiros, especulativos e sistemas de litígios 
  corporativos cobiçados nas instituições financeiras internacionais.
Considerando o extremo esgotamento dos recursos e o desequilíbrio ecológico produzido no planeta é indispensável que a governabilidade da água fique fora das mãos do Conselho Mundial da Água e seja construída a partir de consensos dos cidadãos, dos povos e do interesse público. É por isso que os movimentos sociais reunidos em Marselha estão propondo que a ONU convoque um Fórum Global da Água que possibilite escutar as vozes das pessoas para pensar a água como um bem para a vida. As organizações sociais estão pedindo que sejam reforçados os sistemas locais e que se contribua para um exercício de vigilância social para assegurar que seu manejo seja social, democrático e solidário.
Diz-se, não sem razão que “milhares viveram sem amor, mas ninguém viveu sem água” (Auden). Nós acrescentamos, a partir deste Fórum, “sem amor, empatia e solidariedade, será impossível assegurar que a água chegue limpa e pura para todos”.
(*) Elizabeth Peredo é psicóloga social, escritora e ativista pela água, cultura e contra o racismo. Escrito para o Fórum Alternativo Mundial da Água, Marselha, 2012.
Tradução: 
  Marco Aurélio Weissheimer 
  Fonte: CARTA MAIOR/Aruanda Ambiente 14.03.12
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"O mundo desenvolvido vive às custas do Sul"
A criação de uma Corte Penal Internacional do Meio Ambiente seria um passo para a justiça ecológica. Puniria os responsáveis pelos danos à natureza, que até hoje são impunes.
A proposta, agora publicada em livro, é do pacifista argentino Adolfo Pérez Esquivel na Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os direitos da Mãe Terra, realizada na Bolívia em 2010. A proposta inclui ainda a criação de tribunais regionais.
Esse 
  discurso do Prêmio Nobel da Paz 1980 é publicado pela primeira 
  vez em "Fome de Justiça, perspectivas para a superação 
  da pobreza". Neste livro, vinte personalidades latinoamericanas e européias, 
  inclusive suíças, refletem sobre as questões atuais.
  
  A publicação também apresenta a ABAI, organização 
  de ajuda fundada há 30 anos no Brasil pela suíça Marianne 
  Spiller-Hadorn. "Fome de Justiça resulta de um movimento mundial 
  de resistência contra um modo de vida e de economia que só cria 
  pobreza, concentra riqueza e destrói as bases fundamentais da vida", 
  explica à swissinfo.ch. 
Desenvolvimento não é só crescimento econômico
A mudança climática é a prova mais clara 
  de que a Terra está ferida e doente. "Enquanto os países 
  do norte são em grande parte responsáveis da atual crise alimentar 
  e climática, os países do sul carregam o maior fardo", denuncia 
  Pérez Esquivel no livro.
  
  Ele também critica os governos dos países do sul por não 
  terem uma política própria, independente dos centros de poder 
  econômico e político e questiona o conceito de desenvolvimento. 
  "Muitos o reduzem à dimensão econômica, ao crescimento 
  ilimitado da produção e do consumo. Porém este modelo capitalista 
  e neoliberal converte o desenvolvimento em pura exploração do 
  sul pelo norte, dentro de uma ordem econômica injusta."
  
  Para sair desse paradigma, Pérez Esquivel propõe "se inspirar 
  na cosmovisão dos povos indígenas que internalizaram o vínculo 
  com a Mãe Terra."
  
  Os direitos da natureza foram reconhecidos na Constituição do 
  Equador em 2008. O presidente boliviano Evo Morales lançou a iniciativa 
  para redigir a "Declaração Universal dos Direitos da Mãe 
  Terra", que Pérez Esquivel incita a apoiar. 
  Protocolos e soluções falsas
Uma consequência do culto ao consumo é a mudança 
  climática. Aqui o norte tem uma dívida com sul, mas não 
  está disposto a pagar, como demonstram os Protocolos de Copenhague, Rio 
  e Kioto, afirma Pérez Esquivel.
  
  "O objetivo do norte é explorar todos os recursos para manter seu 
  nível de vida e consumo. Nenhum desses países cumpre os objetivos 
  do Protocolo de Kioto. Um exemplo extremo é Estados Unidos."
  
  Esses países promovem ainda soluções equivocadas como o 
  mercado de CO2, mecanismo que só estabeleceu o direito de poluir. O norte 
  não reduziu seus níveis de poluição. Estes supostamente 
  seriam compensados com o financiamento de projetos no sul, que ao final só 
  criam novos problemas sociais e catástrofes ambientais, sublinha.
  
  É por isso que o Nobel da Paz insiste em criar uma Corte Internacional 
  do Meio Ambiente. "Os povos devem ter a possibilidade de agir diretamente 
  nessa instância. Com ela acabaria a impunidade das multinacionais que 
  se apoderam de bens comuns."
  ‘Swissness’ na cooperação
Existe alguma particularidade (swissness) na forma como a Suíça 
  apoia projetos de cooperação internacional? Richard Gerster, consultor 
  em questões norte-sul e ex-diretor da ong Aliança Sul considera 
  que sim e cita três elementos: "A escolha de aspectos essenciais 
  baseada no que a Suíça conhece bem – sua tradição 
  federalista, sua sociedade civil, sua formação profissional prática 
  – sua preferência por regiões montanhosas e seu compromisso 
  com questões financeiras e ambientais."
  
  Swissness também significa colocar a parceria no centro, dar-lhe prioridade 
  e promover suas capacidades pessoais e profissionais. Dar destaque a valores 
  como precisão e escrúpulos, ponderar o caminho até atingir 
  a meta, o processo, segundo Gerster.
  Ponto fraco é a coerência
No 
  entanto, segundo Gerster, falta coerência à Suíça 
  em sua política para América Latina, África e Ásia. 
  "É incoerente ajustar a política exterior a vantagens econômicas 
  a curto prazo."
  
  Nos anos 1990, o governo suíço definiu cinco objetivos fundamentais 
  de sua política externa: proteger e promover a paz e a segurança; 
  impulsionar os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito; fomentar 
  o bem-estar; reduzir as desigualdades sociais e proteger os fundamentos de vida 
  natural. Esses objetivos foram abandonados no recente informe sobre política 
  exterior, critica Gerster.
  
  O caso do cacau ilustra o papel ambíguo e contraditório da Suíça: 
  Gana é o maior exportador do grão, mas não processa o cacau. 
  O grão não processado não tem barreiras alfandegárias. 
  Um chocolate produzido em Gana, paga um imposto de mais de 50 francos por 100 
  quilos. Por um lado, limita-se a indústria de Gana; por outro, a cooperação 
  ao desenvolvimento tenta contribuir a criar trabalho e faturamento.
  
  O fato de que neste livro se exprimam personalidades do norte e do sul indica 
  que devemos falar mais uns com os outros, afirma seu editor, Thomas Gröbly.
  
  "É injusto quando alguém vive à custa dos outros", 
  destaca o professor de ética. "Uma injustiça que impera na 
  relação norte-sul e em toda sociedade. Por isso, levar a sério 
  a sede de justiça significa instituir uma economia e condições 
  de comércio justas, sociais e ecológicas, mesmo que quando isso 
  vai contra nossos interesses."

ABAI também integrou homens, que hoje participam ativamente do projeto. (Fridolin Walcher und Michaela Hahn, Glarus Süd )
  
  
  
  Rosa Amelia Fierro, swissinfo.ch 
  Adaptação: Claudinê Gonçalves 
  Revisão: Aruanda Ambiente
27.11. 2011
saiba mais sobre o livro em Resenhas
Uma lei de responsabilidade sócio-ambiental?
Leonardo Boff
 
   Já 
  existe a lei de responsabilidade fiscal. Um governante não pode gastar 
  mais do que lhe permite o montante dos  impostos recolhidos. Isso melhorou 
  significativamente a gestão pública.
Já 
  existe a lei de responsabilidade fiscal. Um governante não pode gastar 
  mais do que lhe permite o montante dos  impostos recolhidos. Isso melhorou 
  significativamente a gestão pública.
  
  O acúmulo de desastres socioambientais ocorridos nos últimos tempos, 
  com desabamentos de encostas, enchentes avassaladoras e centenas de vítimas 
  fatais junto com a destruição de inteiras paisagens, nos obrigam 
  a pensar na instauração  de uma lei nacional de responsabilidade 
  socioambiental, com pesadas penas para os que não a respeitarem.
  
  Já se deu um passo com a consciência da responsabilidade social 
  das empresas. Elas não podem pensar somente em si mesmas e nos lucros 
  de seus acionistas. Devem assumir uma clara responsabilidade social. Pois não 
  vivem num mundo à parte: são inseridas  numa determinada 
  sociedade, com um Estado que dita leis, se situam num determinado ecossistema 
  e são pressionadas por uma consciência cidadã que cada vez 
  mais cobra o direito à uma boa qualidade de vida.
  
  Mas fique claro: responsabilidade social não é a mesma coisa que 
  obrigação social prevista em lei quanto ao pagamento de impostos, 
  encargos e salários; nem pode ser confundida com a resposta social que 
  é a capacidade das empresas  de se adequarem às mudanças 
  no campo social, econômico e técnico. 
  A responsabilidade social é a obrigação que as  empresas 
  assumem de buscar metas que, a médio e longo prazo, sejam boas para elas 
  e também  para o conjunto da sociedade na qual estão inseridas.
  Não se trata de fazer para a sociedade o que seria filantropia, mas com 
  a sociedade, se envolvendo nos projetos elaborados em comum com os municípios, 
  ONGs e outras entidades.
  
  Mas sejamos realistas: num regime neoliberal como o nosso,  sempre que 
  os negócios não são tão rentáveis, diminui 
  ou até desaparece a responsabilidade social. O maior inimigo da responsabilidade 
  social é o capital especulativo. Seu objetivo é maximizar os lucros 
  das carteiras e portofólios que controlam. Não vêem outra 
  responsabilidade, senão a de garantir ganhos.
  
  Mas a responsabilidade social é insuficiente, pois ela não inclui 
  o ambiental. São poucos os que perceberam a relação do 
  social com o ambiental. Ela é intrínseca. Todas empresas e cada 
  um de nós vivemos no chão, não nas nuvens: respiramos, 
  comemos, bebemos, pisamos os solos, estamos expostos à mudanças 
  dos climas, mergulhados na natureza com sua biodiversidade, somos habitados 
  por bilhões de bactérias e outros microorganismos. Quer dizer, 
  estamos dentro da natureza e somos parte dela. Ela pode viver sem nós 
  como o fez por bilhões de anos. Nós não podemos viver sem 
  ela. Portanto, o social sem o ambiental é irreal. Ambos vêm  
  sempre juntos.
  
  Isso que parece óbvio, não o é para a grande parte das 
  pessoas. 
  Por que excluimos a natureza? Porque somos todos antropocêntricos, quer 
  dizer, pensamos apenas em nós próprios. A natureza é exterior, 
  posta ao nosso bel-prazer.
  Somos irresponsáveis face à natureza quando desmatamos, jogamos 
  bilhões de litros de agrotóxicos no solo, lançamos na atmosfera, 
  anualmente, cerca de 21 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, 
  contaminamos as águas, destruímos a mata ciliar, não respeitamos 
  o declive das montanhas que podem desmoronar e matar pessoas nem observamos 
  o curso dos rios que nas enchentes podem levar tudo de roldão.
  Não interiorizamos os dados que biólogos e astrofísicos 
  nos asseguram: Todos possuímos o mesmo alfabeto genético de base, 
  por isso somos todos primos e irmãos e irmãs e formamos assim 
  a comunidade de vida. Cada ser possui valor intrínseco e por isso tem 
  direitos. Nossa democracia não pode incluir apenas os seres humanos. 
  Sem os outros membros da comunidade de vida, não somos nada. Eles valem 
  como novos cidadãos que devem ser incorporados na nossa compreensão 
  de democracia que então passa a ser uma democracia socioambiental. A 
  natureza e as coisas dão-nos sinais. Elas nos chamam a atenção 
  para os eventuais riscos que podemos evitar.
  
  Não basta a responsabilidade social, ela deve ser sócioambiental. 
  É urgente que o Parlamento vote uma lei de responsabilidade socioambiental 
  imposta a todos os gestores da coisa pública. Só assim evitaremos 
  tragédias e mortes.
26.01.11
  [Topo] 
   
   
 
  "...não é nada fácil, 
  ainda mais no contexto de sociedades abertas e dinâmicas, que conseguem 
  burlar cotidianamente as leis estabelecidas para ordenar o uso dos solos."
JOSÉ 
  AUGUSTO PÁDUA
  
  
  
  
  
  
  Ao ver as imagens recentes de encostas desabando, pontes caindo e águas 
  invadindo o interior de tantas casas e vidas, não pude deixar de pensar, 
  até por ranço de historiador, que cenas semelhantes vêm 
  se repetindo desde os primórdios do longo e difícil processo de 
  construção do que hoje chamamos de território brasileiro. 
  Basta lembrar que São Vicente [no litoral paulista], a primeira povoação 
  oficialmente criada na América portuguesa, teve seu núcleo urbano 
  destruído por uma combinação de tempestades e ressacas 
  em 1541. O mar tragou a Casa do Conselho, a fortaleza e a igreja matriz, edificadas 
  sobre solos arenosos. 
  Antes disso, o porto da ilha de São Vicente já sofria com o assoreamento 
  provocado pelas enxurradas que desciam as encostas parcialmente desmatadas pelas 
  primeiras plantações. Em uma carta de 1560, escrita naquela região, 
  o padre José de Anchieta descreveu uma tempestade que "abalou as 
  casas, arrebatou os telhados e derribou as matas". 
Paradoxo 
  da modernidade
  É claro que não se pode estabelecer uma sequência simples 
  entre esse passado longínquo e as tragédias que ocorrem diante 
  dos nossos olhos. Mas a história é sempre um jogo de continuidades 
  e descontinuidades. 
  O contexto atual é muito diferente em termos de tamanho dos assentamentos 
  e de complexidade dos meios tecnológicos. O litoral brasileiro está 
  hoje inserido, mesmo que de forma desigual, no que Patrick Lagadec [diretor 
  de pesquisas na Escola Politécnica de Paris, na França] chamou 
  de "civilização do risco". Um paradoxo da modernidade. 
  
  Em certos aspectos, o mundo urbano-industrial fornece mais segurança 
  do que no passado. 
  Em outros, ele é incomparavelmente mais arriscado. 
  Sua densidade, suas escalas e sua alta dependência de energia são 
  também as causas da sua fragilidade. Foi significativo o temor de que 
  os desabamentos inviabilizassem o plano de evacuação da usina 
  nuclear de Angra [dos Reis]... 
  No século 16, no entanto, alguns elementos já estavam aqui presentes: 
  as encostas, as matas e os aguaceiros tropicais. 
  E também a dificuldade humana em reconhecer que nossa vida é, 
  de fato, um jogo permanente com forças naturais que não criamos, 
  e cujos movimentos não dependem do nosso arbítrio. Hoje, sabemos 
  que a Terra é um planeta antigo, poderoso e muito diversificado. 
  Sua existência se funda em ciclos biogeoquímicos que movimentam 
  fluxos de matéria e energia muito superiores aos que nossa tecnologia 
  é capaz de produzir. 
Medidas 
  urgentes
  Em cada região existem realidades específicas com as quais interagir. 
  Daí o tema fundamental da "localização" (que 
  ganha mais importância no mundo da "globalização"). 
  
  É preciso superar a tradição arrogante de construir espaços 
  sociais sem atenção à realidade natural através 
  da qual existimos. A sustentabilidade consciente requer que as sociedades se 
  territorializem de maneira ecologicamente inteligente. 
  Algo que, por certo, não é nada fácil, ainda mais no contexto 
  de sociedades abertas e dinâmicas, que conseguem burlar cotidianamente 
  as leis estabelecidas para ordenar o uso dos solos. 
  A desocupação das áreas de risco, porém, não 
  pode mais ser adiada. 
  As florestas representam a melhor proteção das encostas, e sem 
  elas o desastre seria incomensurável. É preciso que a sociedade 
  defenda o Código Florestal das forças políticas retrógradas 
  que o atacam no Congresso Nacional. 
  As áreas de preservação permanente e de reserva legal, 
  determinadas pelo código, são essenciais para estimular um modelo 
  de desenvolvimento cuidadoso e tecnologicamente intensivo (superando a velha 
  tradição de crescimento horizontal e devastador). 
  Em regiões de forte densidade urbana, especialmente, as áreas 
  de preservação permanente (vegetação que protege 
  os recursos hídricos, a estabilidade geológica etc.) devem ser 
  consideradas um pressuposto da segurança coletiva. 
  Aqui é preciso levar em conta um problema que também se observa 
  na Amazônia. As florestas parcialmente exploradas, mesmo por um número 
  limitado de atividades, perdem grande parte da sua capacidade sistêmica 
  de estabilizar solos e reter umidade. As áreas de preservação 
  permanente, portanto, necessitam ser respeitadas na sua totalidade. 
  As intervenções de engenharia geotécnica, por outro lado, 
  precisam ser democráticas, suplantando a prática elitista de concentrá-las 
  nas áreas habitadas pelos mais ricos. 
  A existência de "zonas de sacrifício", onde se considere 
  normal que populações pobres convivam com espaços degradados 
  e de grande risco, dotados de baixíssimo investimento público, 
  constitui uma injustiça ambiental inaceitável no contexto de uma 
  ordem verdadeiramente republicana. 
  A adoção de boas políticas e práticas, diante dos 
  problemas específicos que estão sendo tratados aqui, pode ser 
  vista como um aprendizado coletivo para o futuro. A tendência geral é 
  que nossa vida no planeta se torne cada vez mais difícil nas próximas 
  décadas, com o avanço das mudanças climáticas. 
  É bom começar a tratar do assunto com a maior seriedade. 
  Se não aprendermos a enfrentar problemas climáticos com os quais 
  convivemos há séculos, como agiremos diante dos riscos bem maiores 
  que se delineiam no horizonte? 
 
  JOSÉ AUGUSTO PÁDUA é professor de história na Universidade 
  Federal do Rio de Janeiro e autor de "Um Sopro de Destruição 
  - Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista" 
  (ed. Zahar), entre outros livros. 
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São 
  Paulo terá conflito por água em 2020 
   
  
  Documento de Secretaria mostra que estado de São Paulo 
  terá conflito por água em 2020
Uma pesquisa da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo mostra que as bacias do Alto Tietê e dos rios Capivari, Jundiaí e Piracicaba serão palco de conflitos causados pela escassez de água no ano de 2020. Os setores industrial, agroeconômico e urbano vão entrar em disputa pelos recursos hídricos se não houver mudança no uso da água dessas bacias. A previsão está no projeto Cenários Ambientais 2020, divulgado nesta quinta-feira (26) pela Secretaria.
“A prospecção do conflito pelo uso da água está calcada nos usos múltiplos, tanto por atividades industriais, como para uso agronômico, como para uso urbano. A demanda por recursos hídricos tende a aumentar não só do ponto de vista inercial, mas a partir do crescimento da atividade econômica também cresce a demanda hídrica, você passa a ter um conflito não só entre bacias em função da transposição entre bacias, mas também entre os setores que usam aquele recurso hídrico”, destaca Casemiro Tércio dos Reis Lima Carvalho, coordenador da área de Planejamento Ambiental da secretaria.
Atualmente, as bacias dos rios Capivari, Jundiaí e Piracicaba transpõem água para a Bacia do Alto Tietê, região bastante industrializada. A área do Alto Tietê, hoje, tem deficit de 80% de recursos hídricos, suprido, em parte, pelas águas transpostas pelo Capivari, Jundiaí e Piracicaba. “Quando os três começarem a demandar mais esse bem, ele tende a não transpor para o Alto Tietê”, explica Tércio.
O conflito em 2020 pelo uso de água nas bacias é considerado como um cenário de referência pela pesquisa, situação mais provável de ocorrer, de acordo com o estudo.
“O que temos que fazer para impedir isso é traçar políticas de economicidade dos recursos hídricos. Temos de ter uma estrutura de economia de água, como na construção civil sustentável, ter projetos com ciclos fechados industriais, seguindo a nova ecologia industrial”, ressalta Tércio.
Para 
  a identificação dos cenários futuros foram consultados 
  mais de 5 mil pessoas e 200 especialistas de diversas áreas. A condução 
  do projeto esteve a cargo da Coordenadoria de Planejamento Ambiental da Secretaria 
  do Meio Ambiente. 
  
  Por Bruno Bocchini, da Agência Brasil - 27/11/2009 
  
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Nove 
  limites da Terra para evitar mudanças catastróficas  
  
  Quanta alteração e tensão pode aguentar 
  o sistema Terra devido à ação da espécie humana 
  sem sofrer mudanças catastróficas? 
  
  Muito se fala a respeito, mas até agora pouco se avançou na definição 
  quantificada dos limites que suporta o planeta. Para assentar pelo menos umas 
  bases científicas a respeito, a partir das quais se possam medir os riscos, 
  uma equipe científica internacional identificou nove fronteiras planetárias 
  “que não devem ser ultrapassadas” se se querem evitar alterações 
  meio ambientais “inadmissíveis”. 
  
  Essas nove fronteiras que se devem respeitar são: a 
  mudança climática, a perda de biodiversidade (terrestre e marinha), 
  as interferências nos ciclos globais do nitrogênio e do fósforo, 
  a destruição da camada de ozônio estratosférica, 
  a acidificação oceânica, o consumo global de água 
  doce, as mudanças no uso da terra, a contaminação química 
  e a concentração atmosférica de aerosóis. Os limites 
  de segurança nos três primeiros parâmetros já foram 
  ultrapassados, afirmam Johan Rockström (Universidade de Estocolmo) e seus 
  colegas na revista Nature.
  
  Os cientistas explicam no seu artigo que “o meio ambiente do planeta foi 
  inusualmente estável durante os últimos 10.000 anos”. Este 
  período de estabilidade (denominado Holoceno), no qual floresceram as 
  civilizações humanas, poderia continuar durante milhares de anos 
  mais, mas agora essa estabilidade está ameaçada, afirmam. “Desde 
  a revolução industrial surgiu uma nova era, o Antropoceno, na 
  qual a atividade humana se transformou no principal motor da mudança 
  ambiental”. Se se força esse motor, as conseqüências 
  podem ser catastróficas para grandes regiões do planeta.
  O objetivo desses pesquisadores é tentar quantificar os limites de segurança 
  além dos quais o sistema Terra não pode continuar funcionando 
  de modo estável, como no Holoceno. Mas eles são conscientes da 
  dificuldade. Admitem que cabe muito debate sobre o que propõem e reconhecem 
  que alguns dos parâmetros e valores que elaboraram não são 
  mais que uma primeira aproximação. Vários artigos de especialistas 
  em diversas áreas (incluído o prêmio Nobel Mario Molina, 
  que se refere à destruição da camada de ozônio) acompanham 
  em Nature o trabalho de Rockström e seus colegas, avaliando suas propostas 
  e parâmetros, todos eles reconhecendo a dificuldade da empreitada. No 
  mesmo sentido se manifesta a própria revista Nature em um editorial.
  
  Para a mudança climática, o parâmetro eleito 
  pela equipe de Rockström é a concentração de dióxido 
  de carbono na atmosfera e as mudanças por ação da radiação 
  (em ambos já se ultrapassaram os valores de segurança). 
  A 
  perda de biodiversidade - também com a fronteira ultrapassada- 
  se pode medir pela taxa de extinção (número de espécies 
  perdidas por milhão de espécies por ano). 
  A quantidade de nitrogênio atmosférico fixado 
  para sua utilização humana em agricultura (em milhões de 
  toneladas por ano) e a quantidade de fósforo vertido ao oceano mundial 
  (milhões de toneladas pró ano), são os parâmetros 
  para quantificar seus ciclos. 
  O resto das fronteiras se podem medir pela concentração 
  de ozônio, a acidez das águas oceânicas, 
  o consumo humano de água doce (quilômetro cúbico 
  por ano), a porcentagem de superfície global transformado em 
  cultivos (uso da terra), a concentração de partículas 
  na atmosfera e a quantidade de contaminantes (vários 
  compostos e valores).
  Na mudança climática induzida pela atividade humana, 
  os cientistas lembram em seu artigo que há um consenso entre os especialistas 
  sobre que superar os dois graus centígrados de aquecimento sobre a temperatura 
  da época pre-industrial supõe um alto risco que se produzam alterações 
  irreversíveis (perda da camada gelada do planeta, subida acelerada do 
  nível do mar e mudanças abruptas em florestas e selvas, assim 
  como em sistemas agrícolas) e para evitá-lo é preciso limitar 
  a concentração de dióxido de carbono na atmosfera. A fronteira 
  que propõem é de 350 partes por milhão (280 ppm na época 
  pré-industrial) e atualmente esse valor está já em 387 
  ppm.
  Quanto à biodiversidade, esses cientistas lembram que 
  no Antropoceno se está produzindo uma aceleração em massa 
  da perda de espécies. A taxa de extinção, assinalam, não 
  se tinha produzido no planeta Terra desde o último episódio de 
  extinção em massa. Atualmente se estima que a perda de 
  espécies é entre cem e mil vezes superior ao que se consideraria 
  natural. Neste caso a interação entre fatores críticos 
  do meio ambiente terrestre é clara: a mudança climática 
  se vai transformar em um agente fundamental da perda de biodiversidade neste 
  século: até 30% de todas as espécies de mamíferos, 
  aves e anfíbios estarão ameaçadas.
  As fronteiras do planeta que propõem estes pesquisadores “estão 
  intimamente relacionadas”, lembram.
  
  “Não podemos permitir-nos o luxo de concentrar nossos esforços 
  em uma delas isolando-as das outras porque se se ultrapassa uma também 
  as outras estão em sério perigo”.
24.9.09 
  
  
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Objetivos 
  de Desenvolvimento do Milênio
  Em 
  setembro de 2000, os líderes de 189 países se reuniram na Sede 
  das Nações Unidas em Nova York e aprovaram a Declaração 
  do Milênio, um acordo para trabalhar de maneira conjunta para 
  construir um mundo mais seguro, mais próspoero e mais equitativo.
A Declaração se traduziu em um plano de ações que criou 8 objetivos mensuráveis e com limite de tempo a ser alcançado em 2015, conhecidos como
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM):.
Erradicar 
  a pobreza extrema e a fome
  Educação universal 
  Igualdade entre os gêneros 
  Reduzir a mortalidade infantil 
  Melhorar a saúde materna 
  Combater o HIV / AIDS 
  Sustentabilidade do meio ambiente 
  Fomentar uma associação mundial
Leia 
  o informe 2008 dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
  
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 Os 
  limites do capital são os limites da Terra 
  Por Leonardo Boff
Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de uma Terra inteira. Em 1995 já ultrapassávamos em 10% sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. A análise é de Leornado Boff, em seu artigo de estréia como colunista da Carta Maior.
Uma semana após o estouro da bolha econômico-financeira, no dia 23 de setembro, ocorreu o assim chamado Earth Overshoot Day , quer dizer, "o dia da ultrapassagem da Terra". Grandes institutos que acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o consumo da humanidade ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e regeneração do sistema-Terra. Traduzindo: a humanidade está consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele que não existe. O resultado é a manifestação insofismável da insustentabilidade global da Terra e do sistema de produção e consumo imperante. Entramos no vermelho e assim não poderemos continuar porque não temos mais fundos para cobrir nossas dívidas ecológicas.
Esta notícia, alarmante e ameaçadora, ganhou apenas algumas linhas na parte internacional dos jornais, ao contrário da outra que até hoje ocupa as manchetes dos meios de comunicação e os principais noticiários de televisão. Lógico, nem poderia ser diferente. O que estrutura as sociedades mundiais, como há muitos anos o analisou Polaniy em seu famoso livro A Grande Transformação, não é nem a política nem a ética e muito menos a ecologia, mas unicamente a economia. Tudo virou mercadoria, inclusive a própria Terra. E a economia submeteu a si a política e mandou para o limbo a ética.
Até hoje somos castigados dia a dia a ler mais e mais relatórios e análises da crise econômico-financeira como se somente ela constituisse a realidade realmente existente. Tudo o mais é secundarizado ou silenciado.
A discussão dominante se restringe a esta questão: que correções importa fazer para salvar o capitalismo e regular os mercados? Assim poderíamos continuar as usual a fazer nossos negócios dentro da lógica própria do capital que é: quanto posso ganhar com o menor investimento possível, no lapso de tempo mais curto e com mais chances de aumentar o meu poder de competição e de acumulação? Tudo isso tem um preço: a delapidação da natureza e o esquecimento da solidariedade generacional para com os que virão depois de nós. Eles precisam também satisfazer suas necessidades e habitar um planeta minimamente saudável. Mas esta não é a preocupação nem o discurso dos principais atores econômicos mundiais mesmo da maioria dos Estados, como o brasileiro que, nesta questão, é administrado por analfabetos ecológicos.
Poucos são os que colocam a questão axial: afinal se trata de salvar o sistema ou resolver os problemas da humanidade? Esta é constituída em grande parte por sobreviventes de uma tribulação que não conhece pausa nem fim, provocada exatamente por um sistema econômico e por políticas que beneficiam apenas 20% da humanidade, deixando os demais 80% a comer migualhas ou entregues à sua própria sorte. Curiosamente, as vitimas que são a maioria sequer estão presentes ou representadas nos foros em que se discute o caos econômico atual. E pour cause, para o mercado são tidos como zeros econômicos, pois o que produzem e o que consomem é irrelevante para contabilidade geral do sistema.
A crise atual constitui uma oportunidade única de a humanidade parar, pensar, ver onde se cometeram erros, como evitá-los e que rumos novos devemos conjuntamente construir para sair da crise, preservar a natureza e projetar um horizonte de esperança, promissor para toda a comunidade de vida, incluídas as pessoas humanas. Trata-se sem mais nem menos de articular um novo padrão de produção e de consumo com uma repartição mais equânime dos benefícios naturais e tecnológicos, respeitando a capacidade de suporte de cada ecosistema, do conjunto do sistema-Terra e vivendo em harmonia com a natureza.
Milkahil Gorbachev, presidente da Cruz Verde Internacional e um dos principais animadores da Carta da Terra, grupo o qual pertenço, advertiu recentemente: Precisamos de um novo paradigma de civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades. Temos que chegar a um consenso sobre novos valores. Em 30 ou 40 anos a Terra poderá existir sem nós.
A busca de um novo paradigma civilizatório é condição de nossa sobrevivência como espécie. Assim como está não podemos continuar. Na última página de seu livro A era dos extremos diz enfaticamente Eric Hobsbawm: Nosso mundo corre o risco de explosão e de implosão. Tem de mudar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade é a escuridão.
Importa entender que estamos enredados em quatro grandes crises: duas conjunturais – a econômica e a alimentar – e duas estruturais – a energética e a climática. Todas elas estão interligadas e a solução deve ser includente. Não dá para se ater apenas à questão econômica, como é predominante nos dabates atuais. Deve-se começar pelas crises estruturais pois que se não forem bem encaminhadas, tornarão insustentáveis todas as demais.
As crises estruturais, portanto, são as que mais atenção merecem. A crise energética revela que a matriz baseada na energia fóssil que movimenta 80% da máquina produtiva mundial tem dias contados. Ou inventamos energias alternativas ou entraremos em poucos anos num incomensurável colapso.
A crise climática possui traços de tragédia. Não estamos indo ao encontro dela. Já estamos dentro dela. A Terra já começou a se aquecer. A roda começou a girar e nao há mais como pará-la, apenas diminuir sua velocidade ao minimizar seus efeitos catastróficos e ao adaptar-se a ela. Bilhões e bilhões de dólares devem ser investidos anualmente para estabilzar o clima entorno de 2 a 3 graus Celsius já que seu aquecimento poderá ficar entre 1,6 a 6 graus, o que poderia configurar uma devastação gigantesca da biodiversidade e o holocausto de milhões de seres humanos.
De todas as formas, mesmo mitigado, este aquecimento vai produzir transtornos significativos no equilíbrio climático da Terra e provocar nos próximos anos cerca de 150-200 milhões de refugiados climáticos segundo dados fornecidos pelo atual Presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel d'Escoto, em seu discurso inaugural em meados de outubro de 2008. E estes dificilmente aceitarão o veredito de morte sobre suas vidas. Romperão fronteiras nacionais, desestabilizando politicamente muitas nações.
Estas duas crises estruturais vão inviabilizar o projeto do capital. Ele partia do falso pressuposto de que a Terra é uma espécie de baú do qual podemos tirar recursos indefinidamente. Hoje ficou claro que a Terra é um planeta pequeno, velho e limitado que não suporta um projeto de exploração ilimitada..
Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de um Terra inteira. Em 1995 já ultrapassamos em 10% de sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. Mas não chegaremos lá. Resta ainda lembrar que entre 1900 quando a humanidade tinha 1,6 bilhões de habitantes e 2008 com 6,7 bilhões, o consumo aumentou 16 vezes. Se os paises ricos quissessem generalizar para toda a humanidade o seu bem-estar - cálculos já foram feitos - iríamos precisar de duas Terras iguais a nossa.
A crise de 1929 dava por descontada a sustentabilidade da Terra. A nossa não pode mais contar com este fato e com a abundancia dos recursos naturais. Nenhuma solução meramente econômica da crise pode suprir este déficit da Terra. Não considerar este dado torna a análise manca naquilo que é a determinação fundamental e a nova centralidade.
Tudo isso nos convence de que a crise do capital não é crise cíclica. É crise terminal. Em 300 anos de hegemonia praticamente mundial, esse modo de produção com sua expressão política, o liberalismo, destruiu com sua voracidade desenfreada, as bases que o sustentam: a força de trabalho, substituindo-a pela máquina e a natureza devastando-a a ponto de ela não conseguir, sozinha, se auto-regenerar. Por mais estragemas que seus ideólogos vindos da tradição marxiana, keneysiana ou outras tentem inventar saídas para este corpo moribundo, elas não seráo capazes de reanimáa-lo. Suas dores não são de parto de um novo ser mas dores de um moribundo. Ele não morrerá nem hoje nem amanhã. Possui capacidade de prolongar sua agonia mas esgotou sua virtualidadae de nos oferecer um futuro dicernível. Quem o está matando não somos nós, já que não nos cabe matá-lo mas superá-lo, na boa tradição marxiana bem lembrada por Chico Oliveria em sua lúcida entrevista, mas a própria natureza e a Terra.
Repetimos: os limites do capitalismo são os limites da Terra. Já encostamos nestes limites tanto da Terra quanto do capitalismo. A continuar seremos destruídos por Gaia pois ela, no processo evolucionário, sempre elimina aquelas espécies que de forma persistente e continuada ameaçam a todas as demais. Nós, homo sapiens e demens, nos fizemos, na dura expressão do grande biólogo E. Wilson, o Satã da Terra, quando nossa vocação era o de sermos seu cuidador, guardião e anjo bom.
Para onde iremos? Nem o Papa nem o Dalai Lama, nem Barack Obama nem muito menos os economistas nos poderão apontar uma solução. Mas pelo menos podemos indicar uma direção. Se esta estiver certa, o caminho poderá fazer curvas, subir e descer e até conhecer atalhos, esta direção nos levará a uma terra na qual os seres humanos podem ainda viver humananente e tratar com cuidado, com compaixão e com amor a Terra, Pacha Mama, Nana e nossa Grande Mãe.
Esta direção, como tantos outros já o assinalaram, se assenta nestes cinco eixos: (1) um uso sustentável, responsável e solidário dos limitados recursos e serviços da natureza; (2) o valor de uso dos bens deve ter prioridade sobre seu valor de troca; (3) um controle democrático deve ser construído nas relações sociais, especialmente sobre os mercados e os capitais especulativos; (4) o ethos mínimo mundial deve nascer do intercâmbio multicultural, dando ênfase à ética do cuidado, da compaixão, da cooperação e da responsabilidade universal; (5) a espiritualidade, como expressão da singularidade humana e não como monopólio das religiões, deve ser incentivada como uma espécie de aura benfazeja que acompanha a trajetória humana, pois ancora o ser humano e a história numa dimensão para além do espaço e do tempo, conferindo sentido à nossa curta passagem por este pequeno planeta.
Devemos crer, como nos ensinam os cosmólogos contemporâneos, nas virtualidades escondidas naquela Energia de fundo da qual tudo provém, que sustenta o universo, que atua por detrás de cada ser e que subjaz a todos os eventos históricos e que permite emergências surpreendentes. É do caos que nasce a nova ordem. Devemos fazer de tudo para que o atual caos não seja destrutivo mas criativo. Então sobrevivemos com o mesmo destino da Terra, a única casa comum que temos para morar.
* Leonardo Boff é teólogo, escritor, professor emérito de ética da UERJ e membro da Comissão da Carta da Terra.
16.01.09
Na 
  despensa da humanidade
  Há 
  anos o economista francês Bruno Parmentier pesquisa o futuro da alimentação 
O 
  economista Bruno Parmentier está na mira da imprensa. O jornal Le Monde, 
  que dias atrás publicara uma de suas polêmicas entrevistas, "estampou-o" 
  em seu site, na semana passada, com a seguinte chamada:
  "A humanidade caminha para a era da penúria". 
  A afirmação do entrevistado, diretor da École 
  Supérieure d'Agriculture d'Angers (ESA), a mais importante do setor na 
  França, soou apocalíptica na terra dos bons queijos, bons vinhos, 
  bons patês, mas não tão boas recordações de 
  guerras e épocas de vacas magras.
Pois 
  Parmentier tem tirado o apetite dos estrategistas europeus desde que lançou 
  o livro Nourrir la Humanité (Nutrir a Humanidade, ed. La Découverte), 
  meses atrás. Ele mesmo admite que desde então não parou 
  de dar entrevistas e desfiar seu rosário de estatísticas. 
  No livro, o economista vislumbra o futuro da alimentação 
  a partir de um mundo com energia rara e cara. 
  Lembra que em apenas um século a população global 
  saltou de 1,6 bilhão para 6 bilhões. E para satisfazer todas essas 
  bocas (deixando famintas pelo menos 800 milhões delas), apostou-se em 
  fatores de produção alimentar que a cada década devoram 
  mais terras, mais energia, mais água, mais química, mais mecanização. 
  "O tempo do mais, mais acabou. Seremos forçados a apostar na agricultura 
  que produzirá mais com menos, num meio ambiente muito degradado."
Nessa 
  entrevista ao Aliás, Bruno Parmentier fala da chegada de novos contingentes 
  populacionais, especialmente na Ásia e na África, do envelhecimento 
  da população, que prolonga a vida alimentar, e da voracidade mundial 
  por combustíveis, "o que fatalmente vai contrapor o tanque de gasolina 
  do rico à mesa do pobre". 
  Acha que transformar cereal em biocombustível é loucura. Absolve 
  a opção brasileira pelo etanol da cana. Mas advoga uma nova ética: 
  
  "País nenhum deve resolver seu problema de energia às custas 
  da fome de outros". 
  Quem apostou que o recado vai para o presidente George W. Bush, acertou. 
O 
  senhor diz que não entendia de agricultura até chegar à 
  direção da ESA, em 2002. Em que a escola mudou sua maneira de 
  ver as coisas?
  Não venho do setor agrícola. Sou engenheiro de minas 
  e economista. Depois de trabalhar com desenvolvimento agrário por quatro 
  anos no México, na década de 70, experimentei editar livros, viver 
  como jornalista, e só mais tarde é que aceitei a direção 
  da maior escola agrícola da França. Aceitei o cargo convencido 
  de que a era do petróleo está no fim e a biologia, tomara!, há 
  de nos levar por caminhos melhores. O balanço dessas descobertas está 
  no meu livro, Nourrir l?Humanité, que tem causado grande repercussão 
  desde o lançamento. Não paro de dar entrevistas aqui na Europa.
Por 
  que tanto interesse?
  Porque nenhuma perspectiva histórica nos dá a certeza 
  de que todos teremos o que comer no futuro. E, se tomo a perspectiva geográfica, 
  a constatação é amarga: a fome atinge 800 milhões 
  de pessoas e há quase 1 bilhão comendo muito mal.
O 
  que prevalece na sua análise sobre o futuro da alimentação: 
  ameaças ambientais, transições demográficas, modelos 
  econômicos?
  Há uma conjunção de fatores, mas, falemos em demografia. 
  Garantir a nutrição de uma população fortemente 
  expandida é uma novidade radical para a humanidade. Até o século 
  16, a população mundial pouco evoluíra. Houve um crescimento 
  suave nos séculos 17 e 18, seguido de outro mais acentuado no 19, tocando 
  mais a Europa e a Ásia, depois se espalhando para outras partes. Em 1900 
  havia no planeta 1,8 bilhão de habitantes, 50% dos quais comiam satisfatoriamente. 
  Mas contavam-se 800 milhões de malnutridos. Cinqüenta anos mais 
  tarde, portanto em 1950, éramos 2,8 bilhões e havia algo em torno 
  de 800 milhões de pessoas com fome. Hoje somos 6,3 bilhões e continuamos 
  encontrando algo como 800 milhões de famintos. Ora, podemos fazer uma 
  leitura otimista desses números: em um século, a humanidade conseguiu 
  dar o que comer a mais 4,5 bilhões de pessoas. Bela performance. Mas 
  podemos observar com certo pessimismo essa estranha "lei" : qualquer 
  que seja a população do planeta há sempre algo como 800 
  milhões passando fome. É um número persistente.
E 
  o que deve se passar nos próximos 50 anos?
  A população deverá se estabilizar entre 9 e 10 
  bilhões de pessoas. Significa que acolheremos no planeta um bilhão 
  de novos asiáticos, cerca de 800 milhões de novos africanos, 400 
  milhões de novos latino-americanos. Então temos de nos colocar 
  a questão: haverá alimento para todos? Se admitirmos que todos 
  almejamos comer segundo padrões ocidentais, com dietas fortemente baseadas 
  em produtos de origem animal, teremos então de dobrar a produção 
  agrícola do mundo, já que os animais comem como nós, humanos 
  - consomem cereais e vegetais. E dobrar levando em conta as disparidades existentes. 
  Será preciso multiplicar por 5 a produção agrícola 
  africana e por 1,9 a produção agrícola latino-americana, 
  ao passo que será inútil aumentar a produção européia, 
  já que estamos comendo bem há um bom tempo e não fazemos 
  mais tantos filhos. Por isso nossa população é declinante. 
  
Em 
  termos globais, há disposição para pensar disparidades?
  Não há outro jeito! As soluções aplicadas 
  para aumentar a produção de alimentos no século 20 certamente 
  não funcionarão no século 21. É imperativo encontrar 
  alternativas. Em escala global, nossas reservas de terras disponíveis 
  para agricultura são cada vez menores, em parte por conta da urbanização. 
  Continuamos a destruir as florestas a uma velocidade inaceitável para 
  o equilíbrio ecológico, ou seja, à razão de 140 
  mil km² por ano. A equação que resulta disso é simples: 
  em 1960, havia algo como um hectare para nutrir dois seres humanos. Hoje, tem-se 
  em média um hectare para quatro, em 2050, um hectare para seis, e assim 
  vai. A China hoje já lida com a razão de um hectare para oito 
  indivíduos.
Qual 
  o pior impacto da escassez de água para a agricultura?
  A irrigação foi um meio de expansão agrícola 
  largamente utilizado no século 20, permitindo-nos levar água para 
  mais de 200 milhões de hectares. Não podemos depender da mesma 
  estratégia. Olhe só o que vai acontecer: nos próximos tempos 
  assistiremos a uma onda de reparação de barragens construídas 
  décadas atrás, cujas instalações têm duração 
  limitada. E vamos ter de repará-las, sim, porque construir as novas custa 
  caro e restam lugares bem mais complicados para erguê-las. Além 
  disso, não teremos como alimentar outras tantas barragens com essa rarefação 
  de água doce no planeta. A própria FAO estima que o patamar máximo 
  de áreas irrigáveis não passará de 240 milhões 
  de hectares nos próximos anos. É muito pouco.
O 
  petróleo está mesmo no fim?
  É o que dizem os especialistas e isso tem a ver com a nossa 
  mesa. Tecnologias agrícolas inventadas no século passado são 
  muito gulosas de energia porque foram desenvolvidas numa época de petróleo 
  barato. A mecanização da agricultura, a fabricação 
  de fertilizantes e outros modos de produção dependem basicamente 
  de energia. Hoje o preço mundial do petróleo atinge US$ 90 por 
  barril. A tendência de alta deve continuar e o impacto psicológico 
  da cotação rompendo o patamar dos US$ 100, já iminente, 
  será bastante sensível. Gente mais jovem que eu verá o 
  petróleo a US$ 150 o barril. Isso tudo complica a vida dos 28 milhões 
  de agricultores do mundo que dependem da mecanização do setor. 
  Em contrapartida, cerca de 250 milhões de produtores rurais trabalham 
  com energia animal e 1 bilhão não têm nem animais nem tratores. 
  Um bilhão de produtores estão completamente à margem! Diante 
  desse cenário, devemos nos perguntar: a agricultura, daqui para frente, 
  deve servir à produção de alimentos ou de energia? Veja 
  que coincidência: 800 milhões de pessoas sentem fome no planeta. 
  E temos uma frota global de 600 milhões de automóveis e 200 milhões 
  de caminhões. O número é o mesmo: 800 milhões querem 
  comida, 800 milhões querem combustível. E agora?
Que 
  aposta o senhor faz nos biocombustíveis?
  Não somos nada neste setor porque mal tomamos consciência 
  do problema. O balanço energético revela fragilidades, a começar 
  do fato de que ainda precisamos de um litro de petróleo para produzir 
  três litros de biocombustível. O balanço territorial, esse 
  então é uma aberração completa: em média, 
  devemos reservar um hectare de terra para garantir o abastecimento de quatro 
  ou cinco carros. Tentamos resolver o problema dos tanques de gasolina oferecendo-lhes 
  algo precioso para a dieta alimentar da humanidade, que é o cereal. Isso 
  é uma loucura. A meu ver, o caminho mais aceitável é o 
  do etanol brasileiro, feito da cana-de-açúcar. Mas, não 
  posso deixar de me espantar: como é que um país como o Brasil, 
  potência agrícola, ainda não consegue nutrir sua população?
Por 
  que aprova a opção brasileira pelo etanol?
  Parece ser a mais sensata. Quero deixar claro: sou absolutamente a 
  favor dos biocombustíveis. Mas absolutamente contrário à 
  utilização dos cereais para produção de etanol. 
  Cereal é alimento de base. Nós, aqui na Europa, estamos investindo 
  alto na produção de biodiesel, como aquele que é feito 
  a partir da colza (canola). Tais iniciativas não me parecem satisfatórias 
  porque demandam grandes áreas para o cultivo, muita água para 
  irrigação e mantém-se essa relação maluca, 
  que é gastar um litro de petróleo para produzir três litros 
  de biocombustível. Já a cana oferece uma relação 
  melhor, e não me parece que vá faltar açúcar para 
  alimentação. Como também acho que não vão 
  acabar com as florestas brasileiras.
Mas 
  isso se debate no Brasil hoje. A plantação em larga escala de 
  cana poderia deslocar o gado para a Amazônia, o que não seria bom. 
  Ouve-se muito esse tipo de crítica.
  Não creio nisso. É inegável que o etanol brasileiro 
  tem vantagens: vem de uma planta que cresce rapidamente, não exige preparação 
  da terra, o que em si significa economia de combustível, e é aproveitada 
  literalmente até o bagaço. Além de ter muita terra cultivável, 
  o Brasil é um país que possui superfície de reserva para 
  agricultura. O grande problema da cana-de-açúcar brasileira é 
  social. Como erguer um programa ambicioso de etanol com os trabalhadores no 
  campo ganhando mal, sem preparo, sem recursos, sem direitos?
Por 
  que o senhor joga duro com a utilização dos cereais para a produção 
  de biocombustível?
  Veja a política agrícola do governo Bush. Os EUA têm 
  estoque excedente de milho e até por isso querem convertê-lo em 
  etanol. Só que, para atender à própria demanda de energia, 
  vão consumir o milho que hoje é base da alimentação 
  do México. E os mexicanos vão pagar mais caro pelo que comem! 
  Parece óbvio que um país não pode resolver sua demanda 
  energética provocando a fome em outro. Nesse sentido é que traço 
  um cenário sombrio, no qual o carro do rico vai disputar "alimento" 
  com a mesa do pobre. 
  Então ponha na balança: de um lado, comida, de outro, combustível. 
  O que vai pesar mais na busca por sustentabilidade?
  É possível prever que, em 50 anos, a Europa possa ter reduzido 
  em 10% sua produção agrícola. Seremos menos numerosos e 
  é certo que podemos cortar um pouco da nossa dieta. Por outro lado, estaremos 
  mal em termos de energia fóssil, portanto os biocombustíveis serão 
  estratégicos. Imagino que nossos campos terão de ser reservados 
  para a produção de cereais e que tenhamos de sair atrás 
  dos biocombustíveis dos países temperados, chamados de "segunda 
  geração", que não demandam tanta água nem tanta 
  energia. Já a Ásia, apesar dos progressos feitos, em especial 
  na China e no Vietnã, terá de enfrentar um crescimento populacional 
  que vai complicar as coisas. Mas o grande problema da humanidade é a 
  África. A população africana atual, de 800 milhões, 
  deverá dobrar em pouco tempo, apesar das guerras, da penúria e 
  da aids. Hoje, na África negra, 40% da população sofre 
  de uma fome que é crônica. O que acaba servindo de caldo de cultura 
  para ideologias extremistas.
E 
  a América Latina?
  Vai se sair melhor porque não deve ganhar mais do que 400 milhões 
  de pessoas no próximo meio século, tem reserva de superfície 
  e de água, sobretudo o Brasil. Porém, será que o clima 
  democrático que se vê hoje no continente será um fator de 
  coesão social e eficácia produtiva no futuro? A reposta está 
  nas mãos de vocês.
A 
  discussão combustível versus comida pende para o ideológico?
  O importante é nos apercebermos dos grandes jogos. Como vamos 
  tirar da terra comida e energia em abundância? Será preciso pragmatismo 
  e alguma modéstia para encarar esse desafio.
Em 
  seu livro, em vários momentos o senhor trata do "medo de não 
  ter nada para comer". Isso é típico dos franceses e seus 
  vizinhos europeus?
  Quando falta comida, nenhum problema é maior do que "ter 
  o que comer". Mas, quando há comida, então aparecem 50 novos 
  problemas na vida da gente: o medo de engordar, de se envenenar, de envelhecer, 
  a culpa de comer muito quando tantos têm fome... Na Europa Ocidental, 
  a última vez que se viu a cara da fome foi na 2ª Guerra e hoje a 
  maioria da população não lida com tais lembranças. 
  Mas lida com esses 50 novos problemas. Certamente o declínio da religião, 
  numa Europa secularizada, deu lugar a outros tipos de injunções 
  coletivas. Por exemplo: assim como há o "ecologicamente correto", 
  há também o "corporalmente correto". Temos de emagrecer, 
  malhar, exibir boa forma física se quisermos merecer o respeito dos outros.
Apesar 
  das penúrias do passado, a França é vista como terra da 
  abundância, onde se come bem e onde o setor agroalimentar ainda atrai 
  o maior volume de divisas para o país.
  De fato, parece que o mundo vem para cá para aprender esse bien 
  manger. A verdade é que os franceses são muito exigentes nessa 
  matéria e suas agroindústrias souberam tirar partido da uma cultura 
  local, transformando-a em business. Claro que se persistir a idéia de 
  usar trigo, milho ou arroz para fazer biocombustíveis, velhos medos podem 
  reaparecer.
  Em termos históricos, somos mais informados sobre penúrias do 
  que sobre abundâncias.
  Há um ditado que diz: o peixe não sabe que está na água 
  até ser pescado. Quando uma geração vive na abundância, 
  ela não a enxerga o contrário. E passa o tempo todo reclamando 
  ou se entretendo com a infelicidade dos outros. É desconcertante constatar 
  que as pessoas não são mais felizes na abundância do que 
  na luta pela sobrevivência. 
Pelos 
  critérios ocidentais, seria desejável que todo indivíduo 
  possa comer pelo menos três vezes por dia. Teremos de repensar esse critério 
  no futuro?
  De fato, o desejável seria oferecer a todos os habitantes do 
  planeta a possibilidade de comer três vezes ao dia. Mas, comer o quê 
  e em que quantidade? Guardamos no nosso corpo a memória de penúrias 
  do passado, por isso tendemos a comer mais do que o necessário: mais 
  açúcar, mais gordura, quando a nossa vida ficou mais sedentária. 
  Daí a obesidade cresce de forma alarmante, especialmente nas classes 
  médias. Em quase todos os países do globo, vê-se um aumento 
  estrondoso dos gordos. É um problema em escala mundial, de certa forma 
  tão sério quanto a fome.
Por 
  quê?
  A demanda crescente por produtos de origem animal é muito alta 
  - isso, no conjunto da humanidade. Consumindo tais produtos, sobrecarregamos 
  a agricultura porque, como já disse, animais comem como nós. Só 
  que a taxa de transformação na indústria ainda deixa muito 
  a desejar: a grosso modo, precisamos de 4 quilos de cereais para ter 1 quilo 
  de frango. Ou 12 quilos de cereais para ter 1 quilo de carne bovina. A necessidade 
  de fomentar culturas vegetais tornou-se prioridade. Enfim, devemos desenvolver 
  agriculturas pelo mundo todo, e não apostar apenas nas mais produtivas, 
  como a do Brasil ou da Austrália.
A 
  população planetária aumenta não só pelas 
  taxas de natalidade, altas em várias partes, mas também pelo aumento 
  da expectativa de vida. Quanto mais se vive, mais se come. Isso entra nos seus 
  cálculos?
  Sem dúvida. Na Europa, ao longo de meio século ganhamos 
  três meses de esperança de vida por ano. 50% das crianças 
  que nascem hoje na França serão centenárias. Então, 
  vejamos: um europeu nos anos 50 iria consumir cerca de 50 mil refeições 
  no decorrer da vida. O europeu nascido agora consumirá 100 mil. Isso 
  traz desafios imensos para a quantidade de alimentos a produzir. E também 
  para a qualidade do que se come, afinal, nossos corpos estarão expostos 
  por mais tempo a processos de acumulação de toxinas. Muitas doenças 
  aparecem quando o sujeito já fez umas 80 mil refeições. 
  Antes não deveríamos nos preocupar com isso, agora temos. Não 
  bastassem todos os desafios pela frente, a preocupação com a segurança 
  e a pureza dos alimentos ainda vai nos atormentar muito. 
  Laura Greenhalgh - O Estado de S.Paulo
  Jerome Chatin/AE - 22.10.07
  [Topo] 
   
  
Al Gore, ex-vice-presidente 
  americano derrotado na penúltima eleição a Presidente, 
  abandonou a política e se dedicou nos últimos anos a pesquisar 
  sobre os efeitos do aquecimento global. 
  O filme Uma Verdade Inconveniente retrata os efeitos já visíveis 
  deste aquecimento.
  Por exigência de Al Gore, a Paramount utilizou o mínimo de recursos 
  que provocassem a emissão de gases que colaboram para este aquecimento.
  Resenha do livro: clique 
  aqui 
  [Topo] 
  
“Seguimos 
    como se, no concreto, estivéssemos no melhor 
    dos mundos e só precisássemos nos ocupar de juros, taxas de 
    crescimento da economia, balanço de pagamentos e adjacências. 
    Tudo isso é importante. Desde que haja chão consistente por 
    baixo. Temos?” 
    Washington Novaes  
  
É inquietante observar que, a poucos dias das eleições para presidente da República, governos dos Estados, parlamentos federais e estaduais, as mal chamadas questões ambientais - as que dizem respeito ao meio físico, concreto, em que vivemos - continuam, como nos pleitos anteriores, tão distantes das discussões que se travam que se pode, no final das contas,perguntar: mas em que país se disputam essas eleições? Será em Plutão, que acaba de ser rebaixado, nem planeta mais é?
Muitas 
  vezes tem sido citado aqui o pensamento do secretário-geral da ONU, Kofi 
  Annan, segundo quem os problemas que ameaçam a sobrevivência da 
  espécie humana são as mudanças climáticas em curso 
  e a insustentabilidade dos padrões mundiais de produção 
  e consumo. Se é assim, essas questões deveriam estar no centro 
  das discussões sobre o futuro do País. Mas não estão.
  
  Qual 
  é, por exemplo, a estratégia brasileira para enfrentar mudanças 
  climáticas? Não está na pauta. Mas já começamos 
  a sofrer com elas, inclusive em áreas que - estas, sim - geram preocupações: 
  estamos perdendo partes de safras por causa de secas, inviabilizando culturas 
  por causa do aumento da temperatura; estamos tendo custos cada vez mais altos 
  com inundações, deslizamentos de terras, inviabilização 
  de rodovias.
Qual é a situação nacional num modelo global que já consome mais recursos e serviços naturais do que são repostos pelo planeta? Também já consumimos além da reposição, dizem os relatórios internacionais.
Mas temos uma situação privilegiada em relação a vários recursos - água, biodiversidade, solo, níveis de insolação. Só que nem sequer pensamos em adequar nosso consumo, muito menos em conceber uma estratégia que coloque a situação privilegiada - abundância dos fatores escassos no nível planetário - como fundamento central da ação nacional. E nem discutimos isso numa campanha eleitoral, para que a sociedade possa informar-se, exigir novas posturas e estratégias.
E como é assim, não conseguimos discutir e formular políticas adequadas para a Amazônia, por exemplo, que coloquem em primeiro plano não a devastação para exportar madeiras e outros produtos primários - ou subsidiados -, em vez de termos uma política que coloque antes de tudo o conhecimento científico e o aproveitamento da biodiversidade mais rica do mundo - cessando com o desmatamento e as ameaças de mudanças climáticas e comprometimento de fluxos hidrológicos.
Ou uma política de conservação, que privilegie áreas indígenas (o caminho mais eficaz para a conservação) e permita o pagamento às populações de baixa renda para fiscalizarem e atuarem na preservação.
Quando a discussão ameaça aproximar-se do concreto - como é o caso da questão do abastecimento nacional de energia elétrica -, quase invariavelmente toma logo um desvio em que se tenta qualificar a preocupação com a conservação de recursos como “obstáculo ao desenvolvimento”.
Sem sequer discutir qual é o modelo energético nacional, suas alternativas, as possibilidade de conservar energia, em lugar de ampliar a potência instalada.
O Cenário Tendencial preparado pela Unicamp para o WWF e divulgado há poucos dias diz que “a adoção de um cenário elétrico sustentável poderá gerar economia de R$ 33 bilhões para os consumidores e diminuir o desperdício de energia elétrica em até 38% até o ano de 2020”. É muito. E isso seria possível com maior eficiência na geração e transmissão de energia, racionalidade no consumo e aumento da utilização de fontes renováveis de energia, como biomassa, eólica, solar e de pequenas hidrelétricas. Mas, se é assim, como não se discute com a sociedade no momento em que as forças políticas assumem compromissos de planejamento?
Principalmente com esse estudo dizendo que por esse caminho será possível criar 8 milhões de empregos e estabilizar a emissão de gases do efeito estufa?
E quando se fala em biomassas, é indispensável dizer à sociedade que caminhos serão trilhados. Vai-se associar a geração de biomassas para a produção de energia à agricultura familiar e ao esmagamento na fonte de produção (para agregar valor), de modo a descentralizar a geração de renda? Ou se vai seguir no velho modelo de concentrar a renda nuns poucos megaprodutores?
E na questão dos recursos hídricos, por onde vamos caminhar - no momento em que chegamos ao contra-senso de minguar a água nas Cataratas do Iguaçu, de racionar o fornecimento em Curitiba e Manaus (no encontro dos Rios Negro e Solimões, formando o Amazonas !)? E tudo isso num país que tem 12% da água superficial do planeta.
Vamos continuar dizendo que se fará a transposição de águas do Rio São Francisco para atender às necessidades de milhões de vítimas da seca - quando sabemos que a água transposta jamais chegará às microcomunidades isoladas, que são as principais vítimas da seca, e que se destinará primordialmente aos macroprojetos de exportação de frutas, camarões e pouco mais?
Não conseguimos sequer colocar na pauta do debate temas como o da gripe aviária - que continua a ser gravíssima ameaça, capaz de produzir prejuízos de até US$ 2 trilhões, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMC) - ou da debilidade do nossos sistema de defesa sanitária na área de carnes, ameaçando um dos principais itens de exportação e o próprio consumidor interno.
Seguimos como se, no concreto, estivéssemos no melhor dos mundos e só precisássemos nos ocupar de juros, taxas de crescimento da economia, balanço de pagamentos e adjacências. Tudo isso é importante. Desde que haja chão consistente por baixo. Temos?
 
  Washington Novaes é jornalista especializado em meio ambiente . 
  Artigo 
  publicado em “O Estado de SP” 22/9/06
AQUECIMENTO GLOBAL AMEAÇA DESERTOS, alerta ONU
Os 
  desertos do mundo estão enfrentando ameaças sem precedentes, principalmente 
  por causa das mudanças climáticas, da crescente demanda por água 
  e mesmo por causa do turismo nessas áreas, alerta um relatório 
  do Programa de Meio Ambiente da ONU (Unep, em inglês) publicado nesta 
  segunda-feira.
  Considerado o mais amplo estudo já feito sobre as áreas mais áridas 
  do planeta, o documento tem a sua divulgação no Dia Mundial do 
  Meio Ambiente, comemorado nesta segunda.
Segundo 
  o relatório, aumento de temperaturas verificado entre 1976 e 2000 foi 
  muito superior à média anterior. Até 1976, a alta era de 
  0,45ºC e passou a ser de 0,5ºC a partir daquele ano.
  A ONU prevê que a tendência de elevação das temperaturas 
  e diminuição das chuvas vá continuar e projeta um aquecimento 
  de até 7ºC e uma queda de até 20% nas médias pluviométricas 
  dos desertos até o fim deste século.
  Recursos desperdiçados
  O Programa de Meio Ambiente da entidade também chama a atenção 
  para o mau uso dos recursos naturais do deserto como as reservas de água, 
  que estariam sendo exauridas, e a vida selvagem. De acordo com os especialistas 
  da entidade, se bem explorados, esses recursos poderiam ter benefícios 
  para as pessoas que vivem nessas áreas e a população em 
  geral.
  "A maioria dos desertos tem regimes de luz solar e temperatura que favorecem 
  - talvez de forma surpreendente - locais para fazendas de camarão e peixes 
  em locais como o Arizona e o deserto Negev, em Israel".
  O relatório também destaca o potencial farmacêutico das 
  plantas, citando, por exemplo, a alga Haematococcus, um antioxidante e imunizante 
  natural, e a planta Hoodia gordonii, um supressor de apetite usado por habitantes 
  do deserto. 
  Segundo o Unep, por terem desenvolvido uma resistência excepcional às 
  duras condições de vida do deserto, plantas e animais que vivem 
  nessas áreas oferecem novas fontes de drogas e produtos industriais. 
  
  O relatório defende ainda o uso da energia solar dos desertos, que cobrem 
  cerca de um quarto da superfície terrestre e abrigam cerca de 500 milhões 
  de pessoas.
  De acordo com o Unep, alguns especialistas acreditam que os desertos 
  possam se tornar as fontes de energia limpas do século 21. 
  "Eles argumentam que uma área de 800 km por 800km de um 
  deserto como o Saara poderia capturar energia solar suficiente para gerar todas 
  as necessidades mundiais de eletricidade e mais."
  "Longe de serem terras devastadas estéreis, (os desertos) emergem 
  como (ecossistemas) dinâmicos biologicamente, economicamente e culturalmente 
  enquanto estão cada vez mais sujeitos aos impactos e pressões 
  do mundo moderno", afirmou o vice-diretor executivo do Unep, Shafqat Kakakhel.
  Segundo a ONU, no entanto, se os recursos não forem melhor explorados, 
  países como Iraque, Chade, Níger e Síria terão problemas 
  cada vez mais graves para suprir as suas demandas de água.
  
  Fonte: da 
  BBC Brasil - 
  folhaonline 05/06/2006 
REUNIÃO DE ESPECIALISTAS PARA EXAMINAR AS CAUSAS DE ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR
160 eminentes especialistas em mudança de clima, oceanógrafos e especialistas em ciências do mar do mundo inteiro se reunem de 6 a 9 de junho na sede da UNESCO em Paris, a fim de examinar os fatores que contribuem para a elevação do nível do mar e determinar em quais âmbitos é necessário adquirir mais conhecimentos para compreender melhor este fenômeno. Segundo o terceiro informe de avaliação do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudanças Climáticas (IPCC), nos últimos 100 anos o nível do mar experimentou no conjunto do planeta uma elevação de 10 a 20 centímetros. Um conjunto cada vez maior de dados científicos indica que essa elevação obedece principalmente ao aquecimento da Terra e que seu ritmo se está acelerando. Não obstante, ainda subsistem numerosas áreas de incerteza que impedem formular previsões exatas acerca das futuras mudanças e, assim, preparar respostas eficazes para combatê-las.
Os participantes da oficina “Compreender a elevação do nível do mar e a variabilidade” tratarão de determinar quais são as atuais lacunas nos conhecimentos e quais trabalhos de investigação são necessários para saná-las. Também examinarão os fatores coadjuvantes na elevação do nível do mar – por exemplo a expansão termal dos oceanos, o derretimento dos glaciais e da calota polar, e os movimentos terrestres verticais, assim como as mudanças experimentadas no passado e as que podem produzir no futuro no que diz respeito à freqüência e intensidade de fenômenos extremos, em particular as ondas de superfície e as ondas oceânicas.
A reunião será presidida por John Church, cientista especialista em clima do Centro de Investigações Marinhas da Organização de Investigações Científicas e Industriais do Commonwealth (CSIRO), com sede em Hobart (Tasmânia, Austrália) y Philip Woodworth, Diretor do Serviço Permanente para o Nível Médio do Mar (Liverpool, Reino Unido). As principais intervenções estarão a cargo de Kurt Lambeck (Austrália), Koni Steffen (Estados Unidos), Anny Cazenave (França) e Jonathan Gregory, Robert Nicholls y Ralph Rayner (Reino Unido), que exporão as alterações passadas e previsíveis do nível do mar, assim como suas causas e repercussões nas zonas. Algumas sessões centrar-se-ão no exame do aquecimento dos oceanos do mundo e dos recentes dados sobre o derretimento das calotas polares.
Esta oficina se organizou no marco do Programa Mundial de Investigações Climáticas (PMIC), patrocinado conjuntamente pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO, pelo Conselho Internacional para a Ciência (ICSU), a Organización Meteorológica Mundial (OMM) y outras 41 organizações e entidades científicas.
Fonte: UNESCO - 19-05-2006
FAO 
  DIZ QUE META DE REDUÇÃO DA POBREZA NÃO SERÁ ATINGIDA 
  ATÉ 2015
  
   O 
  secretário-geral da FAO (Organização das Nações 
  Unidas para a Agricultura e a Alimentação), o senegalês 
  Jacques Diouf, afirmou hoje que serão necessários 146 anos para 
  o mundo alcançar as metas de redução da pobreza propostas 
  pela ONU para serem cumpridas até 2015.
  ''O objetivo da ONU de reduzir à metade o número de pessoas que 
  passam fome, com as atuais tendências, não será alcançado 
  em 2015, mas em 2150", disse Diouf, na 2ª Conferência Mundial 
  sobre Reforma Agrária.
  De acordo com Diouf, o número de pessoas abaixo da linha de pobreza crescerá 
  em 100 milhões até 2015, em vez de ser reduzido pela metade, como 
  espera a ONU, afirmou o secretário-geral da FAO.
  De acordo com os cálculos da ONU, cerca de 852 milhões de pessoas 
  no mundo todo têm dificuldades para se alimentar adequadamente.
"Em 
  1996, quando essa meta [de redução do número de pobres] 
  foi estabelecida, muitos já questionavam por que apenas reduzir pela 
  metade, e não totalmente o número de pobres. Mas, se mantivermos 
  as políticas atuais, de não investir no setor [agricultura familiar] 
  que gera renda para 75% dos pobres do mundo, a pobreza continuará crescendo", 
  afirmou.
  
  LÉO GERCHMANN
  da Agência Folha, em Porto Alegre - 07.03.06 
O 
  aumento da concentração de gases do efeito estufa pode ter impacto 
  muito maior do que se pensava, segundo estudo do governo britânico.
  Existe 
  apenas uma pequena chance de que as emissões de gás sejam mantidas 
  abaixo dos níveis "perigosos", de acordo com o relatório. 
  "Fica claro pelo trabalho apresentado que os riscos de mudança climática 
  podem ser maiores do que pensávamos", diz o primeiro-ministro britânico, 
  Tony Blair, na apresentação do estudo.
  "Agora 
  está claro que a emissão de gases do efeito estufa, associada 
  à industrialização e crescimento econômico de uma 
  população mundial que aumentou seis vezes em 200 anos, está 
  provocando o aquecimento global a um ritmo insustentável."
  Este 
  documento reúne evidências que foram apresentadas por cientistas 
  do mundo inteiro durante uma conferência organizada pelo Departamento 
  de Meteorologia do Reino Unido, em fevereiro de 2005.
Impactos
Parte 
  dos estudos científicos mostram os impactos associados com vários 
  níveis de aumento de temperatura. 
  "Uma elevação de 1º C aumenta os risco de forma significativa, 
  com freqüência rapidamente para ecossistemas vulneráveis", 
  diz Bill Hare, do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático Potsdam 
  na Alemanha, que produziu e avaliou mais de 70 estudos sobre impacto em fontes 
  de água, agricultura e vida selvagem.
  Na 
  faixa entre 1º C e 2º C, os riscos em todas as regiões aumentam 
  significativamente e são substanciais em nível regional, diz o 
  relatório.
  Já 
  acima de 2º C, os riscos aumentam muito substancialmente, envolvendo potencialmente 
  um grande número de extinções ou mesmo colapso de ecossistemas, 
  grande aumento de riscos de escassez de água e fome, bem como prejuízos 
  sócio-econômicos, particularmente em países em desenvolvimento.
  Um 
  aumento de 2º C seria suficiente para iniciar o derretimento da camada 
  de gelo da Groenlândia. Isso teria um enorme impacto sobre os níveis 
  do mar no mundo inteiro, embora levasse até 1.000 anos para que subissem 
  os sete metros previstos.
  Um 
  aumento de 2ºC na temperatura, segundo os pesquisadores, seria suficiente 
  para provocar a queda nos rendimentos de plantações do mundo desenvolvido 
  e em desenvolvimento, triplicar as colheitas ruins na Europa e na Rússia, 
  deslocamento em larga escala de pessoas no norte da África por causa 
  de desertificação e até 2,8 bilhões de pessoas com 
  risco de sofrer escassez de água.
  Além 
  disso, também seriam identificadas perda de 97% dos corais de recife, 
  perda total do gelo do verão no Ártico --com extinção 
  do urso polar e do cavalo marinho-- e disseminação de malária 
  na África e na América do Norte.
Da BBC Brasi - lFolha de São Paulo - - 30/01/2006
AGROTÓXICO É A SEGUNDA CAUSA DE CONTAMINAÇÃO DE ÁGUA DO PAÍS
O 
  uso de agrotóxicos e fertilizantes já é a segunda causa 
  de contaminação de água no país. Só perde 
  para o despejo de esgoto doméstico, o grande problema ambiental brasileiro. 
  A pesquisa do IBGE mostra que, do total de 5.281 municípios que têm 
  atividade agrícola, 1.134 (21,5%) informam ter o solo contaminado por 
  agrotóxicos e fertilizantes.
  Das cidades que registraram poluição freqüente da água, 
  onde vivem sete de cada dez brasileiros, 75% apontaram o despejo de esgoto como 
  principal causa da poluição, 43% disseram que o problema se deve 
  ao uso de agrotóxicos e 39% à disposição inadequada 
  de resíduos sólidos (lixo) e à criação de 
  animais. A contaminação da água provocada por agrotóxico 
  é um problema para 16,2% (901) dos municípios brasileiros.
  Proibido por lei federal em 2002, o descarte irregular de embalagens vazias 
  de agrotóxicos é apontado como principal causa de contaminação: 
  978 descartavam recipientes em vazadouro a céu aberto. Em todo o país, 
  600 municípios informaram possuir posto de coleta de embalagens. O destaque 
  foi Santa Catarina, com a maior proporção de postos de recebimento.
  Usado para o controle de pragas, doenças e ervas daninhas, o agrotóxico 
  se tornou um dos principais elementos do modelo agrícola brasileiro após 
  uma política oficial de incentivo iniciada durante o regime militar, 
  na década de 70. 
  De acordo com dados divulgados na pesquisa do IBGE, o governo federal investiu 
  mais de US$ 200 milhões na implantação e no desenvolvimento 
  de indústrias voltadas para a prática. A vinculação 
  da ampliação do crédito agrícola subsidiado à 
  compra de agrotóxicos difundiu a medida. Em 1995 foram comercializados 
  US$ 1,6 bilhão em agrotóxicos. Cinco anos depois a cifra chegou 
  a US$ 2,5 bilhões.
  Mas a pesquisa também mostra que, dos 5.281 municípios com atividade 
  agrícola, 35,8% incentivam a promoção e a prática 
  da agricultura org|ância. Dos municípios onde há fiscalização, 
  são 61,5% os que incentivaram esta prática.
Fonte: OESP
IMPACTOS PROVOCADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL
"A construção civil gera 15% do PIB brasileiro, emprega 15 milhões de pessoas e provoca um impacto ambiental proporcional. O setor consome nada menos que 50% dos recursos extraídos da natureza e produz 40% de todo o resíduo gerado no mundo. Seus efeitos atingem a cadeia produtiva desde a concepção das obras até a demolição. A localização dos projetos, a arquitetura e a escolha dos materiais afetam diretamente o entorno com aglomerações, aterros, inundações, mudanças de insolação e outros impactos" - Ricardo Arnt - Jornalista.[Topo]
AB'SABER FAZ DURAS CRÍTICAS À POLÍTICA AMBIENTAL DE LULA
Geógrafo 
  condena a falta de planejamento para combater o problema do desmatamento 
  
  São Paulo - Aos 81 anos, o geógrafo Aziz Ab’Sáber 
  afirma que nessa idade não poderia fazer tantas viagens à Amazônia.
  
  "Mas faço e farei até morrer." 
E 
  é dele, um dos principais estudiosos da maior floresta tropical do mundo, 
  que vêm duras críticas à política ambiental do governo 
  Lula. Não só pela recente divulgação de mais um 
  recorde na taxa de desmatamento, mas também pela falta de planejamento 
  para combater o problema. 
  "Como pensar otimistamente nos próximos tempos se tudo está 
  em dinâmica desastrosa, devastadora e à custa de uma ignorância 
  generalizada." 
  Nessa entrevista, o professor da Universidade de São Paulo chama atenção 
  para o "governo paralelo" que se criou na Terra do Meio, no sul do 
  Pará. 
  Há algum tempo, visitou a região e viu como fazendeiros e madeireiros 
  desfilavam durante horas pela Transamazônica com bandeiras em grupos numerosos 
  para amedrontar a população. 
  "Aqueles mesmos que dizem a propriedade é minha, e eu faço 
  com ela o que quiser, como quiser e quando quiser pensando já no futuro 
  do processo devastador." Para Ab’Sáber, o governo precisa 
  agir já. 
  O Ministério do Meio Ambiente (MMA) justifica que a taxa de desmatamento 
  foi contida, já que poderia ter sido muito maior porque houve um ano 
  de crescimento econômico da ordem de 5%. O sr. se convence com a explicação? 
  
  Não posso discutir as desculpas e os argumentos que o MMA tem em relação 
  ao gravíssimo problema da ampliação da devastação 
  da Amazônia. Eu fico psicologicamente muito arrasado de falar da Amazônia 
  na atual conjuntura. Quem não tem ética com o futuro e capacidade 
  de pensar o futuro em diferentes níveis e profundidades de tempo, deixa 
  que a devastação aconteça. E aí ficam justificando: 
  "Ah, estatisticamente aconteceu isso, por isso." Só que o "por 
  isso" é a conjuntura da economia de fazendeiros, madeireiros e agricultores 
  em ganhos rápidos e imediatos e o futuro que se dane. 
  Onde o governo erra nessa questão? 
  Em primeiro lugar há que se pensar num governo capaz de ter um pensamento 
  e um conjunto de estratégias para as questões nacional, regional 
  e setorial. No caso do Brasil, estamos tendo um esforço para pensar o 
  internacional, mas com excesso de visitas e pouco cuidado com o regional. Acharam 
  que era possível fazer viagens custosas, levando um grande número 
  de pessoas para conhecer outro país distante, que pode ou não 
  ofertar vantagens econômicas. Enquanto isso deixam acontecer tudo o que 
  as circunstâncias internas permitem. 
  Gostaria de dizer também que os membros do segundo escalão do 
  governo Lula deveriam ter um melhor conhecimento com os fatos relacionados à 
  tropicalidade. No caso da Amazônia, é uma área quente e 
  úmida e está sob aquilo que muitos pesquisadores chamam de invasão 
  capitalista. Os cientistas, jovens geógrafos e promotores sabem que nosso 
  tempo todos os espaços viraram mercadorias. É preciso pôr 
  isso na cabeça dos governantes brasileiros. Houve uma invasão 
  permitida pela ignorância dos governos que sucederam desde o início 
  da construção da Belém-Brasília, depois a Transamazônica 
  e as outras estradas que rasgaram o coração das selvas. 
  Quem vem promovendo a invasão da floresta? 
  Foram vários ciclos sucessivos. Primeiro a agropecuária, depois 
  as madeireiras, logo agora a soja e no intervalo de tudo isso os negócios 
  amazônicos. Um político que enriqueceu muito rapidamente e outros 
  grupos que estão até nos governos estaduais, filhos deles, eles 
  justificam suas riquezas pelos negócios da Amazônia. E o governo 
  não tem noção do que seja isso. Está acontecendo 
  no centro sul do Pará, naquela chamada Terra do Meio, um verdadeiro governo 
  paralelo por parte dos fazendeiros, madeireiros, dos que estão preocupados 
  com devastação para eventual produção da soja. 
  O governo tem medo, interesses particulares ou não sabe como 
  atuar em áreas de conflito como no sul do Pará? O que fazer na 
  Terra do Meio?
  No Brasil só se esboçaram dois Estados paralelos, perigosíssimos 
  e que precisam de uma atenção estratégica. A região 
  do narcotráfico no Rio de Janeiro e a Terra do Meio. Não posso 
  dizer (o que fazer). Se disser, alguém vai dizer que está tudo 
  errado. Eles (o MMA) só respeitam o planejamento estratégico pagando 
  e pagando muito para imbecis. Não vou dizer quais são as soluções, 
  porque não adianta coisa nenhuma perante o ideário vigente na 
  administração federal. 
  Este governo criou 7,7 milhões de hectares de unidades de conservação, 
  boa parte para frear a fronteira agrícola. É uma boa solução 
  ou só vai criar novas frentes em outras partes da Amazônia? 
  O grande problema que o governo não entendeu é o seguinte: no 
  caso de algumas reservas particulares que foram pensadas em termos de uma exploração 
  auto-sustentável, a situação mudou muito porque elas estavam 
  inseridas dentro de um corpo territorial contínuo. Com a devastação 
  que houve, aqui e acolá, a coisa mudou muito. As reservas extrativistas 
  que tentaram ser organizadas sozinhas não valem muito. Nem para a economia 
  regional, nem para o futuro. 
  Qual a sua avaliação da equipe do MMA? 
  Não posso dizer mais para um jornal da importância do Estado, porque 
  teria de me referir a nomes de pessoas, a ignorantes que foram colocados dentro 
  do MMA, e não conhecem a Amazônia e ficam projetando coisas. Fazer 
  concessões de Flonas (Florestas Nacionais) para ONGs estrangeiras... 
  Deus meu, que ignorância. Alugar por 30 ou 60 anos é uma das mais 
  terríveis propostas contra a soberania brasileira na Amazônia. 
  Poucos dos que fizeram essa estupidez de propor aluguel de florestas nacionais 
  para particulares de qualquer instância estarão vivos para responder 
  por seus projetos esgarçados. 
  Qual é o risco? 
  Em 30 ou 60 anos, as Flonas poderão ser exploradas em qualquer nível 
  sem que haja gerenciamento real, da maneira pela qual vão trabalhar explorando 
  madeiras e podendo explorar tudo aquilo que fizeram, porque alugaram e pagaram. 
  Estamos numa situação desesperadora. A conjuntura internacional 
  está de olho numa região de um país imenso como é 
  o Brasil e parece que os governantes não têm idéia disso. 
  
  Até que ponto a chamada internacionalização da 
  Amazônia o preocupa? 
  Lá fora, quando qualquer membro do governo faz algumas pressões 
  no sentido de ter alguma presença internacional, eles respondem com as 
  seguintes frases: "O governo brasileiro não tem condições 
  de gerenciar a Amazônia." Isso é muito triste, muito dramático. 
  Se não houver um nível de esclarecimento e conhecimento integrado, 
  se não existir uma política estratégica para gerenciar 
  a Amazônia e impedir qualquer embrião de Estado paralelo, estaremos 
  com a nossa soberania ameaçada permanentemente. 
  O governo tem cerca de 30 grandes projetos de infra-estrutura na Amazônia 
  legal. O sr. teme os impactos dessas obras na região? 
  Como construir isso linearmente esquecendo as regiões que formam o todo? 
  Existe uma preocupação com velhos projetos no Brasil. Primeiro 
  a transposição das águas do São Francisco. Dizem: 
  "Vai resolver o problema do semi-árido brasileiro." Sobre isso 
  não digo mais nada, porque já chamei a atenção rigorosamente 
  científica e as respostas são rigorosamente políticas. 
  Outro projeto é fazer a ligação do Acre com o Pacífico. 
  Projeto mal-estudado por todos e no presente momento desastroso, porque seria 
  apenas uma rota da madeira para o Oriente. 
  Falta ética com o futuro... 
  Essa ética com o futuro tem de ser melhor colocada na cabeça dos 
  governantes, do primeiro, segundo e terceiro escalões. Houve um rapaz 
  que está dentro do MMA que perguntado numa TV se conhecia a Amazônia, 
  porque estava forçando o problema dos aluguéis das Flonas e da 
  concessão para ONGs estrangeiras, ele respondeu assim: "Ah, eu fui 
  até o Amapá." A Amazônia com 4,2 milhões de 
  quilômetros quadrados, e a justificativa dele é que foi até 
  o Amapá? Por acaso estava pesquisando com pessoas muito importantes que 
  queriam conhecer um pouco da Amazônia, dos grupos indígenas remanescentes 
  do Amapá, e vi onde essa pessoa esteve. Era uma reunião de ONGs. 
  É assim que se conhece a Amazônia? 
  O sr. tem alertado o governo? 
  Um dia a dona Marina (Silva, ministra do MMA) teria dito, segundo me contaram, 
  que ela precisava forçar o encaminhamento da concessão do aluguel 
  de Flonas, e alguém disse que precisavam consultar o doutor Aziz. Aí 
  ela disse: não dá tempo de convencer o doutor Aziz. É assim 
  que funciona assim lá em cima. Não posso ficar falando essas coisas, 
  porque não tenho vontade de citar nomes. Se fosse citar nomes, meu Deus, 
  (o secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo) Capobiancos, 
  Tassos Rezendes (gerente de projetos) e muitos outros que estão lá. 
  E dentro do Ibama grandes problemas também, apesar de que o presidente 
  do Ibama (Marcus Barros) é alguém que sempre respeitei muito. 
  Não existe política estratégica dentro do Ibama capaz de 
  gerenciar todo esse caos. 
  O sr. tem mais preocupação com a pressão de grileiros, 
  madeireiros e fazendeiros ou a de ONGs? 
  Tenho impressão de que as ONGs deixaram de ser organizações 
  não-governamentais para ser governo. É o caso do MMA, que foi 
  inundado por ONGs. O marido da dona Marina Silva (Fabio Vaz de Lima) foi presidente 
  das ONGs amazônicas. Tenho muito receio das ONGs, tanto as internas quanto 
  as possíveis externas que nunca entenderam o mundo tropical e dentro 
  do tropical um país como o Brasil com um regional diferenciado. Alguém 
  disse, lá no MMA, que esses paulistas esqueçam a Amazônia 
  e passem a pensar na despoluição do Rio Tietê, como se o 
  ministério não tivesse que pensar em tudo. Você está 
  me obrigando a dizer coisas que não gostaria de dizer... 
  O sr. é partidário da tese de buscar desenvolvimento mantendo 
  o máximo da floresta intacta... 
  Pensar um desenvolvimento com o máximo de floresta em pé significa 
  o máximo de biodiversidade conservada e in situ. Do chão até 
  o dossel. Passei pelo Estreito de Breves (no Pará), numa das caravanas 
  da cidadania (organizadas pelo então candidato do PT Luiz Inácio 
  Lula da Silva), quando meditei muito sobre meu País - foi inútil, 
  aparentemente. Passei numa madeireira na região e estavam desenrolando 
  troncos gigantes para fazer placas e vender para o exterior. Fui num estacionamento, 
  no fundo, e comecei a olhar os cortes dos troncos pensando em quantos anos levaram 
  para crescer aquelas árvores. Uma delas tinha 1 metro e 65 centímetros 
  de diâmetro. Aí comecei a contar os anéis de crescimento 
  e tive de parar. Ia dar uns 500, 600 anos. E há brasileiros que dizem 
  "pode cortar uma árvore se plantar uma outra". Estamos no campo 
  da ignorância. 
  Como estudioso da Amazônia e professor, que nota daria ao governo 
  Lula na questão ambiental? 
  Olha, não quero ferir a dona Marina e não quero ferir o governo 
  Lula, mas é claro que a nota é muito baixa. 
  O sr. já propôs saídas para a Amazônia para 
  este governo? 
  Fiz um zoneamento da Amazônia em 23 células espaciais, sugerindo 
  ao governo que fizesse uma reunião em Brasília para encontrar 
  um método de estudo para cada uma dessas regiões e entender a 
  situação delas em termos das poucas atividades urbanas, das que 
  têm verdadeiras capitais regionais funcionando mais para os madeireiros 
  do que para qualquer outra coisa, das doenças tropicais e das locações 
  de cada célula espacial. Enviei uma carta ao presidente Lula logo que 
  foi eleito. Nenhuma resposta. 
  
  Fonte: O Estado de São Paulo, 14 de junho de 2005.
O 
  DESAFIO DA EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
  
  Na última 
  década, inúmeras pesquisas se desenvolveram para discutir as formas 
  e os resultados sobre "Educação Ambiental". 
  Em geral pode-se dizer que, na maioria dos casos, os resultados 
  são considerados como baixos ou duvidosos se considerarmos as mudanças, 
  condutas, ações, inclusão social, cidadania e produtividade. 
  Em parte e entre outros aspectos, a questão programática, as formas, 
  metodologias e práticas, e em especial a Falta de continuidade se colocam 
  como as principais.
  Como notável se coloca que, na maioria dos casos a Educação 
  Ambiental se desenvolve de forma fragmentada ou com focalização 
  parcial, muitas vezes comprometida ou submetida a interesses, outras vezes oportunistas 
  ou festivas, de espectro especulativo, ou ainda obrigadas por leis, ordens ou 
  modismos.
  Pode-se 
  dizer que, devido ao crescente aumento da consciência social e política 
  e os impactos sociais provocados por uma diversidade de fatores, as formulações 
  críticas na Educação Ambiental que antes quase que exclusivamente 
  se vinculavam a questões relacionadaas à natureza, incorporam 
  inseparavelmente a questão social em todo seu contexto, incluindo a globalização.
  Contribui para isto também a fase de transição, ainda não 
  concluída, entre o autoritarismo e a democracia plena.
UM ENFOQUE NA CULTURA SOCIOAMBIENTAL
 “ 
  Em cinco anos, tudo o que sabemos hoje será inútil ou tóxico.
  O papel fundamental dos líderes do futuro será gerenciar o presente, 
  esquecer seletivamente o passado e dar combustível ao futuro”
C. K. Prahalad
 Prahlad 
  talvez não tenha analisado a Agenda 21. Não importa se não 
  o fez.
  A questão é que as empresas são feitas por pessoas e líderes. 
  Para serem líderes, não necessitam ocupar cargos, mas sim conhecer 
  seus encargos e assim suas responsabilidades, as quais, já há 
  muitos anos, não se relacionam apenas ao setor de trabalho e na busca 
  de fazer mais com menos. 
  Qualquer relação dentro das paredes físicas e estruturais 
  de uma empresa é antes de tudo uma relação social inseparável, 
  constituindo-se a produção de bens e serviços também 
  numa relação social, diversa e holística, dentro da qual 
  se estabelece o meio que é um meio socioambiental.
  Quando uma empresa “toca” o lucro sem considerar os aspectos socioambientais 
  do desenvolvimento sustentável, vai progressivamente traçando 
  o caminho de sua própria insustentabilidade.
  A Eco-eficiência se fundamenta no desenvolvimento sustentável que, 
  ao ser social, inclui a empresa dentro de um complexo de relações 
  que lhe permitem não só sua existência, mas seu progresso.
  A inestabilidade e a degradação socioambiental colocam em risco 
  a humanidade num futuro sem retorno e por sua vez marcam o agravamento permanente 
  da crise social e de mercado e isto sem duvidas acometerá os setores 
  produtivos de comércio e serviços. 
  Estes poderão administrar os conflitos e superá-los quando adotem 
  chegar ao lucro “tocando” a sustentabilidade e a competitividade 
  através da eco-eficiência e da responsabilidade social.[Topo] 
  
POLUIÇÃO 
  DA ÁGUA CRESCE DE FORMA CONSTANTE 
  (um problema antigo sem soluções 
  eficazes) 
Nos 
  últimos dez anos, a contaminação das águas de rios, 
  lagos e lagoas (incluindo reservatórios e represas) aumentou cinco vezes. 
  A principal fonte de contaminação é o despejo de material 
  tóxico resultante de atividades agro-industriais e industriais, esgotos 
  rurais e urbanos, também incluídos os lixões.
  A conclusão está no relatório Estado Real das Águas 
  no Brasil (2003-2004), feito pela Defensoria da Água. O estudo indica 
  a existência de 20 mil áreas contaminadas com população 
  exposta a riscos de saúde. Além disso, os vestígios de 
  esgoto despejado na região costeira, que há uma década 
  eram encontrados a até 5 quilômetros do litoral, hoje estão 
  presentes em uma faixa dez vezes maior, alcançando 50 quilômetros 
  da costa.
  O documento conclui que nos próximos dez anos o problema da escassez 
  de água para consumo humano nas regiões metropolitanas de São 
  Paulo, Belo Horizonte e Rio ficará mais grave. A falta de água 
  atingirá 40 milhões de pessoas, afirma o relatório, segundo 
  o qual as autoridades governamentais não têm tomado quaisquer providência 
  preventivas.
  Oportuno colocar que muitas regiões e até pequenos municípios 
  do estado de São Paulo, serão atingidas da mesma forma que nas 
  grandes cidades. 
  [Topo] 
  
Mais 
  de 27 milhões de crianças vivem na pobreza no Brasil, diz Unicef
  
  O relatório “O Estado da Criança no Mundo 
  2005” , divulgado pela Unicef no mês de dezembro, mostra que mais 
  de 27 milhões de crianças vivem abaixo da linha de pobreza no 
  Brasil, o que significa fazer parte das famílias com renda de até 
  meio salário mínimo.
  No total, 33,5% da população brasileira vivem com metade de um 
  salário mínimo. Desse grupo, 45% são crianças.
  O relatório também mostra uma queda no índice de mortalidade 
  infantil no Brasil. No entanto, segundo o documento, 35 crianças brasileiras 
  por cada mil, ainda morrem antes de completar cinco anos de idade, o que coloca 
  o país do lado de Peru e Cabo Verde.
  Suécia e Singapura se colocam com os menores índices - 3 crianças 
  mortas por cada mil, antes dos cinco anos.
Saneamento 
  básico
  Também segundo o documento, cerca de 44 milhões de brasileiros 
  vivem em condições sanitárias abaixo do mínimo esperado. 
   Este número é maior do que 
  o relatório do ano passado. 
  A situação é mais critica nas zonas rurais do país, 
  onde apenas 35% da população têm acesso a serviços 
  básicos sanitários. 
  A precariedade no abastecimento de água 
  é um dos problemas brasileiros em destaque no relatório. A situação 
  é mais grave nas áreas rurais do país onde apenas 58% da 
  população têm acesso à água potável.
Unicef 
  ressalta
  Que a situação no Brasil é preocupante. Mortalidade 
  infantil, falta de saneamento básico e água potável 
  e o crescente número de casos de homicídios entre adolescentes 
  e jovens, principalmente entre 15 e 24 anos, são desafios que o governo 
  e os governos locais ainda precisão resolver. 
  [Topo] 
  
  
  EDUCAÇÃO 
  AMBIENTAL NA SOCIEDADE
  Educação Ambiental. 
  O 
  melhor caminho e a melhor solução para o Desenvolvimento Sustentável.
Parece 
  que o paradigma entre quantidade e qualidade continua sendo o maior problema 
  a se resolver quando falamos de Educação. 
  A primeira responde à necessidade de “mostrar serviço” 
  na companhia de índices estatísticos e burocracias injustificadas 
  e cumprir o requisito do imediatismo. O outro lado pretende a construção 
  da cidadania mediante a preparação de multiplicadores comprometidos 
  com o progresso e a melhoria da qualidade de vida desde uma perspectiva de desenvolvimento 
  sustentável sem discurso e com amplo conteúdo e práticas 
  dinâmicas impulsionadas pela crítica.
Quando falamos de educação surgem uma série de dúvidas e de idas e voltas e sempre nos deparamos com perguntas muitas vezes com respostas que devemos guardar em cada um ou em pequenos grupos, respostas estas que nos colocam na frente muralhas construídas para retardar o progresso da cultura, da consciência e do civismo. Muitas vezes a Educação Socioambiental se alicerça no que se apresenta como adequado no que carece de história, conceitos e princípios e se “totalitariza” através de processos burocráticos, de dirigismos digestivos, de receitas de efeito imediato, de compromisso pontual e de descontinuidade anunciada, estes deficientes ou pela falta de investimentos, de vontade política, de compreensão e compromisso, por interesses ou por todas elas.
Cada 
  dia mais evidentes e presentes, crescem com maior rigor as discussões 
  críticas sobre o compromisso histórico e suas conseqüências 
  na abordagem dos conteúdos e da qualidade da educação, 
  a qual inexoravelmente deve ser focada na construção da consciência 
  social e no civismo centralizado na participação e no controle 
  social. 
  Não descartamos em absoluto as ferramentas primárias das condutas 
  e das iniciativas de reciclar, coletar seletivamente, plantar sementes e mudas, 
  economizar água e energia, etc., se estas ferramentas estiverem consorciadas 
  nas causas para depois seguir pelos efeitos e assim continuar na aplicação 
  das soluções emergenciais ou paliativas.
Devemos nos fazer algumas perguntas:
O que significa reciclar latinhas, quais são as economias e os benefícios envolvidos em toda a cadeia, que começa na existência do produto, origem, mercado, consumo, resíduo, intermediação, novamente produto, mercado e assim por diante. Há uma embalagem com menores custos ambientais? Se não há, é possível desenvolver-se uma nova menos impactante ou eu posso buscar uma no mercado com menores custos e conseqüências ambientais?
No 
  momento em que plantamos uma muda nativa, paramos para pensar quantas árvores 
  são arrancadas e quais as conseqüências ambientais imediatas 
  e no tempo?, existe algum impedimento legal para que isso não aconteça?, 
  se há, porque não se inibe aplicando o controle e a lei? de quem 
  é a responsabilidade? 
  Se eu economizo água pelo risco de faltar, por que faltaria?.
  Se eu ouço que há perdas no sistema de abastecimento, o que se 
  está fazendo para resolver essas perdas? 
Se 
  eu devo economizar energia, por que ela iria faltar?
  Se eu devo andar menos de carro, porque cada vez há mais construções 
  na cidade e menos ruas e muito mais carros e apenas um pouco mais de trens, 
  ônibus e metrôs e eles demoram mais para chegar ao ponto de destino?
  Se eu pago um imposto que envolve a coleta e destino do lixo, para quem eu devo 
  selecionar e separar os resíduos?, e essa economia, onde é aplicada? 
  Essas pessoas que eu organizo para que façam coleta para reciclagem e 
  trabalham informalmente, quando cheguem à velhice como se aposentarão?
  Essas pessoas, especialmente crianças, que coletam produtos recicláveis 
  nos lixões, além da segregação social não 
  sofrem riscos de contrair doenças?
  Por que há municípios que têm mais de 100 anos e não 
  têm saneamento básico e aterro adequado? 
  Por que todos esses folhetos ambientais são tão coloridos e impressos 
  em papel tão caro?
  Estes são apenas simples exemplos para educadores, monitores e multiplicadores. 
  Perguntas e respostas que, quando pensada a conscientização social, 
  obrigatoriamente necessitam ser feitas e objetivamente respondidas.
Lembrando José Bonifácio de Andrade e Silva (Representação à Constituinte e Legislativa do império do Brasil sobre a escravatura, 1823)*
“A Natureza fez tudo a nosso favor, nós porém pouco ou nada temos feito a favor da Natureza. Nossas terras estão ermas, e as poucas que temos roteado são mal cultivadas, porque o são por braços indolentes e forçados. Nossas numerosas minas, por falta de trabalhadores ativos e instruídos, estão desconhecidas ou mal aproveitadas. Nossas preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do fogo e do machado destruidor da ignorância e do egoísmo. Nossos montes e encostas vão-se escalvando diariamente, e com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes que favoreçam a vegetação e alimentem nossas fontes e rios, sem o que o nosso Brasil, em menos de dois séculos, ficará reduzido aos páramos e desertos áridos da Líbia. Virá então este dia (dia terrível e fatal), em que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos”
(*) Extraído do Livro “Um Sopro de Destruição” – Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista (1786-1888) de José Augusto Pádua – Companhia das Letras – Brasil
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A EMPRESA e a EDUCAÇÃO e COMUNICAÇÃO AMBIENTAL
Até 
  hoje poucas são as empresas, considerando sua totalidade, que têm 
  entendido que políticas definidas do uso de conceitos e práticas 
  de Educação Ambiental diretamente compreendidas no contexto produtivo, 
  isto quer dizer com conteúdos que contemplem os fatores de redução 
  do uso de recursos, bens e materiais, podem gerar melhorias produtivas e de 
  qualidade.
  Por 
  outro lado também devemos considerar que existem muitas empresas que 
  têm demonstrado notável superação às exigências 
  licenciatórias governamentais e normativas assim como têm adotado 
  políticas e condutas que as colocam dentro da pró-atividade, entendendo 
  que a questão ambiental pode significar ganhos competitivos e também 
  crescimento do capital intangível.
  Não 
  devemos desconsiderar que as questões ambientais estão aos poucos 
  promovendo diversas formas de barreiras, impedimentos ou exigências tanto 
  tecnológicas como de conduta, que cedo ou tarde poderão afetar 
  os mercados de empresas e até de setores.
  É 
  oportuno dizer que não se trata somente de adotar normas certificadas. 
  A conduta ambiental parte de uma política definida e esta de um conceito 
  que poderia ser o próprio Desenvolvimento Sustentável, sem deixar 
  de priorizar a responsabilidade social a qual não deveria ser entendida 
  como empreendimento assistencial e sim como investimento na recuperação 
  e conservação dos recursos e no aumento da qualidade de vida da 
  sociedade como um todo, e assim assegurar a existência e o progresso da 
  humanidade onde se inclui o econômico.
  Desde 
  nossa perspectiva, essas condutas e políticas podem ser vantajosas em 
  todos os segmentos econômicos independendo do seu porte, tamanho e atividade. 
  
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