EM PAUTA

ESPECIAL AQUECIMENTO GLOBAL (clique aqui)


TODO O UNIVERSO INDÍGENA EM PERIGO

TERRA PRECISARIA TER 50% MAIS RECURSOS PARA SUSTENTAR PADRÃO DE CONSUMO ATUAL

FAO DESTACA VÍNCULO ENTRE ALIMENTAÇÃO E ÁGUA

A ÁGUA NOVAMENTE ENTRE A VIDA E A MORTE

SÃO PAULO TERÁ CONFLITO POR ÁGUA EM 2020


QUANDO JEGUES PERDEM PARA MOTOCICLETAS - Washington Novaes

OS LIMITES DO CAPITAL SÃO OS LIMITES DA TERRA

UMA LEI DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL?

ECONOMIA VERDE VERSUS ECONOMIA SOLIDÁRIA - Leonardo Boff

O MUNDO DESENVOLVIDO VIVE ÀS CUSTAS DO SUL

CIVILIZAÇÃO DO RISCO

NOVE LIMITES DA TERRA PARA EVITAR MUDANÇAS CATASTRÓFICAS

RIO+20 - NOS ÚLTIMOS 40 ANOS SÓ 4 METAS AMBIENTAIS AVANÇARAM, REVELA ONU

TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO - 8 BILHÕES


ODM - OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

NA DESPENSA DA HUMANIDADE

HÁ CHÃO CONSISTENTE POR BAIXO?
UMA VERDADE INCONVENIENTE
RODOANEL VAI 'ENGOLIR' 2,8 MIL FAMÍLIAS - leia em Billings/notícias
AQUECIMENTO GLOBAL AMEAÇA DESERTOS
ESPECIALISTAS EXAMINAM AS CAUSAS DE ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR
FAO - META DE REDUÇÃO DA POBREZA SÓ SERÁ ATINGIDA EM 2150
IMPACTO DO EFEITO ESTUFA PODE SER MAIOR DO QUE O PREVISTO
AGROTÓXICO É A SEGUNDA CAUSA DE CONTAMINAÇÃO DE ÁGUA NO PAÍS
IMPACTOS PROVOCADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL
PROF. AZIZ AB'SABER FAZ DURAS CRÍTICAS À POLÍTICA AMBIENTAL DE LULA
O DESAFIO DA EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
UM ENFOQUE NA CULTURA SOCIOAMBIENTAL
POLUIÇÃO DA ÁGUA CRESCE DE FORMA CONSTANTE
MAIS DE 27 MILHÕES DE CRIANÇAS VIVEM NA POBREZA NO BRASIL
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA SOCIEDADE
EMPRESA - EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO AMBIENTAL

Todo o universo indígena em perigo
“A situação dos povos em isolamento voluntário, que são mais de 70 referências no Brasil, é grave”,
afirma Sydney Possuelo, presidente da Funai durante o governo Collor.

Presidente da Funai durante o governo Collor, Sydney Possuelo foi o responsável pela demarcação da terra indígena Yanomami. É tido como criador do departamento de índios isolados da Funai (atual Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato), responsável por institucionalizar a postura de não-contato com os povos indígenas em isolamento voluntário.

O tema é complexo, e hoje, a situação dos povos em isolamento voluntário, que são mais de 70 referências no Brasil, é grave. Em várias situações, como entre os awa-guaja no Maranhão, ou os Piripkura no norte do Mato Grosso, ou grupos isolados Yanomami, a situação é de risco grave de genocídio.
A qualquer momento, um desastre pode acontecer, com um ataque feito por madeireiros ou garimpeiros, nesses casos citados, podendo ocasionar o extermínio massivo de uma população. Ou seja: o crime de genocídio. E muitas obras do governo atingem diretamente essas áreas ocupadas por povos isolados, desde prospecção de petróleo no Vale do Javari a Usina Belo Monte. Para Possuelo, “Todo o universo indígena está a perigo, inclusive os isolados”.

CartaCapital: O que está acontecendo hoje, como explicar esse ataque aos direitos indígenas?

Sydney Possuelo: De um modo geral, a sociedade nacional nunca gostou de índio. Hoje, se soma a essa postura histórica de nunca gostar e não respeitar, a ação governamental que se alia aos tradicionais inimigos dos povos indígenas. O agronegócio, no Brasil, esta aliado ao governo. O governo está mais desmatando do que tudo. As grandes obras nacionais, hidrelétricas, que também se aliam ao governo porque é o governo que esta fazendo. Há um monte de ONG que dependem do governo, e elas não tem mais voz. Dentro da Funai não se encontra mais nenhum defensor dos índios. Aquela Funai antiga, que vários companheiros faziam da Funai um órgão de luta de defesa dos povos indígenas, hoje não existe mais.

Há ha uma convergência de fatores, vários fatores tradicionalmente anti-indígena, e todos convergem junto do governo por interesses. Uma situação que faz recrudescer a tradicional indiferença nacional com os povos indígenas. E, contra os índios, o agronegócio, o grande desenvolvimento a qualquer preço, as obras. Essas convergências se misturam com ausência de pessoas e fatores, e a própria imprensa, que antigamente era mais atuante a favor dos povos indígenas. Na imprensa, de um modo geral, os artigos são contra os povos indígenas. Não se tem vozes nacionais que se levantem na defesa. Todos calados, alimentando esse processo do governo com suas obras, a ideia do “Brasil grande” que precisa se desenvolver.

CC: Qual a ameaça dessas mudanças legislativas (PEC 215, PLP 227) para o futuro?

SP: Os índios estão mais ameaçados. Antigamente, a esperança era maior. Porque tínhamos muita atividade indigenista, demarcávamos terra, bastante vozes se levantavam na imprensa, grupos, entidades, falavam sobre os povos indígenas. Existia mais esperança. Hoje, é o contrario. A esperança diminui e aumenta as dificuldades para os povos indígenas. O resultado é que desde 1500 até hoje, com pequenos momentos mais leves na nossa historia politica, todo o processo ameaça os povos indígenas. A sociedade até entende, mas a ganancia e a possibilidade de ganhar dinheiro e fazer negócios predominam. Fatores que atuavam isoladamente, hoje estão todos juntos. Todo mundo em volta do governo, que é o elemento que converge esses interesses, que subordina a todos. Eu vejo esse governo como um dos mais nefastos com relação aos povos indígenas, desde a entrada do lula até hoje. A postura é: vamos desenvolver. O índio permanece sendo o entrave.

CC: Como esse processo de força contrário aos índios se tornou tão poderoso e influente?

SP: O polarizador foi o governo, com bilhões de reais, ele faz a estrada, e quem faz a estrada esta a favor do governo, é a empreiteira, o governo deixa desmatar, “autoriza”. E o governo alimenta essa situação porque o que eles querem é a produção de mais carne, de mais soja para mais gente criar boi na Europa e na China. Os interesses do governo convergem com parte da sociedade nacional, os construtores de estrada, os chamados desbravadores.

CC: O que pode ser feito? Ou o que deveria ser feito no Brasil?

SP: Não é simples, e não basta simplesmente mudar o governo. Historicamente, os governos de centro ou esquerda ou direita, seja qual for a tendência, sempre foram contrários aos índios. Uns mais, outros menos. Não acredito que venha um governo de centro, ou de direita, que vai transformar. É uma coisa incorporada a nossa sociedade, por vários motivos histórico. Como vamos ter um órgão a favor dos índios se o governo não se porta a favor dos índios. E não falo só do federal, mas o estadual e municipal: todos são contrários aos índios. Na época das demarcações que fizemos nos meus dois anos de presidência da Funai, tivemos uma ação demarcatória muito positiva, no governo Collor. Em um ano duplicamos a superfície de terras indígenas no brasil. Houve momento em que essa situação estava melhor, como voltar a uma atividade mais respeitosa. Como respeitar os povos indígenas se a gente não se respeita? Somos uma sociedade que tem que caminhar muito.

CC: E como está a situação dos povos indígenas isolados, tema com o qual o senhor trabalhou durante muitos anos?

SP: A situação dos índios isolados está igual a dos outros povos: de mal a pior. tudo aquilo que fizemos com a criação do departamento de índios isolados, com seis ou sete equipes funcionando, mantendo a terra, dando um pouco de sossego para os índios, tudo aquilo se perdeu. Perdeu-se a motivação porque não tem mais aquelas pessoas, que foram anuladas e mandadas embora, e a começar por mim mesmo, mas, todos os que contribuíram de alguma forma. Antes da criação desse departamento e toda a filosofia que eu implantei, cada um fazia aquilo que queria. Fizemos uma filosofia de não contato, porque são sociedades vulneráveis, e somos tão grande, porque não sermos um pouco generosos e deixá-los nas sua áreas? As frentes estão abandonadas, não tem pessoas motivadas trabalhando nelas. Os índios isolados estão tão a perigo quanto os que estão contatados. Todo o universo indígena esta a perigo, inclusive os isolados.

Eu não consigo ver lados positivos em qualquer desenvolvimento que não respeite as populações diretamente afetadas, que não considere elas, que não faça obras de atenuação dos impactos. Impactos sempre vão ocorrer, mas convém atenuar. Senão não é desenvolvimento nem sustentável nem ético.

* Felipe Milanez é pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Felipe Milanez escreve sobre meio ambiente, conflitos sociais e questões indígenas. É também pesquisador visitante na Universidade de Manchester e integra o European Network of Political Ecology (Entitle). Twitter: @felipedjeguaka

Fonte: Carta Capital

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Terra precisaria ter 50% mais recursos para sustentar padrão de consumo atual

Esgotamento foi registrado mais cedo do que em 2012 (22 de agosto). Foto: woodleywonderworks.

O planeta Terra teria que “fechar as portas” na terça-feira, 20 de agosto, caso a humanidade se comprometesse a consumir a cada ano só os recursos naturais que pudessem ser repostos no mesmo período. A estimativa é da Global Footprint Network, organização não governamental que calcula o “Dia da Sobrecarga”.
Em 2013, o esgotamento foi registrado mais cedo do que em 2012 (22 de agosto), e a piora tem sido uma constante. “A cada ano, temos o Dia da Sobrecarga antecipado em dois ou três dias”, destacou à Folha Juan Carlos Morales, diretor regional da entidade na América Latina.
A Global Footprint Network promove o uso do conceito de “pegada ambiental”, uma medida objetiva do impacto do consumo humano sobre recursos naturais. No Dia da Sobrecarga, porém, expressa-o de outra maneira: para sustentar o atual padrão médio de consumo da humanidade, a Terra precisaria ter 50% mais recursos.
Para fazer a conta, a ONG usa dados da ONU, da Agência Internacional de Energia, da OMC (Organização Mundial do Comércio) e busca detalhes em dados dos governos dos próprios países.

Critérios considerados
O número leva em conta o consumo global, a eficiência de produção de bens, o tamanho da população e a capacidade da natureza de prover recursos e biodegradar/reciclar resíduos. Isso é traduzido em unidades de “hectares globais”, que representam tanto áreas cultiváveis quanto reservas de manancial e até recursos pesqueiros disponíveis em águas internacionais.
A emissão de gases de efeito estufa também entra na conta, e países ganham mais pontos por preservar florestas que retêm carbono.
Apesar de ter começado a calcular o Dia da Sobrecarga há uma década, a Global Footprint compila dados que remontam a 1961. Desde aquele ano, a sobrecarga ambiental dobrou no planeta, e a projeção atual é de que precisemos de duas Terras para sustentar a humanidade antes de 2050. A mensagem é que esse padrão de desenvolvimento não tem como se sustentar por muito tempo.

“O problema hoje não é só proteger o ambiente, mas também a economia pois os países têm ficado mais dependentes de importação, o que faz o preço das commodities disparar”, ressaltou Morales. “Isso ocorre porque os serviços ambientais [benefícios que tiramos dos ecossistemas] já não são suficientes”.

Brasil credor ambiental
No panorama traçado pela Global Footprint Network, o Brasil aparece ainda como um “credor” ambiental, pois oferece ao mundo mais recursos naturais do que consome. Isso se deve em grande parte à Amazônia, que retém muito carbono nas árvores, e a uma grande oferta ainda de terras agricultáveis não desgastadas.
Mas, segundo a WWF-Brasil, que faz o cálculo da pegada ambiental do país, nossa margem de manobra está diminuindo e exibe grandes desigualdades regionais. “Na cidade de São Paulo, usamos mais de duas vezes e meia a área correspondente a tudo o que consumimos”, justificou Maria Cecília Wey de Brito, da WWF. O número é similar ao da China, um dos maiores “devedores” ambientais.

Entre os principais devedores ambientais (consomem mais do que repõem) estão: Japão, Qatar, Suíça, Itália, Reino Unido, Grécia, China, Egito e Estados Unidos.

Já entre os principais credores (consomem menos do que repõem) destacam-se: Indonésia, Suécia, Austrália, Madagascar, Canadá e Brasil.
Fonte: EcoD

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FAO destaca vínculo inseparável entre alimentação e água
Thalif Deen

Roma, Itália, 21/6/2013, (IPS) - Como a água e a alimentação são coisas que estão estreitamente ligadas, há um perigo latente de que, se a primeira escassear, a segunda faltará.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) destacou os fortes vínculos entre os dois temas, ao assinalar que a produção rural responde por mais de 70% do uso da água no mundo.
Em um informe divulgado em Roma - onde realiza sua 38ª Conferência Bianual, que começou no dia 15 e terminará amanhã - a FAO alertou que a parte da água disponível para a agricultura cairá em 40% até 2050. Sua projeção se baseia em estatísticas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), que tem entre seus integrantes os países mais industrializados.

A disponibilidade de água potável mostra uma tendência semelhante à das terras: há recursos suficientes em nível mundial, mas distribuídos de forma desigual. Entretanto, em um número cada vez maior de países ou partes destes, há escassez de água, segundo a FAO. Devido à sua vulnerabilidade, as áreas costeiras, a bacia do Mediterrâneo, os países do norte da África e da Ásia central parecem ser lugares onde os investimentos em técnicas de manejo de água devem ser considerados uma prioridade quando se trata de promover a produtividade agrícola.
Consultado sobre se o vínculo entre produtividade agrícola e escassez de água é real, Jan Lundqvist, assessor científico do Instituto Internacional da Água de Estocolmo (Siwi), disse à IPS que "sim e não". Se não há água (por exemplo, nos desertos), não se pode produzir alimentos, afirmou. Mas, acrescentou, a água é um recurso renovável e o ciclo hidrológico continuará no futuro.
O problema é que está cada vez mais difícil, caro e perigoso, segundo Lundqvist, desviar água dos rios e lagos ou extrair a que se encontra nas reservas subterrâneas. "Ao mesmo tempo, com o desenvolvimento econômico, aumenta a demanda de água por habitante", pontuou. O fato de se necessitar deste recurso para produzir tudo o que o ser humano come ficou claramente ilustrado em uma exposição realizada no Siwi no ano passado.
Naquela ocasião foi explicado que a produção de um hambúrguer médio (duas fatias de pão, carne, tomate, alface, cebola e queijo) consome cerca de 2.389 litros de água, contra 140 litros para uma xícara de café e 135 para um simples ovo. Para um prato de arroz com carne e verduras são necessários 4.230 litros, enquanto um grosso e suculento bife, alimento básico em muitos países do Norte industrializado, consome uma das maiores quantidades de água: aproximadamente sete mil litros.
Vincent Casey, gerente de apoio técnico da organização WaterAid, com sede em Londres, disse à IPS que a agricultura irrigada responde pela maior parte da extração de água em muitos países. A escassez poderia ser prevenida mudando as práticas agrícolas, argumentou. É possível modificar os tipos de cultivos, os métodos de irrigação e as tarifas da água para reduzir a demanda. Mas essas ações exigem compromisso político, o que pode ser difícil de obter, reconheceu.
Para garantir a segurança da água também é necessária uma boa administração dos recursos e dos serviços de fornecimento, como bombas, tubulações e tanques de reserva. A escassez de água já é uma realidade para mais de 760 milhões de pessoas, alertou Casey, em grande parte pela falta de serviços de fornecimento. "Se não tivéssemos represas, tubulações e torneiras na Grã-Bretanha, também sofreríamos escassez", afirmou.
Para enfrentar a crise do fornecimento será preciso controlar a demanda nas áreas onde os recursos estão mais pressionados, e ampliar a oferta aos lugares onde há dificuldades de acesso. Se existe escassez de água, a produção de alimentos é afetada por muitos motivos, observou Lundqvist. Em primeiro lugar porque outros setores demandam uma boa parte do fornecimento. Com a crescente urbanização, tanto a indústria como as famílias necessitarão de água adicional. "A água está ficando escassa, não só pela redução no volume, como também porque está aumentando a demanda da sociedade", ressaltou Lundqvist.
Um segundo motivo é que o padrão de chuvas ficará mais alterado devido à mudança climática. A incerteza e os riscos aumentarão para os agricultores. Isto é particularmente problemático para a agricultura que depende da chuva, afirmou Lundqvist. E a situação ficará mais complexa conforme as secas e inundações se tornarem mais frequentes e amplas. Por outro lado, o aumento das temperaturas acelera a evaporação da água, o que também complica para os agricultores.

Nessas circunstâncias, e considerando o fato de que se produz comida suficiente para alimentar de forma adequada toda a população mundial, é vital garantir que esses alimentos cheguem a todos, inclusive aos pobres. Segundo Lundqvist, entre um terço e metade dos alimentos produzidos é desperdiçado ou transformado. Isto significa uma enorme perda de recursos. "Deveremos caminhar bem firme no futuro, assegurando que se produza o necessário, que se possa ter acesso à produção e que esta seja aproveitada", destacou. IPS (FIN/2013)
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Economia verde versus economia solidária.
Artigo de Leonardo Boff

“O futuro que queremos”, lema central do documento da ONU, não é outra coisa senão o prolongamento do presente. Este se apresenta ameaçador e nega um futuro de esperança. Num contexto desses, não avançar é retroceder e fechar as portas para o novo", escreve Leonardo Boff, filósofo, teólogo e escritor.

Segundo ele, junto com a "Rio+20 seria um ganho resgatar também a Estocolmo+40", pois, continua Leonardo Boff, "nesta primeira conferência mundial da ONU de 5-15 de julho de1972 em Estocolmo na Suécia sobre o Ambiente Humano, o foco central não era o desenvolvimento mas o cuidado e a responsabilidade coletiva por tudo o que nos cerca e que está em acelerado processo de degradação, afetando a todos e especialmente aos países pobres. Era uma perspectiva humanística e generosa. Ela se perdeu com a cartilha fechada do desenvolvimento sustentável e agora com a economia verde".

Eis o artigo.

O Documento Zero da ONU para a Rio+20 é ainda refém do velho paradigma da dominação da natureza para extrair dela os maiores benefícios possíveis para os negócios e para o mercado. Através dele e nele o ser humano deve buscar os meios de sua vida e subsistência. A economia verde radicaliza essa tendência, pois, como escreveu o diplomata e ecologista boliviano Pablo Solón, “ela busca não apenas mercantilizar a madeira das florestas mas também sua capacidade de absorção de dióxido de carbono”. Tudo isso pode se transformar em bônus negociáveis pelo mercado e pelos bancos. Destarte, o texto se revela definitivamente antropocêntrico como se tudo se destinasse ao uso exclusivo dos humanos e a Terra tivesse criado somente a eles, e não a outros seres vivos que exigem também sustentabilidade das condições ecológicas para a sua permanência neste planeta.

Resumidamente: “O futuro que queremos”, lema central do documento da ONU, não é outra coisa senão o prolongamento do presente. Este se apresenta ameaçador e nega um futuro de esperança. Num contexto desses, não avançar é retroceder e fechar as portas para o novo.

Há outrossim um agravante: todo o texto gira ao redor da economia. Por mais que a pintemos de marrom ou de verde, ela guarda sempre sua lógica interna que se formula nesta pergunta: quanto posso ganhar no tempo mais curto, com o investimento menor possível, mantendo forte a concorrência? Não sejamos ingênuos: o negócio da economia vigente é o negócio. Ela não propõe uma nova relação para com a natureza, sentindo-se parte dela e responsável por sua vitalidade e integridade. Antes, move-lhe uma guerra total, como denuncia o filósofo da ecologia Michel Serres. Nesta guerra não possuímos nenhuma chance de vitória. Ela ignora nossos intentos. Segue seu curso mesmo sem a nossa presença. Tarefa da inteligência é decifrar o que ela nos quer dizer (pelos eventos extremos, pelos tsunamis etc.), defender-nos de efeitos maléficos e colocar suas energias a nosso favor. Ela nos oferece informações mas não nos dita comportamentos. Estes devem se inventados por nós mesmos. Eles somente serão bons caso estiverem em conformidade com seus ritmos e ciclos.

Como alternativa a esta economia de devastação, precisamos, se queremos ter futuro, opor-lhe outro paradigma de economia de preservação, conservação e sustentação de toda a vida. Precisamos produzir sim, mas a partir dos bens e serviços que a natureza nos oferece gratuitamente, respeitando o alcance e os limites de cada biorregião, distribuindo com equidade os frutos alcançados, pensando nos direitos das gerações futuras e nos demais seres da comunidade de vida. Ela ganha corpo hoje através da economia biocentrada, solidária, agroecológica, familiar e orgânica. Nela cada comunidade busca garantir sua soberania alimentar. Produz o que consome, articulando produtores e consumidores numa verdadeira democracia alimentar.

A Rio-92 consagrou o conceito antropocêntrico e reducionista de desenvolvimento sustentável, elaborado pelo relatório Brundland de 1987 da ONU. Ele se transformou num dogma professado pelos documentos oficiais, pelos Estados e empresas sem nunca ser submetido a uma crítica séria. Ele sequestrou a sustentabilidade só para seu campo e assim distorceu as relações para com a natureza. Os desastres que causava nela, eram vistos como externalidades que não cabia considerar. Ocorre que estas se tornaram ameaçadoras, capazes de destruir as bases físico-químicas que sustentam a vida humana e grande parte da biosfera. Isso não é superado pela economia verde. Ela configura uma armadilha dos países ricos, especialmente da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) que produziu o texto teórico do PNUMA Iniciativa da Economia Verde. Com isso, astutamente descartam a discussão sobre a sustentabilidade, a injustiça social e ecológica, o aquecimento global, o modelo econômico falido e mudança de olhar sobre o planeta que possa projetar um real futuro para a humanidade e para a Terra.

Junto com a Rio+20 seria um ganho resgatar também a Estocolmo+40. Nesta primeira conferência mundial da ONU de 5 a 15 de julho de1972 em Estocolmo na Suécia sobre o Ambiente Humano, o foco central não era o desenvolvimento mas o cuidado e a responsabilidade coletiva por tudo o que nos cerca e que está em acelerado processo de degradação, afetando a todos e especialmente aos países pobres. Era uma perspectiva humanística e generosa. Ela se perdeu com a cartilha fechada do desenvolvimento sustentável e agora com a economia verde.


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Nos últimos 40 anos, só quatro metas ambientais avançaram, revela ONU
Pnuma avalia que monitoramento, cobrança e prazos são essenciais para fazer projetos avançarem


RIO DE JANEIRO - Das 90 metas ambientais mais importantes traçadas pelos países nos últimos 40 anos, só quatro avançaram significativamente. Divulgada nesta quarta-feira, a conclusão do Panorama Ambiental Global (GEO-5), análise cuidadosa feita por cientistas de todo o mundo a cada cinco anos, e coordenada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), fez soar o alerta a uma semana da Rio+20: de nada adiantam os acordos se não houver prazos, monitoramento e cobrança.

Marcos de Paula/AE
Relatório será encaminhado a líderes na Rio+20
O relatório, que consumiu dois anos e meio de trabalho de mais de 300 especialistas, aponta desafios já conhecidos, como as mudanças climáticas (há perspectiva de aumento de três graus ou mais na temperatura global até o fim do século), a perda progressiva de biodiversidade (cerca de 20% das espécies de vertebrados estão ameaçadas) e a escassez de água (mais de 600 milhões de pessoas não terão acesso à água potável segura até 2015).

O diagnóstico será enviado aos mais de 180 representantes de governos presentes à Rio+20. A ONU espera que os dados - em sua maioria, alarmantes, apesar de alguns aspectos positivos na comparação com os GEOs anteriores, como a redução do desmatamento na Amazônia e o esforço chinês para o reflorestamento, a diminuição da poluição do ar e os investimentos em energias renováveis - impactem as decisões. No entanto, não há garantias. "Nos últimos 20 anos, muitos desses relatórios foram jogados no lixo. Mas hoje existe uma inquietude na sociedade que não permite que aconteça de novo", disse o diretor do Pnuma, Achim Steiner. "As ações têm que começar ontem. Estamos vindo de uma inércia de 20 anos, e a Rio+20 é o momento de romper com isso. Em muitos aspectos já não há mais volta", afirmou Carlos Nobre, que representou o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Entre as 90 metas, as quatro bem sucedidas foram o fim da produção de substâncias que destroem a camada de ozônio, a eliminação do uso do chumbo em comestíveis, a melhoria do acesso à água e o incremento nas pesquisas para reduzir a poluição. Já nas áreas de preservação de estoques de peixes e de freio nos processos de desertificação, secas e de mudanças climáticas não houve avanço. Em 24 metas verificou-se pouco ou nenhum avanço e em oito, entre elas a relacionada às condições dos recifes de coral no mundo, uma piora do quadro em relação aos relatórios anteriores.

O momento é, portanto, de urgência na reversão de danos e do modelo de desenvolvimento atual para um que contemple a sustentabilidade. Para tanto, o GEO-5 explicita a necessidade de objetivos claros, de curto e longo prazo, com previsão de sanções - justamente um dos pontos frágeis da Rio+20. Segundo o relatório, decisões acertadas de governos são responsáveis por 39% das políticas que se provaram bem sucedidas; enquanto isso, dependem de empresas e das comunidades apenas 22% delas.

"Não tivemos mais avanços porque os governos não abraçaram o desenvolvimento sustentável. Essa é a primeira vez em que, desde o início da discussão, as áreas econômica e ambiental estão juntas", apontou Henrietta Elizabeth Thompson, coordenadora executiva da ONU para a Rio+20. O capítulo dedicado à América Latina e Caribe - região detentora de um terço da água do planeta e um quarto das florestas - lista como maior problema a ser combatido a desigualdade social.

06.06.12 - Roberta Pennafort - Agência Estado
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Custo da transposição do São Francisco já aumentou 71% e projeto vai superar R$ 8 bilhões

Vencido o prazo original em que a transposição do Rio São Francisco deveria estar pronta e funcionando no semiárido nordestino, a obra registrou aumento de R$ 3,4 bilhões - ou 71% - em seus custos em relação à previsão inicial, segundo a mais recente estimativa feita pelo Ministério da Integração Nacional. Desde o início do governo Dilma Rousseff, o custo total da obra pulou de R$ 4,8 bilhões para R$ 8,2 bilhões. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva previa inaugurar a obra em 2010.A reportagem é de Marta Salomon e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 23-03-2012.

Isso significa que, se a transposição fosse uma aplicação financeira, teria rendido 65% acima da inflação do período. Para essa comparação, o Estado usou a variação de preços medida pelo IPCA, índice usado no regime de metas de inflação do governo. A alta foi de 8,2% entre dezembro de 2010 e março de 2012.
A construção de cerca de 600 quilômetros de canais de concreto que desviarão parte das águas do rio ainda deve consumir mais 45 meses. O preço aumentou com a renegociação dos contratos originais e o lançamento programado de mais de R$ 2,6 bilhões em novas licitações.

Iniciada em 2007 como a mais cara a ser paga com dinheiro dos tributos entre os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a obra da transposição do São Francisco está parada em três trechos: em Salgueiro (PE), Verdejante (PE) e São José das Piranhas (PB). Os contratos originais referentes a esses trechos serão rompidos e haverá nova licitação. Também serão licitados trechos de obras "remanescentes" ao longo de quase toda a extensão do projeto.
Há dois outros trechos em reforma, pois placas de concreto que haviam sido colocadas racharam, registraram fissuras, ou se deslocaram, supostamente por falhas na drenagem de canais que não suportaram chuvas fortes.
Todos os demais trechos tocados pela iniciativa privada tiveram os preços aumentados em até 25%, limite fixado pela lei de licitações.

Novos editais

Só neste mês, o Ministério da Integração Nacional lança quatro novos editais para a licitação de R$ 2 bilhões em obras. Até junho, outros dois editais serão lançados, ao custo estimado em R$ 645 milhões. O total é superior ao previsto pelo ministro Fernando Bezerra Coelho menos de três meses atrás, quando revelou ao Estado que a obra custaria R$ 1,2 bilhão extra.
Responsável pela obra, o Ministério da Integração atribuiu o aumento do custo da obra a adaptações no empreendimento, em decorrência do detalhamento dos projetos. As obras começaram de forma apressada, sem os respectivos projetos executivos. Além disso, segundo o ministério, "a forte demanda" sobre a construção civil e a construção pesada pressionou os custos.
No mesmo período em que o preço da transposição aumentou 71%, os custos da construção civil no Brasil cresceram 6,9%. No Nordeste, local da obra, os custos cresceram 7,2%.

O Ministério do Planejamento, que coordena o PAC, autorizou o aumento do custo da obra. "Os aditivos são explicados pelo avanço dos projetos executivos, que têm identificado, com maior grau de precisão, as intervenções necessárias para a completude (sic) do projeto de interligação (sic) do São Francisco", informou em nota a assessoria da ministra Miriam Belchior.
O início das obras, em 2007, sem o projeto executivo, não seria um caso único entre os projetos do PAC, continua a nota, que classifica o projeto como "estratégico, desafiador e fundamental" para 390 cidades dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
O Ministério da Integração evita criticar abertamente o início das obras sem um projeto detalhado porque isso aconteceu sob a gestão do então ministro Ciro Gomes, correligionário no PSB do atual ministro Fernando Bezerra e padrinho do novo secretário de recursos hídricos da pasta, Francisco Teixeira, principal executivo da transposição. No início das obras, Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, era citada como a "mãe" do PAC.
Segundo o Ministério da Integração, é responsabilidade das empreiteiras já contratadas recuperar cerca de 900 metros de canais de concreto danificados antes mesmo de entrarem em uso. "Essas falhas serão refeitas, sem custo adicional para os cofres públicos", reiterou a pasta, referindo-se a trechos deteriorados dos canais, revelados pelo Estado, no final do ano passado.

No início deste ano, outros 240 metros do canal foram danificados no Ceará por causa das "fortes chuvas" em Mauriti. O ministério contabiliza que 150 quilômetros foram concretados até o momento.

Fonte: UNISINOS/ARUANDA AMBIENTE 23.03.2012
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Quando jegues perdem para motocicletas...
Washington Novaes

Durante a semana passada, com a realização do Fórum Mundial da Água em Marselha, na França, a comunicação bombardeou os leitores/espectadores com uma pletora de informações a esse respeito – que tranquilizam, por alguns ângulos, e inquietam, por outros.

Uma pesquisa da Universidade de Twente, na Holanda, por exemplo, diz que o mundo consome 9 trilhões de metros cúbicos de água por ano – 20% dos quais estão embutidos em produtos exportados (o que faz do Brasil grande “exportador virtual” de água).

Já a ONU informou que em duas décadas mais 2 bilhões de pessoas passaram a ter acesso a água de boa qualidade; com isso se reduziu à metade a parcela da população desfavorecida; agora, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Mundial de Saúde, 89% das pessoas (6,1 bilhões de pessoas) dispõem de água potável; e 11% (785 milhões) não a têm.

Já no saneamento a situação continua dramática: 3,5 bilhões não têm suas casas ligadas a redes de esgotos. Mas nas áreas rurais dos países mais pobres 97% não têm água canalizada. A cada ano morrem no mundo 1,5 milhão de crianças (4,5 mil por dia) vitimadas por doenças transmitidas pela água, principalmente diarréias.

Mas há notícias boas, como a de que se conseguiu em uma década economizar na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) – quase 20 milhões de pessoas – cerca de 14 bilhões de litros mensais de água com programas de combate a perdas (vazamentos e furtos), que eram de 32% do total de água posta à disposição pelas estações de tratamento; hoje as perdas estão em 25,6% e se pretende chegar em 2019 a entre 10% e 15%, com investimentos de R$ 4,3 bilhões (Estado, 1.º/3). É uma situação muito melhor que a média brasileira nas cidades, onde as perdas estão próximas de 40% do total.

Na RMSP a disponibilidade de água é de 146 mil litros anuais por habitante (400 litros/dia). Mesmo se reduzirmos as perdas a 15%, ainda estaremos longe do Japão (que nos está fornecendo tecnologia), onde essa perda é de 3%.
Aqui, um dos dramas está na extensão das redes – 32,7 mil km na RMSP. Mas é uma questão vital, porque a região metropolitana só dispõe de 1,6% da água do País. E mesmo assim com água “viajando” até 120 km, como no sistema Cantareira.

Já no saneamento básico a situação brasileira continua constrangedora, como se tem comentado neste espaço. Só 45,7% da população (IBGE) têm suas casas conectada a redes de esgotos e, do que é coletado, apenas 37,9% recebem algum tipo de tratamento, em geral primário, que devolve aos rios metade da carga orgânica e não trata da poluição secundária e terciária. Ou seja, poluímos os cursos d’água com mais de metade dos 9,3 bilhões de litros de esgotos gerados a cada dia. Fossas sépticas em pouco mais de 50% das residências amenizam a situação; 2.495 municípios não dispõem de sistemas de esgotos.

Na Região Norte do País, a situação é dramática: só 13,5% da população conta com rede de esgotos. No Nordeste, 33,8%. Só 30% das obras do PAC nesse setor foram concluídas. E a Agência Nacional de Águas (ANA) pede investimentos de R$ 22,1 bilhões em cinco anos nas infraestruturas para que não falte água na maioria dos municípios em 2025.

Com todos esses dramas, o governo federal continua a garantir que o projeto de transposição de águas do Rio São Francisco – paralisado em tantos lugares, apesar do aumento dos custos – resolverá o problema do abastecimento de água no semiárido. Quando, desde o estudo de impacto ambiental, foi afirmado que 70% da água transposta iria para irrigação em grandes projetos de exportação, 26% para uso industrial e só 4% para a chamada “população difusa” – ainda assim, reforçando o abastecimento em cidades que chegam a desperdiçar até 70% da água que distribuem. Mais ainda, a F undação Getúlio Vargas calcula o custo da água no Eixo Leste em R$ 0,13 por metro cúbico, quando a média nacional é de R$ 0,02.

Em certos momentos, a impressão é de que se reserva para o Nordeste certa cota de notícias indesejáveis. Uma delas é na área do abastecimento de comunidades isoladas, aonde não chegará água da transposição. Há muitos anos uma coligação de ONGs – chamada de Articulação do Semiárido – vem instalando nesses locais as chamadas cisternas de placa, com revestimento de concreto para impedir que se infiltre na terra a água de chuvas recolhida nos telhados e para elas canalizada.

Cada cisterna consegue abastecer com 20 litros diários cada pessoa de uma família, na estiagem. Ao custo de pouco mais de R$ 1 mil por unidade, já foram construídas mais de 300 mil e é preciso implantar outras centenas de milhares. Pois bem, há poucas semanas o governo federal anunciou que substituiria as cisternas de placa por cisternas de plástico, muito mais caras (R$ 5 mil cada).

E algumas das primeiras instaladas, com três meses ao sol, já se estão derretendo (texto e fotos de Roberto Malvezzi/CPT, 5/3), quando tinham “garantia” de 15 anos. O governo federal já recuou de 300 mil para 60 mil cisternas de plástico e assegura que o derretimento foi apenas um “acidente” já resolvido – mas ainda não faz sentido. Sem falar que poderia optar também pelas minibarragens desenvolvidas pela Embrapa Sete Lagoas.

Não bastasse, o Ministério da Agricultura pensa agora em liberar variedades de mandioca resistentes ao glifosato (usado com transgênicos), quando a mandioca, a mais brasileira das variedades de alimento, mais adaptada aos nossos solos, não costuma precisar nem de fertilizantes nem de agrotóxicos.

Devem estar estimulados por tantos descaminhos produtores nordestinos que decidiram agora vender à China 300 mil jegues por ano, para serem abatidos pelas indústrias de cosméticos e alimentos (remaatlantico, 7/3). Dizem os exportadores que não há mais lugar para jegues, substituídos no sertão por motocicletas.

Glauber Rocha, lá do seu canto, deve estar pensando que o sertão vai mesmo virar mar e o mar vai virar sertão.

(Fonte: O Estado de S. Paulo) - 22.03.12
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A água novamente entre a vida e a morte

O Conselho Mundial da Água, liderado por empresas como Veoliam, Suez, Coca Cola, Monsanto e outras grandes transnacionais desenvolveu uma visão muito sofisticada da água, uma visão que está fundamentada no conceito de que ela é um bem mercantil necessário para a vida e a ecologia, funcional aos direitos humanos e à sobrevivência e, portanto...um grande negócio. Como é possível que o Fórum Mundial da Água negue-se a reconhecer o direito humano à água e ao saneamento? O artigo é de Elizabeth Beltrán.
Elizabeth Peredo Beltrán (*) - Alai-Amlatina
Passaram-se já 15 anos da primeira edição do Fórum Mundial da Água e 20 da Declaração do Rio. Durante esses anos, o Conselho Mundial da Água, liderado por empresas como Veoliam, Suez, Coca Cola, Monsanto e outras grandes transnacionais desenvolveram uma visão muito sofisticada da água, uma visão que está fundamentada no conceito de que água é um bem mercantil necessário para a vida e a ecologia, funcionais aos direitos humanos e à sobrevivência e, portanto...um grande negócio.

Em todo esse período, ao invés de melhorar o cuidado com as fontes e aquíferos em todo o mundo a situação piorou substancialmente. Os equilíbrios ecológicos necessários para a sobrevivência e a fluidez do ciclo hidrológico foram rompidos como nunca havia acontecido, devido aos processos de agroindústria em larga escala, contaminação mineradora e projetos de energia baseados na construção de enormes hidroelétricas, entre outras causas. As empresas, por sua vez, estão buscando cada vez ganhar mais terreno da gestão pública e seguem ocorrendo debates entre gestores públicos e empresários diplomáticos corporativistas que tentam nos convencer de que o papel do setor privado é absolutamente necessário para a gestão da água.

Nestes debates e acordos de governança global da água pretende-se deslegitimar a gestão pública e fortalecer o conceito que foi desenvolvido pelo Consenso de Washington: o desenvolvimento e o cumprimento dos objetivos do Milênio só serão possíveis se existir um forte investimento privado; portanto, o desenvolvimento, os direitos humanos e os equilíbrios ecológicos estão ligados à sorte do mercado.

Este princípio permitiu construir um sistema especulativo de alto voo que agora é reforçado com o desenvolvimento da economia verde que é mais do mesmo, mas concebido para criar mercados especulativos coloridos com uma tinta verde acrescentada para dar a sensação de que se está protegendo o planeta e com a intenção de mercantilizá-lo todo; não só a água que tomamos e até o ar que respiramos, mas inclusive o futuro do planeta. Ainda que pareça ficção científica, isso é possível assim como foi possível que desde este Fórum tenham surgido soluções técnicas e corporativas escandalosas há alguns anos e que agora estão sendo colocadas em prática.

Em Haia, o Fórum Mundial da Água de 2003 se propôs incentivar a criação de sementes transgênicas para “poupar água”, sob o diagnóstico de que a agricultura é a atividade que consome mais água em todo o mundo. Na época, os ativistas da água reclamaram que esta solução podia se constituir em um crime que poderia afetar a saúde de todo o mundo e lançaram campanhas para evitar as sementes transgênicas e incluir o princípio de precaução nestas tecnologias. Hoje, as sementes transgênicas são parte do comércio mundial de alimentos e suas tecnologias e insumos. Nesta semana a Argentina apresentou ao mundo com orgulho o patenteamento de uma nova semente transgênica capaz de “poupar” água na produção de trigo, milho e soja em nível mundial.

As coisas vão mal porque deixaram as decisões mais importantes sobre a vida e sobre o planeta nas mãos das corporações e de governos poderosos e desenvolvimentistas que, baseados no princípio de que tudo se compra, se paga, se vende ou se repara pagando, levaram até os limites a impossibilidade de construir uma sociedade solidária, protetora do meio ambiente e, sobretudo, respeitosa de um bem sagrado para a vida como é a água.

O Fórum Mundial da Água se negou sistematicamente a apoiar em suas declarações o Direito Humano à Água e ao Saneamento. No Fórum Mundial da Água do México, em 2006, foram apenas quatro os países que assinaram uma declaração minoritária exigindo o direito humano à água, entre eles Uruguai e Bolívia. No entanto, nas Nações Unidas, há dois anos não houve nem um só voto contra a Resolução 64/292 declarando o Direito Humano à Água e ao Saneamento. Os países que se opunham a ela só puderam se abster de votar, mas não explicitar sua negativa a um evidente consenso gerado pelos povos e pelos países que sabem que esse é um direito inalienável para a humanidade.

Como é possível que, sistematicamente, o FMA se negue a reconhecer esse direito e que, na ONU, ele tenha sido aprovado sem oposição há dois anos?
Sendo que são os mesmos países que fazem parte das declarações ministeriais, por um lado, e das resoluções e conferências, por outro. Por que é que agora que ocorreu esse passo tão importante na ONU, o FMA não avança, mas, ao contrário, busca retroceder e diminuir as possibilidades de implementação do direito humano à água, favorecendo os processos de privatização? Mais do que isso, agora o FMA está decididamente disposto a incluir a água em “todas as suas dimensões econômicas, sociais e ambientais em um marco de governança, financiamento e cooperação”...como afirma sua declaração emitida ontem, apesar do protesto de alguns países.

Enquanto isso, milhares, senão milhões de experiências e iniciativas de gestão social e solidária, experiências exitosas de gestão pública, são implementadas com base no conceito de que água é um bem comum, um bem não mercantil para a vida.

As políticas e visões promovidas pelo Fórum Mundial da Água não estão à
altura dos desafios colocados diante do planeta e da humanidade. Pelo contrário, estão condenando a gestão da água a seu manejo pelos poderes corporativos incapazes de priorizar a vida, preocupados mais em extrair lucros de qualquer parte, por sistemas financeiros, especulativos e sistemas de litígios corporativos cobiçados nas instituições financeiras internacionais.

Considerando o extremo esgotamento dos recursos e o desequilíbrio ecológico produzido no planeta é indispensável que a governabilidade da água fique fora das mãos do Conselho Mundial da Água e seja construída a partir de consensos dos cidadãos, dos povos e do interesse público. É por isso que os movimentos sociais reunidos em Marselha estão propondo que a ONU convoque um Fórum Global da Água que possibilite escutar as vozes das pessoas para pensar a água como um bem para a vida. As organizações sociais estão pedindo que sejam reforçados os sistemas locais e que se contribua para um exercício de vigilância social para assegurar que seu manejo seja social, democrático e solidário.

Diz-se, não sem razão que “milhares viveram sem amor, mas ninguém viveu sem água” (Auden). Nós acrescentamos, a partir deste Fórum, “sem amor, empatia e solidariedade, será impossível assegurar que a água chegue limpa e pura para todos”.

(*) Elizabeth Peredo é psicóloga social, escritora e ativista pela água, cultura e contra o racismo. Escrito para o Fórum Alternativo Mundial da Água, Marselha, 2012.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: CARTA MAIOR/Aruanda Ambiente 14.03.12
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"O mundo desenvolvido vive às custas do Sul"

A criação de uma Corte Penal Internacional do Meio Ambiente seria um passo para a justiça ecológica. Puniria os responsáveis pelos danos à natureza, que até hoje são impunes.

A proposta, agora publicada em livro, é do pacifista argentino Adolfo Pérez Esquivel na Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os direitos da Mãe Terra, realizada na Bolívia em 2010. A proposta inclui ainda a criação de tribunais regionais.

Esse discurso do Prêmio Nobel da Paz 1980 é publicado pela primeira vez em "Fome de Justiça, perspectivas para a superação da pobreza". Neste livro, vinte personalidades latinoamericanas e européias, inclusive suíças, refletem sobre as questões atuais.

A publicação também apresenta a ABAI, organização de ajuda fundada há 30 anos no Brasil pela suíça Marianne Spiller-Hadorn. "Fome de Justiça resulta de um movimento mundial de resistência contra um modo de vida e de economia que só cria pobreza, concentra riqueza e destrói as bases fundamentais da vida", explica à swissinfo.ch.

Desenvolvimento não é só crescimento econômico

A mudança climática é a prova mais clara de que a Terra está ferida e doente. "Enquanto os países do norte são em grande parte responsáveis da atual crise alimentar e climática, os países do sul carregam o maior fardo", denuncia Pérez Esquivel no livro.

Ele também critica os governos dos países do sul por não terem uma política própria, independente dos centros de poder econômico e político e questiona o conceito de desenvolvimento. "Muitos o reduzem à dimensão econômica, ao crescimento ilimitado da produção e do consumo. Porém este modelo capitalista e neoliberal converte o desenvolvimento em pura exploração do sul pelo norte, dentro de uma ordem econômica injusta."

Para sair desse paradigma, Pérez Esquivel propõe "se inspirar na cosmovisão dos povos indígenas que internalizaram o vínculo com a Mãe Terra."

Os direitos da natureza foram reconhecidos na Constituição do Equador em 2008. O presidente boliviano Evo Morales lançou a iniciativa para redigir a "Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra", que Pérez Esquivel incita a apoiar.


Protocolos e soluções falsas

Uma consequência do culto ao consumo é a mudança climática. Aqui o norte tem uma dívida com sul, mas não está disposto a pagar, como demonstram os Protocolos de Copenhague, Rio e Kioto, afirma Pérez Esquivel.

"O objetivo do norte é explorar todos os recursos para manter seu nível de vida e consumo. Nenhum desses países cumpre os objetivos do Protocolo de Kioto. Um exemplo extremo é Estados Unidos."

Esses países promovem ainda soluções equivocadas como o mercado de CO2, mecanismo que só estabeleceu o direito de poluir. O norte não reduziu seus níveis de poluição. Estes supostamente seriam compensados com o financiamento de projetos no sul, que ao final só criam novos problemas sociais e catástrofes ambientais, sublinha.

É por isso que o Nobel da Paz insiste em criar uma Corte Internacional do Meio Ambiente. "Os povos devem ter a possibilidade de agir diretamente nessa instância. Com ela acabaria a impunidade das multinacionais que se apoderam de bens comuns."


‘Swissness’ na cooperação

Existe alguma particularidade (swissness) na forma como a Suíça apoia projetos de cooperação internacional? Richard Gerster, consultor em questões norte-sul e ex-diretor da ong Aliança Sul considera que sim e cita três elementos: "A escolha de aspectos essenciais baseada no que a Suíça conhece bem – sua tradição federalista, sua sociedade civil, sua formação profissional prática – sua preferência por regiões montanhosas e seu compromisso com questões financeiras e ambientais."

Swissness também significa colocar a parceria no centro, dar-lhe prioridade e promover suas capacidades pessoais e profissionais. Dar destaque a valores como precisão e escrúpulos, ponderar o caminho até atingir a meta, o processo, segundo Gerster.


Ponto fraco é a coerência

No entanto, segundo Gerster, falta coerência à Suíça em sua política para América Latina, África e Ásia. "É incoerente ajustar a política exterior a vantagens econômicas a curto prazo."

Nos anos 1990, o governo suíço definiu cinco objetivos fundamentais de sua política externa: proteger e promover a paz e a segurança; impulsionar os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito; fomentar o bem-estar; reduzir as desigualdades sociais e proteger os fundamentos de vida natural. Esses objetivos foram abandonados no recente informe sobre política exterior, critica Gerster.

O caso do cacau ilustra o papel ambíguo e contraditório da Suíça: Gana é o maior exportador do grão, mas não processa o cacau. O grão não processado não tem barreiras alfandegárias. Um chocolate produzido em Gana, paga um imposto de mais de 50 francos por 100 quilos. Por um lado, limita-se a indústria de Gana; por outro, a cooperação ao desenvolvimento tenta contribuir a criar trabalho e faturamento.

O fato de que neste livro se exprimam personalidades do norte e do sul indica que devemos falar mais uns com os outros, afirma seu editor, Thomas Gröbly.

"É injusto quando alguém vive à custa dos outros", destaca o professor de ética. "Uma injustiça que impera na relação norte-sul e em toda sociedade. Por isso, levar a sério a sede de justiça significa instituir uma economia e condições de comércio justas, sociais e ecológicas, mesmo que quando isso vai contra nossos interesses."

 

 

ABAI também integrou homens, que hoje participam ativamente do projeto. (Fridolin Walcher und Michaela Hahn, Glarus Süd )





Rosa Amelia Fierro, swissinfo.ch
Adaptação: Claudinê Gonçalves
Revisão: Aruanda Ambiente

27.11. 2011

saiba mais sobre o livro em Resenhas

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Uma lei de responsabilidade sócio-ambiental?

Leonardo Boff

Já existe a lei de responsabilidade fiscal. Um governante não pode gastar mais do que lhe permite o montante dos  impostos recolhidos. Isso melhorou significativamente a gestão pública.

O acúmulo de desastres socioambientais ocorridos nos últimos tempos, com desabamentos de encostas, enchentes avassaladoras e centenas de vítimas fatais junto com a destruição de inteiras paisagens, nos obrigam a pensar na instauração  de uma lei nacional de responsabilidade socioambiental, com pesadas penas para os que não a respeitarem.

Já se deu um passo com a consciência da responsabilidade social das empresas. Elas não podem pensar somente em si mesmas e nos lucros de seus acionistas. Devem assumir uma clara responsabilidade social. Pois não vivem num mundo à parte: são inseridas  numa determinada sociedade, com um Estado que dita leis, se situam num determinado ecossistema e são pressionadas por uma consciência cidadã que cada vez mais cobra o direito à uma boa qualidade de vida.

Mas fique claro: responsabilidade social não é a mesma coisa que obrigação social prevista em lei quanto ao pagamento de impostos, encargos e salários; nem pode ser confundida com a resposta social que é a capacidade das empresas  de se adequarem às mudanças no campo social, econômico e técnico.
A responsabilidade social é a obrigação que as  empresas assumem de buscar metas que, a médio e longo prazo, sejam boas para elas e também  para o conjunto da sociedade na qual estão inseridas.
Não se trata de fazer para a sociedade o que seria filantropia, mas com a sociedade, se envolvendo nos projetos elaborados em comum com os municípios, ONGs e outras entidades.

Mas sejamos realistas: num regime neoliberal como o nosso,  sempre que os negócios não são tão rentáveis, diminui ou até desaparece a responsabilidade social. O maior inimigo da responsabilidade social é o capital especulativo. Seu objetivo é maximizar os lucros das carteiras e portofólios que controlam. Não vêem outra responsabilidade, senão a de garantir ganhos.

Mas a responsabilidade social é insuficiente, pois ela não inclui o ambiental. São poucos os que perceberam a relação do social com o ambiental. Ela é intrínseca. Todas empresas e cada um de nós vivemos no chão, não nas nuvens: respiramos, comemos, bebemos, pisamos os solos, estamos expostos à mudanças dos climas, mergulhados na natureza com sua biodiversidade, somos habitados por bilhões de bactérias e outros microorganismos. Quer dizer, estamos dentro da natureza e somos parte dela. Ela pode viver sem nós como o fez por bilhões de anos. Nós não podemos viver sem ela. Portanto, o social sem o ambiental é irreal. Ambos vêm  sempre juntos.

Isso que parece óbvio, não o é para a grande parte das pessoas.
Por que excluimos a natureza? Porque somos todos antropocêntricos, quer dizer, pensamos apenas em nós próprios. A natureza é exterior, posta ao nosso bel-prazer.
Somos irresponsáveis face à natureza quando desmatamos, jogamos bilhões de litros de agrotóxicos no solo, lançamos na atmosfera, anualmente, cerca de 21 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, contaminamos as águas, destruímos a mata ciliar, não respeitamos o declive das montanhas que podem desmoronar e matar pessoas nem observamos o curso dos rios que nas enchentes podem levar tudo de roldão.
Não interiorizamos os dados que biólogos e astrofísicos nos asseguram: Todos possuímos o mesmo alfabeto genético de base, por isso somos todos primos e irmãos e irmãs e formamos assim a comunidade de vida. Cada ser possui valor intrínseco e por isso tem direitos. Nossa democracia não pode incluir apenas os seres humanos. Sem os outros membros da comunidade de vida, não somos nada. Eles valem como novos cidadãos que devem ser incorporados na nossa compreensão de democracia que então passa a ser uma democracia socioambiental. A natureza e as coisas dão-nos sinais. Elas nos chamam a atenção para os eventuais riscos que podemos evitar.

Não basta a responsabilidade social, ela deve ser sócioambiental. É urgente que o Parlamento vote uma lei de responsabilidade socioambiental imposta a todos os gestores da coisa pública. Só assim evitaremos tragédias e mortes.

26.01.11
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Civilização do risco
Brasil precisa abrir mão da tradição elitista de construir espaços sociais sem respeitar a natureza

 


"...não é nada fácil, ainda mais no contexto de sociedades abertas e dinâmicas, que conseguem burlar cotidianamente as leis estabelecidas para ordenar o uso dos solos."

JOSÉ AUGUSTO PÁDUA






Ao ver as imagens recentes de encostas desabando, pontes caindo e águas invadindo o interior de tantas casas e vidas, não pude deixar de pensar, até por ranço de historiador, que cenas semelhantes vêm se repetindo desde os primórdios do longo e difícil processo de construção do que hoje chamamos de território brasileiro. Basta lembrar que São Vicente [no litoral paulista], a primeira povoação oficialmente criada na América portuguesa, teve seu núcleo urbano destruído por uma combinação de tempestades e ressacas em 1541. O mar tragou a Casa do Conselho, a fortaleza e a igreja matriz, edificadas sobre solos arenosos.
Antes disso, o porto da ilha de São Vicente já sofria com o assoreamento provocado pelas enxurradas que desciam as encostas parcialmente desmatadas pelas primeiras plantações. Em uma carta de 1560, escrita naquela região, o padre José de Anchieta descreveu uma tempestade que "abalou as casas, arrebatou os telhados e derribou as matas".

Paradoxo da modernidade
É claro que não se pode estabelecer uma sequência simples entre esse passado longínquo e as tragédias que ocorrem diante dos nossos olhos. Mas a história é sempre um jogo de continuidades e descontinuidades.
O contexto atual é muito diferente em termos de tamanho dos assentamentos e de complexidade dos meios tecnológicos. O litoral brasileiro está hoje inserido, mesmo que de forma desigual, no que Patrick Lagadec [diretor de pesquisas na Escola Politécnica de Paris, na França] chamou de "civilização do risco". Um paradoxo da modernidade.
Em certos aspectos, o mundo urbano-industrial fornece mais segurança do que no passado.
Em outros, ele é incomparavelmente mais arriscado.
Sua densidade, suas escalas e sua alta dependência de energia são também as causas da sua fragilidade. Foi significativo o temor de que os desabamentos inviabilizassem o plano de evacuação da usina nuclear de Angra [dos Reis]...
No século 16, no entanto, alguns elementos já estavam aqui presentes: as encostas, as matas e os aguaceiros tropicais.
E também a dificuldade humana em reconhecer que nossa vida é, de fato, um jogo permanente com forças naturais que não criamos, e cujos movimentos não dependem do nosso arbítrio. Hoje, sabemos que a Terra é um planeta antigo, poderoso e muito diversificado.
Sua existência se funda em ciclos biogeoquímicos que movimentam fluxos de matéria e energia muito superiores aos que nossa tecnologia é capaz de produzir.

Medidas urgentes
Em cada região existem realidades específicas com as quais interagir. Daí o tema fundamental da "localização" (que ganha mais importância no mundo da "globalização").
É preciso superar a tradição arrogante de construir espaços sociais sem atenção à realidade natural através da qual existimos. A sustentabilidade consciente requer que as sociedades se territorializem de maneira ecologicamente inteligente.
Algo que, por certo, não é nada fácil, ainda mais no contexto de sociedades abertas e dinâmicas, que conseguem burlar cotidianamente as leis estabelecidas para ordenar o uso dos solos.
A desocupação das áreas de risco, porém, não pode mais ser adiada.
As florestas representam a melhor proteção das encostas, e sem elas o desastre seria incomensurável. É preciso que a sociedade defenda o Código Florestal das forças políticas retrógradas que o atacam no Congresso Nacional.
As áreas de preservação permanente e de reserva legal, determinadas pelo código, são essenciais para estimular um modelo de desenvolvimento cuidadoso e tecnologicamente intensivo (superando a velha tradição de crescimento horizontal e devastador).
Em regiões de forte densidade urbana, especialmente, as áreas de preservação permanente (vegetação que protege os recursos hídricos, a estabilidade geológica etc.) devem ser consideradas um pressuposto da segurança coletiva.
Aqui é preciso levar em conta um problema que também se observa na Amazônia. As florestas parcialmente exploradas, mesmo por um número limitado de atividades, perdem grande parte da sua capacidade sistêmica de estabilizar solos e reter umidade. As áreas de preservação permanente, portanto, necessitam ser respeitadas na sua totalidade.
As intervenções de engenharia geotécnica, por outro lado, precisam ser democráticas, suplantando a prática elitista de concentrá-las nas áreas habitadas pelos mais ricos.
A existência de "zonas de sacrifício", onde se considere normal que populações pobres convivam com espaços degradados e de grande risco, dotados de baixíssimo investimento público, constitui uma injustiça ambiental inaceitável no contexto de uma ordem verdadeiramente republicana.
A adoção de boas políticas e práticas, diante dos problemas específicos que estão sendo tratados aqui, pode ser vista como um aprendizado coletivo para o futuro. A tendência geral é que nossa vida no planeta se torne cada vez mais difícil nas próximas décadas, com o avanço das mudanças climáticas.
É bom começar a tratar do assunto com a maior seriedade.
Se não aprendermos a enfrentar problemas climáticos com os quais convivemos há séculos, como agiremos diante dos riscos bem maiores que se delineiam no horizonte?

JOSÉ AUGUSTO PÁDUA é professor de história na Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de "Um Sopro de Destruição - Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista" (ed. Zahar), entre outros livros.
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São Paulo terá conflito por água em 2020

Documento de Secretaria mostra que estado de São Paulo terá conflito por água em 2020

Uma pesquisa da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo mostra que as bacias do Alto Tietê e dos rios Capivari, Jundiaí e Piracicaba serão palco de conflitos causados pela escassez de água no ano de 2020. Os setores industrial, agroeconômico e urbano vão entrar em disputa pelos recursos hídricos se não houver mudança no uso da água dessas bacias. A previsão está no projeto Cenários Ambientais 2020, divulgado nesta quinta-feira (26) pela Secretaria.

“A prospecção do conflito pelo uso da água está calcada nos usos múltiplos, tanto por atividades industriais, como para uso agronômico, como para uso urbano. A demanda por recursos hídricos tende a aumentar não só do ponto de vista inercial, mas a partir do crescimento da atividade econômica também cresce a demanda hídrica, você passa a ter um conflito não só entre bacias em função da transposição entre bacias, mas também entre os setores que usam aquele recurso hídrico”, destaca Casemiro Tércio dos Reis Lima Carvalho, coordenador da área de Planejamento Ambiental da secretaria.

Atualmente, as bacias dos rios Capivari, Jundiaí e Piracicaba transpõem água para a Bacia do Alto Tietê, região bastante industrializada. A área do Alto Tietê, hoje, tem deficit de 80% de recursos hídricos, suprido, em parte, pelas águas transpostas pelo Capivari, Jundiaí e Piracicaba. “Quando os três começarem a demandar mais esse bem, ele tende a não transpor para o Alto Tietê”, explica Tércio.

O conflito em 2020 pelo uso de água nas bacias é considerado como um cenário de referência pela pesquisa, situação mais provável de ocorrer, de acordo com o estudo.

“O que temos que fazer para impedir isso é traçar políticas de economicidade dos recursos hídricos. Temos de ter uma estrutura de economia de água, como na construção civil sustentável, ter projetos com ciclos fechados industriais, seguindo a nova ecologia industrial”, ressalta Tércio.

Para a identificação dos cenários futuros foram consultados mais de 5 mil pessoas e 200 especialistas de diversas áreas. A condução do projeto esteve a cargo da Coordenadoria de Planejamento Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente.

Por Bruno Bocchini, da Agência Brasil - 27/11/2009

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Nove limites da Terra para evitar mudanças catastróficas
Quanta alteração e tensão pode aguentar o sistema Terra devido à ação da espécie humana sem sofrer mudanças catastróficas?

Muito se fala a respeito, mas até agora pouco se avançou na definição quantificada dos limites que suporta o planeta. Para assentar pelo menos umas bases científicas a respeito, a partir das quais se possam medir os riscos, uma equipe científica internacional identificou nove fronteiras planetárias “que não devem ser ultrapassadas” se se querem evitar alterações meio ambientais “inadmissíveis”.

Essas nove fronteiras que se devem respeitar são: a mudança climática, a perda de biodiversidade (terrestre e marinha), as interferências nos ciclos globais do nitrogênio e do fósforo, a destruição da camada de ozônio estratosférica, a acidificação oceânica, o consumo global de água doce, as mudanças no uso da terra, a contaminação química e a concentração atmosférica de aerosóis. Os limites de segurança nos três primeiros parâmetros já foram ultrapassados, afirmam Johan Rockström (Universidade de Estocolmo) e seus colegas na revista Nature.

Os cientistas explicam no seu artigo que “o meio ambiente do planeta foi inusualmente estável durante os últimos 10.000 anos”. Este período de estabilidade (denominado Holoceno), no qual floresceram as civilizações humanas, poderia continuar durante milhares de anos mais, mas agora essa estabilidade está ameaçada, afirmam. “Desde a revolução industrial surgiu uma nova era, o Antropoceno, na qual a atividade humana se transformou no principal motor da mudança ambiental”. Se se força esse motor, as conseqüências podem ser catastróficas para grandes regiões do planeta.
O objetivo desses pesquisadores é tentar quantificar os limites de segurança além dos quais o sistema Terra não pode continuar funcionando de modo estável, como no Holoceno. Mas eles são conscientes da dificuldade. Admitem que cabe muito debate sobre o que propõem e reconhecem que alguns dos parâmetros e valores que elaboraram não são mais que uma primeira aproximação. Vários artigos de especialistas em diversas áreas (incluído o prêmio Nobel Mario Molina, que se refere à destruição da camada de ozônio) acompanham em Nature o trabalho de Rockström e seus colegas, avaliando suas propostas e parâmetros, todos eles reconhecendo a dificuldade da empreitada. No mesmo sentido se manifesta a própria revista Nature em um editorial.

Para a mudança climática, o parâmetro eleito pela equipe de Rockström é a concentração de dióxido de carbono na atmosfera e as mudanças por ação da radiação (em ambos já se ultrapassaram os valores de segurança).
A perda de biodiversidade - também com a fronteira ultrapassada- se pode medir pela taxa de extinção (número de espécies perdidas por milhão de espécies por ano).
A quantidade de nitrogênio atmosférico fixado para sua utilização humana em agricultura (em milhões de toneladas por ano) e a quantidade de fósforo vertido ao oceano mundial (milhões de toneladas pró ano), são os parâmetros para quantificar seus ciclos.
O resto das fronteiras se podem medir pela concentração de ozônio, a acidez das águas oceânicas, o consumo humano de água doce (quilômetro cúbico por ano), a porcentagem de superfície global transformado em cultivos (uso da terra), a concentração de partículas na atmosfera e a quantidade de contaminantes (vários compostos e valores).
Na mudança climática induzida pela atividade humana, os cientistas lembram em seu artigo que há um consenso entre os especialistas sobre que superar os dois graus centígrados de aquecimento sobre a temperatura da época pre-industrial supõe um alto risco que se produzam alterações irreversíveis (perda da camada gelada do planeta, subida acelerada do nível do mar e mudanças abruptas em florestas e selvas, assim como em sistemas agrícolas) e para evitá-lo é preciso limitar a concentração de dióxido de carbono na atmosfera. A fronteira que propõem é de 350 partes por milhão (280 ppm na época pré-industrial) e atualmente esse valor está já em 387 ppm.
Quanto à biodiversidade, esses cientistas lembram que no Antropoceno se está produzindo uma aceleração em massa da perda de espécies. A taxa de extinção, assinalam, não se tinha produzido no planeta Terra desde o último episódio de extinção em massa. Atualmente se estima que a perda de espécies é entre cem e mil vezes superior ao que se consideraria natural. Neste caso a interação entre fatores críticos do meio ambiente terrestre é clara: a mudança climática se vai transformar em um agente fundamental da perda de biodiversidade neste século: até 30% de todas as espécies de mamíferos, aves e anfíbios estarão ameaçadas.
As fronteiras do planeta que propõem estes pesquisadores “estão intimamente relacionadas”, lembram.

“Não podemos permitir-nos o luxo de concentrar nossos esforços em uma delas isolando-as das outras porque se se ultrapassa uma também as outras estão em sério perigo”.

24.9.09

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Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
Em setembro de 2000, os líderes de 189 países se reuniram na Sede das Nações Unidas em Nova York e aprovaram a Declaração do Milênio, um acordo para trabalhar de maneira conjunta para construir um mundo mais seguro, mais próspoero e mais equitativo.

A Declaração se traduziu em um plano de ações que criou 8 objetivos mensuráveis e com limite de tempo a ser alcançado em 2015, conhecidos como

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM):.

Erradicar a pobreza extrema e a fome
Educação universal
Igualdade entre os gêneros
Reduzir a mortalidade infantil
Melhorar a saúde materna
Combater o HIV / AIDS
Sustentabilidade do meio ambiente
Fomentar uma associação mundial

Leia o informe 2008 dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

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Os limites do capital são os limites da Terra
Por Leonardo Boff

Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de uma Terra inteira. Em 1995 já ultrapassávamos em 10% sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. A análise é de Leornado Boff, em seu artigo de estréia como colunista da Carta Maior.

Uma semana após o estouro da bolha econômico-financeira, no dia 23 de setembro, ocorreu o assim chamado Earth Overshoot Day , quer dizer, "o dia da ultrapassagem da Terra". Grandes institutos que acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o consumo da humanidade ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e regeneração do sistema-Terra. Traduzindo: a humanidade está consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele que não existe. O resultado é a manifestação insofismável da insustentabilidade global da Terra e do sistema de produção e consumo imperante. Entramos no vermelho e assim não poderemos continuar porque não temos mais fundos para cobrir nossas dívidas ecológicas.

Esta notícia, alarmante e ameaçadora, ganhou apenas algumas linhas na parte internacional dos jornais, ao contrário da outra que até hoje ocupa as manchetes dos meios de comunicação e os principais noticiários de televisão. Lógico, nem poderia ser diferente. O que estrutura as sociedades mundiais, como há muitos anos o analisou Polaniy em seu famoso livro A Grande Transformação, não é nem a política nem a ética e muito menos a ecologia, mas unicamente a economia. Tudo virou mercadoria, inclusive a própria Terra. E a economia submeteu a si a política e mandou para o limbo a ética.

Até hoje somos castigados dia a dia a ler mais e mais relatórios e análises da crise econômico-financeira como se somente ela constituisse a realidade realmente existente. Tudo o mais é secundarizado ou silenciado.

A discussão dominante se restringe a esta questão: que correções importa fazer para salvar o capitalismo e regular os mercados? Assim poderíamos continuar as usual a fazer nossos negócios dentro da lógica própria do capital que é: quanto posso ganhar com o menor investimento possível, no lapso de tempo mais curto e com mais chances de aumentar o meu poder de competição e de acumulação? Tudo isso tem um preço: a delapidação da natureza e o esquecimento da solidariedade generacional para com os que virão depois de nós. Eles precisam também satisfazer suas necessidades e habitar um planeta minimamente saudável. Mas esta não é a preocupação nem o discurso dos principais atores econômicos mundiais mesmo da maioria dos Estados, como o brasileiro que, nesta questão, é administrado por analfabetos ecológicos.

Poucos são os que colocam a questão axial: afinal se trata de salvar o sistema ou resolver os problemas da humanidade? Esta é constituída em grande parte por sobreviventes de uma tribulação que não conhece pausa nem fim, provocada exatamente por um sistema econômico e por políticas que beneficiam apenas 20% da humanidade, deixando os demais 80% a comer migualhas ou entregues à sua própria sorte. Curiosamente, as vitimas que são a maioria sequer estão presentes ou representadas nos foros em que se discute o caos econômico atual. E pour cause, para o mercado são tidos como zeros econômicos, pois o que produzem e o que consomem é irrelevante para contabilidade geral do sistema.

A crise atual constitui uma oportunidade única de a humanidade parar, pensar, ver onde se cometeram erros, como evitá-los e que rumos novos devemos conjuntamente construir para sair da crise, preservar a natureza e projetar um horizonte de esperança, promissor para toda a comunidade de vida, incluídas as pessoas humanas. Trata-se sem mais nem menos de articular um novo padrão de produção e de consumo com uma repartição mais equânime dos benefícios naturais e tecnológicos, respeitando a capacidade de suporte de cada ecosistema, do conjunto do sistema-Terra e vivendo em harmonia com a natureza.

Milkahil Gorbachev, presidente da Cruz Verde Internacional e um dos principais animadores da Carta da Terra, grupo o qual pertenço, advertiu recentemente: Precisamos de um novo paradigma de civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades. Temos que chegar a um consenso sobre novos valores. Em 30 ou 40 anos a Terra poderá existir sem nós.

A busca de um novo paradigma civilizatório é condição de nossa sobrevivência como espécie. Assim como está não podemos continuar. Na última página de seu livro A era dos extremos diz enfaticamente Eric Hobsbawm: Nosso mundo corre o risco de explosão e de implosão. Tem de mudar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade é a escuridão.

Importa entender que estamos enredados em quatro grandes crises: duas conjunturais – a econômica e a alimentar – e duas estruturais – a energética e a climática. Todas elas estão interligadas e a solução deve ser includente. Não dá para se ater apenas à questão econômica, como é predominante nos dabates atuais. Deve-se começar pelas crises estruturais pois que se não forem bem encaminhadas, tornarão insustentáveis todas as demais.

As crises estruturais, portanto, são as que mais atenção merecem. A crise energética revela que a matriz baseada na energia fóssil que movimenta 80% da máquina produtiva mundial tem dias contados. Ou inventamos energias alternativas ou entraremos em poucos anos num incomensurável colapso.

A crise climática possui traços de tragédia. Não estamos indo ao encontro dela. Já estamos dentro dela. A Terra já começou a se aquecer. A roda começou a girar e nao há mais como pará-la, apenas diminuir sua velocidade ao minimizar seus efeitos catastróficos e ao adaptar-se a ela. Bilhões e bilhões de dólares devem ser investidos anualmente para estabilzar o clima entorno de 2 a 3 graus Celsius já que seu aquecimento poderá ficar entre 1,6 a 6 graus, o que poderia configurar uma devastação gigantesca da biodiversidade e o holocausto de milhões de seres humanos.

De todas as formas, mesmo mitigado, este aquecimento vai produzir transtornos significativos no equilíbrio climático da Terra e provocar nos próximos anos cerca de 150-200 milhões de refugiados climáticos segundo dados fornecidos pelo atual Presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel d'Escoto, em seu discurso inaugural em meados de outubro de 2008. E estes dificilmente aceitarão o veredito de morte sobre suas vidas. Romperão fronteiras nacionais, desestabilizando politicamente muitas nações.

Estas duas crises estruturais vão inviabilizar o projeto do capital. Ele partia do falso pressuposto de que a Terra é uma espécie de baú do qual podemos tirar recursos indefinidamente. Hoje ficou claro que a Terra é um planeta pequeno, velho e limitado que não suporta um projeto de exploração ilimitada..

Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de um Terra inteira. Em 1995 já ultrapassamos em 10% de sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. Mas não chegaremos lá. Resta ainda lembrar que entre 1900 quando a humanidade tinha 1,6 bilhões de habitantes e 2008 com 6,7 bilhões, o consumo aumentou 16 vezes. Se os paises ricos quissessem generalizar para toda a humanidade o seu bem-estar - cálculos já foram feitos - iríamos precisar de duas Terras iguais a nossa.

A crise de 1929 dava por descontada a sustentabilidade da Terra. A nossa não pode mais contar com este fato e com a abundancia dos recursos naturais. Nenhuma solução meramente econômica da crise pode suprir este déficit da Terra. Não considerar este dado torna a análise manca naquilo que é a determinação fundamental e a nova centralidade.

Tudo isso nos convence de que a crise do capital não é crise cíclica. É crise terminal. Em 300 anos de hegemonia praticamente mundial, esse modo de produção com sua expressão política, o liberalismo, destruiu com sua voracidade desenfreada, as bases que o sustentam: a força de trabalho, substituindo-a pela máquina e a natureza devastando-a a ponto de ela não conseguir, sozinha, se auto-regenerar. Por mais estragemas que seus ideólogos vindos da tradição marxiana, keneysiana ou outras tentem inventar saídas para este corpo moribundo, elas não seráo capazes de reanimáa-lo. Suas dores não são de parto de um novo ser mas dores de um moribundo. Ele não morrerá nem hoje nem amanhã. Possui capacidade de prolongar sua agonia mas esgotou sua virtualidadae de nos oferecer um futuro dicernível. Quem o está matando não somos nós, já que não nos cabe matá-lo mas superá-lo, na boa tradição marxiana bem lembrada por Chico Oliveria em sua lúcida entrevista, mas a própria natureza e a Terra.

Repetimos: os limites do capitalismo são os limites da Terra. Já encostamos nestes limites tanto da Terra quanto do capitalismo. A continuar seremos destruídos por Gaia pois ela, no processo evolucionário, sempre elimina aquelas espécies que de forma persistente e continuada ameaçam a todas as demais. Nós, homo sapiens e demens, nos fizemos, na dura expressão do grande biólogo E. Wilson, o Satã da Terra, quando nossa vocação era o de sermos seu cuidador, guardião e anjo bom.

Para onde iremos? Nem o Papa nem o Dalai Lama, nem Barack Obama nem muito menos os economistas nos poderão apontar uma solução. Mas pelo menos podemos indicar uma direção. Se esta estiver certa, o caminho poderá fazer curvas, subir e descer e até conhecer atalhos, esta direção nos levará a uma terra na qual os seres humanos podem ainda viver humananente e tratar com cuidado, com compaixão e com amor a Terra, Pacha Mama, Nana e nossa Grande Mãe.

Esta direção, como tantos outros já o assinalaram, se assenta nestes cinco eixos: (1) um uso sustentável, responsável e solidário dos limitados recursos e serviços da natureza; (2) o valor de uso dos bens deve ter prioridade sobre seu valor de troca; (3) um controle democrático deve ser construído nas relações sociais, especialmente sobre os mercados e os capitais especulativos; (4) o ethos mínimo mundial deve nascer do intercâmbio multicultural, dando ênfase à ética do cuidado, da compaixão, da cooperação e da responsabilidade universal; (5) a espiritualidade, como expressão da singularidade humana e não como monopólio das religiões, deve ser incentivada como uma espécie de aura benfazeja que acompanha a trajetória humana, pois ancora o ser humano e a história numa dimensão para além do espaço e do tempo, conferindo sentido à nossa curta passagem por este pequeno planeta.

Devemos crer, como nos ensinam os cosmólogos contemporâneos, nas virtualidades escondidas naquela Energia de fundo da qual tudo provém, que sustenta o universo, que atua por detrás de cada ser e que subjaz a todos os eventos históricos e que permite emergências surpreendentes. É do caos que nasce a nova ordem. Devemos fazer de tudo para que o atual caos não seja destrutivo mas criativo. Então sobrevivemos com o mesmo destino da Terra, a única casa comum que temos para morar.

* Leonardo Boff é teólogo, escritor, professor emérito de ética da UERJ e membro da Comissão da Carta da Terra.

16.01.09

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Na despensa da humanidade
Há anos o economista francês Bruno Parmentier pesquisa o futuro da alimentação

O economista Bruno Parmentier está na mira da imprensa. O jornal Le Monde, que dias atrás publicara uma de suas polêmicas entrevistas, "estampou-o" em seu site, na semana passada, com a seguinte chamada:
"A humanidade caminha para a era da penúria".
A afirmação do entrevistado, diretor da École Supérieure d'Agriculture d'Angers (ESA), a mais importante do setor na França, soou apocalíptica na terra dos bons queijos, bons vinhos, bons patês, mas não tão boas recordações de guerras e épocas de vacas magras.

Pois Parmentier tem tirado o apetite dos estrategistas europeus desde que lançou o livro Nourrir la Humanité (Nutrir a Humanidade, ed. La Découverte), meses atrás. Ele mesmo admite que desde então não parou de dar entrevistas e desfiar seu rosário de estatísticas.
No livro, o economista vislumbra o futuro da alimentação a partir de um mundo com energia rara e cara.
Lembra que em apenas um século a população global saltou de 1,6 bilhão para 6 bilhões. E para satisfazer todas essas bocas (deixando famintas pelo menos 800 milhões delas), apostou-se em fatores de produção alimentar que a cada década devoram mais terras, mais energia, mais água, mais química, mais mecanização. "O tempo do mais, mais acabou. Seremos forçados a apostar na agricultura que produzirá mais com menos, num meio ambiente muito degradado."

Nessa entrevista ao Aliás, Bruno Parmentier fala da chegada de novos contingentes populacionais, especialmente na Ásia e na África, do envelhecimento da população, que prolonga a vida alimentar, e da voracidade mundial por combustíveis, "o que fatalmente vai contrapor o tanque de gasolina do rico à mesa do pobre".
Acha que transformar cereal em biocombustível é loucura. Absolve a opção brasileira pelo etanol da cana. Mas advoga uma nova ética:
"País nenhum deve resolver seu problema de energia às custas da fome de outros".

Quem apostou que o recado vai para o presidente George W. Bush, acertou.

O senhor diz que não entendia de agricultura até chegar à direção da ESA, em 2002. Em que a escola mudou sua maneira de ver as coisas?
Não venho do setor agrícola. Sou engenheiro de minas e economista. Depois de trabalhar com desenvolvimento agrário por quatro anos no México, na década de 70, experimentei editar livros, viver como jornalista, e só mais tarde é que aceitei a direção da maior escola agrícola da França. Aceitei o cargo convencido de que a era do petróleo está no fim e a biologia, tomara!, há de nos levar por caminhos melhores. O balanço dessas descobertas está no meu livro, Nourrir l?Humanité, que tem causado grande repercussão desde o lançamento. Não paro de dar entrevistas aqui na Europa.

Por que tanto interesse?
Porque nenhuma perspectiva histórica nos dá a certeza de que todos teremos o que comer no futuro. E, se tomo a perspectiva geográfica, a constatação é amarga: a fome atinge 800 milhões de pessoas e há quase 1 bilhão comendo muito mal.

O que prevalece na sua análise sobre o futuro da alimentação: ameaças ambientais, transições demográficas, modelos econômicos?
Há uma conjunção de fatores, mas, falemos em demografia. Garantir a nutrição de uma população fortemente expandida é uma novidade radical para a humanidade. Até o século 16, a população mundial pouco evoluíra. Houve um crescimento suave nos séculos 17 e 18, seguido de outro mais acentuado no 19, tocando mais a Europa e a Ásia, depois se espalhando para outras partes. Em 1900 havia no planeta 1,8 bilhão de habitantes, 50% dos quais comiam satisfatoriamente. Mas contavam-se 800 milhões de malnutridos. Cinqüenta anos mais tarde, portanto em 1950, éramos 2,8 bilhões e havia algo em torno de 800 milhões de pessoas com fome. Hoje somos 6,3 bilhões e continuamos encontrando algo como 800 milhões de famintos. Ora, podemos fazer uma leitura otimista desses números: em um século, a humanidade conseguiu dar o que comer a mais 4,5 bilhões de pessoas. Bela performance. Mas podemos observar com certo pessimismo essa estranha "lei" : qualquer que seja a população do planeta há sempre algo como 800 milhões passando fome. É um número persistente.

E o que deve se passar nos próximos 50 anos?
A população deverá se estabilizar entre 9 e 10 bilhões de pessoas. Significa que acolheremos no planeta um bilhão de novos asiáticos, cerca de 800 milhões de novos africanos, 400 milhões de novos latino-americanos. Então temos de nos colocar a questão: haverá alimento para todos? Se admitirmos que todos almejamos comer segundo padrões ocidentais, com dietas fortemente baseadas em produtos de origem animal, teremos então de dobrar a produção agrícola do mundo, já que os animais comem como nós, humanos - consomem cereais e vegetais. E dobrar levando em conta as disparidades existentes. Será preciso multiplicar por 5 a produção agrícola africana e por 1,9 a produção agrícola latino-americana, ao passo que será inútil aumentar a produção européia, já que estamos comendo bem há um bom tempo e não fazemos mais tantos filhos. Por isso nossa população é declinante.

Em termos globais, há disposição para pensar disparidades?
Não há outro jeito! As soluções aplicadas para aumentar a produção de alimentos no século 20 certamente não funcionarão no século 21. É imperativo encontrar alternativas. Em escala global, nossas reservas de terras disponíveis para agricultura são cada vez menores, em parte por conta da urbanização. Continuamos a destruir as florestas a uma velocidade inaceitável para o equilíbrio ecológico, ou seja, à razão de 140 mil km² por ano. A equação que resulta disso é simples: em 1960, havia algo como um hectare para nutrir dois seres humanos. Hoje, tem-se em média um hectare para quatro, em 2050, um hectare para seis, e assim vai. A China hoje já lida com a razão de um hectare para oito indivíduos.

Qual o pior impacto da escassez de água para a agricultura?
A irrigação foi um meio de expansão agrícola largamente utilizado no século 20, permitindo-nos levar água para mais de 200 milhões de hectares. Não podemos depender da mesma estratégia. Olhe só o que vai acontecer: nos próximos tempos assistiremos a uma onda de reparação de barragens construídas décadas atrás, cujas instalações têm duração limitada. E vamos ter de repará-las, sim, porque construir as novas custa caro e restam lugares bem mais complicados para erguê-las. Além disso, não teremos como alimentar outras tantas barragens com essa rarefação de água doce no planeta. A própria FAO estima que o patamar máximo de áreas irrigáveis não passará de 240 milhões de hectares nos próximos anos. É muito pouco.

O petróleo está mesmo no fim?
É o que dizem os especialistas e isso tem a ver com a nossa mesa. Tecnologias agrícolas inventadas no século passado são muito gulosas de energia porque foram desenvolvidas numa época de petróleo barato. A mecanização da agricultura, a fabricação de fertilizantes e outros modos de produção dependem basicamente de energia. Hoje o preço mundial do petróleo atinge US$ 90 por barril. A tendência de alta deve continuar e o impacto psicológico da cotação rompendo o patamar dos US$ 100, já iminente, será bastante sensível. Gente mais jovem que eu verá o petróleo a US$ 150 o barril. Isso tudo complica a vida dos 28 milhões de agricultores do mundo que dependem da mecanização do setor. Em contrapartida, cerca de 250 milhões de produtores rurais trabalham com energia animal e 1 bilhão não têm nem animais nem tratores. Um bilhão de produtores estão completamente à margem! Diante desse cenário, devemos nos perguntar: a agricultura, daqui para frente, deve servir à produção de alimentos ou de energia? Veja que coincidência: 800 milhões de pessoas sentem fome no planeta. E temos uma frota global de 600 milhões de automóveis e 200 milhões de caminhões. O número é o mesmo: 800 milhões querem comida, 800 milhões querem combustível. E agora?

Que aposta o senhor faz nos biocombustíveis?
Não somos nada neste setor porque mal tomamos consciência do problema. O balanço energético revela fragilidades, a começar do fato de que ainda precisamos de um litro de petróleo para produzir três litros de biocombustível. O balanço territorial, esse então é uma aberração completa: em média, devemos reservar um hectare de terra para garantir o abastecimento de quatro ou cinco carros. Tentamos resolver o problema dos tanques de gasolina oferecendo-lhes algo precioso para a dieta alimentar da humanidade, que é o cereal. Isso é uma loucura. A meu ver, o caminho mais aceitável é o do etanol brasileiro, feito da cana-de-açúcar. Mas, não posso deixar de me espantar: como é que um país como o Brasil, potência agrícola, ainda não consegue nutrir sua população?

Por que aprova a opção brasileira pelo etanol?
Parece ser a mais sensata. Quero deixar claro: sou absolutamente a favor dos biocombustíveis. Mas absolutamente contrário à utilização dos cereais para produção de etanol. Cereal é alimento de base. Nós, aqui na Europa, estamos investindo alto na produção de biodiesel, como aquele que é feito a partir da colza (canola). Tais iniciativas não me parecem satisfatórias porque demandam grandes áreas para o cultivo, muita água para irrigação e mantém-se essa relação maluca, que é gastar um litro de petróleo para produzir três litros de biocombustível. Já a cana oferece uma relação melhor, e não me parece que vá faltar açúcar para alimentação. Como também acho que não vão acabar com as florestas brasileiras.

Mas isso se debate no Brasil hoje. A plantação em larga escala de cana poderia deslocar o gado para a Amazônia, o que não seria bom. Ouve-se muito esse tipo de crítica.
Não creio nisso. É inegável que o etanol brasileiro tem vantagens: vem de uma planta que cresce rapidamente, não exige preparação da terra, o que em si significa economia de combustível, e é aproveitada literalmente até o bagaço. Além de ter muita terra cultivável, o Brasil é um país que possui superfície de reserva para agricultura. O grande problema da cana-de-açúcar brasileira é social. Como erguer um programa ambicioso de etanol com os trabalhadores no campo ganhando mal, sem preparo, sem recursos, sem direitos?

Por que o senhor joga duro com a utilização dos cereais para a produção de biocombustível?
Veja a política agrícola do governo Bush. Os EUA têm estoque excedente de milho e até por isso querem convertê-lo em etanol. Só que, para atender à própria demanda de energia, vão consumir o milho que hoje é base da alimentação do México. E os mexicanos vão pagar mais caro pelo que comem! Parece óbvio que um país não pode resolver sua demanda energética provocando a fome em outro. Nesse sentido é que traço um cenário sombrio, no qual o carro do rico vai disputar "alimento" com a mesa do pobre.
Então ponha na balança: de um lado, comida, de outro, combustível. O que vai pesar mais na busca por sustentabilidade?
É possível prever que, em 50 anos, a Europa possa ter reduzido em 10% sua produção agrícola. Seremos menos numerosos e é certo que podemos cortar um pouco da nossa dieta. Por outro lado, estaremos mal em termos de energia fóssil, portanto os biocombustíveis serão estratégicos. Imagino que nossos campos terão de ser reservados para a produção de cereais e que tenhamos de sair atrás dos biocombustíveis dos países temperados, chamados de "segunda geração", que não demandam tanta água nem tanta energia. Já a Ásia, apesar dos progressos feitos, em especial na China e no Vietnã, terá de enfrentar um crescimento populacional que vai complicar as coisas. Mas o grande problema da humanidade é a África. A população africana atual, de 800 milhões, deverá dobrar em pouco tempo, apesar das guerras, da penúria e da aids. Hoje, na África negra, 40% da população sofre de uma fome que é crônica. O que acaba servindo de caldo de cultura para ideologias extremistas.

E a América Latina?
Vai se sair melhor porque não deve ganhar mais do que 400 milhões de pessoas no próximo meio século, tem reserva de superfície e de água, sobretudo o Brasil. Porém, será que o clima democrático que se vê hoje no continente será um fator de coesão social e eficácia produtiva no futuro? A reposta está nas mãos de vocês.

A discussão combustível versus comida pende para o ideológico?
O importante é nos apercebermos dos grandes jogos. Como vamos tirar da terra comida e energia em abundância? Será preciso pragmatismo e alguma modéstia para encarar esse desafio.

Em seu livro, em vários momentos o senhor trata do "medo de não ter nada para comer". Isso é típico dos franceses e seus vizinhos europeus?
Quando falta comida, nenhum problema é maior do que "ter o que comer". Mas, quando há comida, então aparecem 50 novos problemas na vida da gente: o medo de engordar, de se envenenar, de envelhecer, a culpa de comer muito quando tantos têm fome... Na Europa Ocidental, a última vez que se viu a cara da fome foi na 2ª Guerra e hoje a maioria da população não lida com tais lembranças. Mas lida com esses 50 novos problemas. Certamente o declínio da religião, numa Europa secularizada, deu lugar a outros tipos de injunções coletivas. Por exemplo: assim como há o "ecologicamente correto", há também o "corporalmente correto". Temos de emagrecer, malhar, exibir boa forma física se quisermos merecer o respeito dos outros.

Apesar das penúrias do passado, a França é vista como terra da abundância, onde se come bem e onde o setor agroalimentar ainda atrai o maior volume de divisas para o país.
De fato, parece que o mundo vem para cá para aprender esse bien manger. A verdade é que os franceses são muito exigentes nessa matéria e suas agroindústrias souberam tirar partido da uma cultura local, transformando-a em business. Claro que se persistir a idéia de usar trigo, milho ou arroz para fazer biocombustíveis, velhos medos podem reaparecer.
Em termos históricos, somos mais informados sobre penúrias do que sobre abundâncias.
Há um ditado que diz: o peixe não sabe que está na água até ser pescado. Quando uma geração vive na abundância, ela não a enxerga o contrário. E passa o tempo todo reclamando ou se entretendo com a infelicidade dos outros. É desconcertante constatar que as pessoas não são mais felizes na abundância do que na luta pela sobrevivência.

Pelos critérios ocidentais, seria desejável que todo indivíduo possa comer pelo menos três vezes por dia. Teremos de repensar esse critério no futuro?
De fato, o desejável seria oferecer a todos os habitantes do planeta a possibilidade de comer três vezes ao dia. Mas, comer o quê e em que quantidade? Guardamos no nosso corpo a memória de penúrias do passado, por isso tendemos a comer mais do que o necessário: mais açúcar, mais gordura, quando a nossa vida ficou mais sedentária. Daí a obesidade cresce de forma alarmante, especialmente nas classes médias. Em quase todos os países do globo, vê-se um aumento estrondoso dos gordos. É um problema em escala mundial, de certa forma tão sério quanto a fome.

Por quê?
A demanda crescente por produtos de origem animal é muito alta - isso, no conjunto da humanidade. Consumindo tais produtos, sobrecarregamos a agricultura porque, como já disse, animais comem como nós. Só que a taxa de transformação na indústria ainda deixa muito a desejar: a grosso modo, precisamos de 4 quilos de cereais para ter 1 quilo de frango. Ou 12 quilos de cereais para ter 1 quilo de carne bovina. A necessidade de fomentar culturas vegetais tornou-se prioridade. Enfim, devemos desenvolver agriculturas pelo mundo todo, e não apostar apenas nas mais produtivas, como a do Brasil ou da Austrália.

A população planetária aumenta não só pelas taxas de natalidade, altas em várias partes, mas também pelo aumento da expectativa de vida. Quanto mais se vive, mais se come. Isso entra nos seus cálculos?
Sem dúvida. Na Europa, ao longo de meio século ganhamos três meses de esperança de vida por ano. 50% das crianças que nascem hoje na França serão centenárias. Então, vejamos: um europeu nos anos 50 iria consumir cerca de 50 mil refeições no decorrer da vida. O europeu nascido agora consumirá 100 mil. Isso traz desafios imensos para a quantidade de alimentos a produzir. E também para a qualidade do que se come, afinal, nossos corpos estarão expostos por mais tempo a processos de acumulação de toxinas. Muitas doenças aparecem quando o sujeito já fez umas 80 mil refeições. Antes não deveríamos nos preocupar com isso, agora temos. Não bastassem todos os desafios pela frente, a preocupação com a segurança e a pureza dos alimentos ainda vai nos atormentar muito.
Laura Greenhalgh - O Estado de S.Paulo
Jerome Chatin/AE - 22.10.07
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UMA VERDADE INCONVENIENTE

Al Gore, ex-vice-presidente americano derrotado na penúltima eleição a Presidente, abandonou a política e se dedicou nos últimos anos a pesquisar sobre os efeitos do aquecimento global.
O filme Uma Verdade Inconveniente retrata os efeitos já visíveis deste aquecimento.
Por exigência de Al Gore, a Paramount utilizou o mínimo de recursos que provocassem a emissão de gases que colaboram para este aquecimento.

Resenha do livro: clique aqui
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“Seguimos como se, no concreto, estivéssemos no melhor dos mundos e só precisássemos nos ocupar de juros, taxas de crescimento da economia, balanço de pagamentos e adjacências. Tudo isso é importante. Desde que haja chão consistente por baixo. Temos?”
Washington Novaes

É inquietante observar que, a poucos dias das eleições para presidente da República, governos dos Estados, parlamentos federais e estaduais, as mal chamadas questões ambientais - as que dizem respeito ao meio físico, concreto, em que vivemos - continuam, como nos pleitos anteriores, tão distantes das discussões que se travam que se pode, no final das contas,perguntar: mas em que país se disputam essas eleições? Será em Plutão, que acaba de ser rebaixado, nem planeta mais é?

Muitas vezes tem sido citado aqui o pensamento do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, segundo quem os problemas que ameaçam a sobrevivência da espécie humana são as mudanças climáticas em curso e a insustentabilidade dos padrões mundiais de produção e consumo. Se é assim, essas questões deveriam estar no centro das discussões sobre o futuro do País. Mas não estão.

Qual é, por exemplo, a estratégia brasileira para enfrentar mudanças climáticas? Não está na pauta. Mas já começamos a sofrer com elas, inclusive em áreas que - estas, sim - geram preocupações: estamos perdendo partes de safras por causa de secas, inviabilizando culturas por causa do aumento da temperatura; estamos tendo custos cada vez mais altos com inundações, deslizamentos de terras, inviabilização de rodovias.

Qual é a situação nacional num modelo global que já consome mais recursos e serviços naturais do que são repostos pelo planeta? Também já consumimos além da reposição, dizem os relatórios internacionais.

Mas temos uma situação privilegiada em relação a vários recursos - água, biodiversidade, solo, níveis de insolação. Só que nem sequer pensamos em adequar nosso consumo, muito menos em conceber uma estratégia que coloque a situação privilegiada - abundância dos fatores escassos no nível planetário - como fundamento central da ação nacional. E nem discutimos isso numa campanha eleitoral, para que a sociedade possa informar-se, exigir novas posturas e estratégias.

E como é assim, não conseguimos discutir e formular políticas adequadas para a Amazônia, por exemplo, que coloquem em primeiro plano não a devastação para exportar madeiras e outros produtos primários - ou subsidiados -, em vez de termos uma política que coloque antes de tudo o conhecimento científico e o aproveitamento da biodiversidade mais rica do mundo - cessando com o desmatamento e as ameaças de mudanças climáticas e comprometimento de fluxos hidrológicos.

Ou uma política de conservação, que privilegie áreas indígenas (o caminho mais eficaz para a conservação) e permita o pagamento às populações de baixa renda para fiscalizarem e atuarem na preservação.

Quando a discussão ameaça aproximar-se do concreto - como é o caso da questão do abastecimento nacional de energia elétrica -, quase invariavelmente toma logo um desvio em que se tenta qualificar a preocupação com a conservação de recursos como “obstáculo ao desenvolvimento”.

Sem sequer discutir qual é o modelo energético nacional, suas alternativas, as possibilidade de conservar energia, em lugar de ampliar a potência instalada.

O Cenário Tendencial preparado pela Unicamp para o WWF e divulgado há poucos dias diz que “a adoção de um cenário elétrico sustentável poderá gerar economia de R$ 33 bilhões para os consumidores e diminuir o desperdício de energia elétrica em até 38% até o ano de 2020”. É muito. E isso seria possível com maior eficiência na geração e transmissão de energia, racionalidade no consumo e aumento da utilização de fontes renováveis de energia, como biomassa, eólica, solar e de pequenas hidrelétricas. Mas, se é assim, como não se discute com a sociedade no momento em que as forças políticas assumem compromissos de planejamento?

Principalmente com esse estudo dizendo que por esse caminho será possível criar 8 milhões de empregos e estabilizar a emissão de gases do efeito estufa?

E quando se fala em biomassas, é indispensável dizer à sociedade que caminhos serão trilhados. Vai-se associar a geração de biomassas para a produção de energia à agricultura familiar e ao esmagamento na fonte de produção (para agregar valor), de modo a descentralizar a geração de renda? Ou se vai seguir no velho modelo de concentrar a renda nuns poucos megaprodutores?

E na questão dos recursos hídricos, por onde vamos caminhar - no momento em que chegamos ao contra-senso de minguar a água nas Cataratas do Iguaçu, de racionar o fornecimento em Curitiba e Manaus (no encontro dos Rios Negro e Solimões, formando o Amazonas !)? E tudo isso num país que tem 12% da água superficial do planeta.

Vamos continuar dizendo que se fará a transposição de águas do Rio São Francisco para atender às necessidades de milhões de vítimas da seca - quando sabemos que a água transposta jamais chegará às microcomunidades isoladas, que são as principais vítimas da seca, e que se destinará primordialmente aos macroprojetos de exportação de frutas, camarões e pouco mais?

Não conseguimos sequer colocar na pauta do debate temas como o da gripe aviária - que continua a ser gravíssima ameaça, capaz de produzir prejuízos de até US$ 2 trilhões, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMC) - ou da debilidade do nossos sistema de defesa sanitária na área de carnes, ameaçando um dos principais itens de exportação e o próprio consumidor interno.

Seguimos como se, no concreto, estivéssemos no melhor dos mundos e só precisássemos nos ocupar de juros, taxas de crescimento da economia, balanço de pagamentos e adjacências. Tudo isso é importante. Desde que haja chão consistente por baixo. Temos?

Washington Novaes é jornalista especializado em meio ambiente .
Artigo publicado em “O Estado de SP” 22/9/06

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AQUECIMENTO GLOBAL AMEAÇA DESERTOS, alerta ONU

Os desertos do mundo estão enfrentando ameaças sem precedentes, principalmente por causa das mudanças climáticas, da crescente demanda por água e mesmo por causa do turismo nessas áreas, alerta um relatório do Programa de Meio Ambiente da ONU (Unep, em inglês) publicado nesta segunda-feira.
Considerado o mais amplo estudo já feito sobre as áreas mais áridas do planeta, o documento tem a sua divulgação no Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado nesta segunda.

Segundo o relatório, aumento de temperaturas verificado entre 1976 e 2000 foi muito superior à média anterior. Até 1976, a alta era de 0,45ºC e passou a ser de 0,5ºC a partir daquele ano.
A ONU prevê que a tendência de elevação das temperaturas e diminuição das chuvas vá continuar e projeta um aquecimento de até 7ºC e uma queda de até 20% nas médias pluviométricas dos desertos até o fim deste século.
Recursos desperdiçados
O Programa de Meio Ambiente da entidade também chama a atenção para o mau uso dos recursos naturais do deserto como as reservas de água, que estariam sendo exauridas, e a vida selvagem. De acordo com os especialistas da entidade, se bem explorados, esses recursos poderiam ter benefícios para as pessoas que vivem nessas áreas e a população em geral.
"A maioria dos desertos tem regimes de luz solar e temperatura que favorecem - talvez de forma surpreendente - locais para fazendas de camarão e peixes em locais como o Arizona e o deserto Negev, em Israel".
O relatório também destaca o potencial farmacêutico das plantas, citando, por exemplo, a alga Haematococcus, um antioxidante e imunizante natural, e a planta Hoodia gordonii, um supressor de apetite usado por habitantes do deserto.
Segundo o Unep, por terem desenvolvido uma resistência excepcional às duras condições de vida do deserto, plantas e animais que vivem nessas áreas oferecem novas fontes de drogas e produtos industriais.
O relatório defende ainda o uso da energia solar dos desertos, que cobrem cerca de um quarto da superfície terrestre e abrigam cerca de 500 milhões de pessoas.
De acordo com o Unep, alguns especialistas acreditam que os desertos possam se tornar as fontes de energia limpas do século 21.
"Eles argumentam que uma área de 800 km por 800km de um deserto como o Saara poderia capturar energia solar suficiente para gerar todas as necessidades mundiais de eletricidade e mais."
"Longe de serem terras devastadas estéreis, (os desertos) emergem como (ecossistemas) dinâmicos biologicamente, economicamente e culturalmente enquanto estão cada vez mais sujeitos aos impactos e pressões do mundo moderno", afirmou o vice-diretor executivo do Unep, Shafqat Kakakhel.
Segundo a ONU, no entanto, se os recursos não forem melhor explorados, países como Iraque, Chade, Níger e Síria terão problemas cada vez mais graves para suprir as suas demandas de água.


Fonte:
da BBC Brasil - folhaonline 05/06/2006

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REUNIÃO DE ESPECIALISTAS PARA EXAMINAR AS CAUSAS DE ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR

160 eminentes especialistas em mudança de clima, oceanógrafos e especialistas em ciências do mar do mundo inteiro se reunem de 6 a 9 de junho na sede da UNESCO em Paris, a fim de examinar os fatores que contribuem para a elevação do nível do mar e determinar em quais âmbitos é necessário adquirir mais conhecimentos para compreender melhor este fenômeno. Segundo o terceiro informe de avaliação do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudanças Climáticas (IPCC), nos últimos 100 anos o nível do mar experimentou no conjunto do planeta uma elevação de 10 a 20 centímetros. Um conjunto cada vez maior de dados científicos indica que essa elevação obedece principalmente ao aquecimento da Terra e que seu ritmo se está acelerando. Não obstante, ainda subsistem numerosas áreas de incerteza que impedem formular previsões exatas acerca das futuras mudanças e, assim, preparar respostas eficazes para combatê-las.

Os participantes da oficina “Compreender a elevação do nível do mar e a variabilidade” tratarão de determinar quais são as atuais lacunas nos conhecimentos e quais trabalhos de investigação são necessários para saná-las. Também examinarão os fatores coadjuvantes na elevação do nível do mar – por exemplo a expansão termal dos oceanos, o derretimento dos glaciais e da calota polar, e os movimentos terrestres verticais, assim como as mudanças experimentadas no passado e as que podem produzir no futuro no que diz respeito à freqüência e intensidade de fenômenos extremos, em particular as ondas de superfície e as ondas oceânicas.

A reunião será presidida por John Church, cientista especialista em clima do Centro de Investigações Marinhas da Organização de Investigações Científicas e Industriais do Commonwealth (CSIRO), com sede em Hobart (Tasmânia, Austrália) y Philip Woodworth, Diretor do Serviço Permanente para o Nível Médio do Mar (Liverpool, Reino Unido). As principais intervenções estarão a cargo de Kurt Lambeck (Austrália), Koni Steffen (Estados Unidos), Anny Cazenave (França) e Jonathan Gregory, Robert Nicholls y Ralph Rayner (Reino Unido), que exporão as alterações passadas e previsíveis do nível do mar, assim como suas causas e repercussões nas zonas. Algumas sessões centrar-se-ão no exame do aquecimento dos oceanos do mundo e dos recentes dados sobre o derretimento das calotas polares.

Esta oficina se organizou no marco do Programa Mundial de Investigações Climáticas (PMIC), patrocinado conjuntamente pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO, pelo Conselho Internacional para a Ciência (ICSU), a Organización Meteorológica Mundial (OMM) y outras 41 organizações e entidades científicas.

Fonte: UNESCO - 19-05-2006

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FAO DIZ QUE META DE REDUÇÃO DA POBREZA NÃO SERÁ ATINGIDA ATÉ 2015

O secretário-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), o senegalês Jacques Diouf, afirmou hoje que serão necessários 146 anos para o mundo alcançar as metas de redução da pobreza propostas pela ONU para serem cumpridas até 2015.
''O objetivo da ONU de reduzir à metade o número de pessoas que passam fome, com as atuais tendências, não será alcançado em 2015, mas em 2150", disse Diouf, na 2ª Conferência Mundial sobre Reforma Agrária.
De acordo com Diouf, o número de pessoas abaixo da linha de pobreza crescerá em 100 milhões até 2015, em vez de ser reduzido pela metade, como espera a ONU, afirmou o secretário-geral da FAO.
De acordo com os cálculos da ONU, cerca de 852 milhões de pessoas no mundo todo têm dificuldades para se alimentar adequadamente.

"Em 1996, quando essa meta [de redução do número de pobres] foi estabelecida, muitos já questionavam por que apenas reduzir pela metade, e não totalmente o número de pobres. Mas, se mantivermos as políticas atuais, de não investir no setor [agricultura familiar] que gera renda para 75% dos pobres do mundo, a pobreza continuará crescendo", afirmou.

LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre - 07.03.06

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IMPACTO DO EFEITO ESTUFA PODE SER MAIOR DO QUE O PREVISTO, diz estudo

O aumento da concentração de gases do efeito estufa pode ter impacto muito maior do que se pensava, segundo estudo do governo britânico.
Existe apenas uma pequena chance de que as emissões de gás sejam mantidas abaixo dos níveis "perigosos", de acordo com o relatório. "Fica claro pelo trabalho apresentado que os riscos de mudança climática podem ser maiores do que pensávamos", diz o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, na apresentação do estudo.
"Agora está claro que a emissão de gases do efeito estufa, associada à industrialização e crescimento econômico de uma população mundial que aumentou seis vezes em 200 anos, está provocando o aquecimento global a um ritmo insustentável."
Este documento reúne evidências que foram apresentadas por cientistas do mundo inteiro durante uma conferência organizada pelo Departamento de Meteorologia do Reino Unido, em fevereiro de 2005.

Impactos

Parte dos estudos científicos mostram os impactos associados com vários níveis de aumento de temperatura.
"Uma elevação de 1º C aumenta os risco de forma significativa, com freqüência rapidamente para ecossistemas vulneráveis", diz Bill Hare, do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático Potsdam na Alemanha, que produziu e avaliou mais de 70 estudos sobre impacto em fontes de água, agricultura e vida selvagem.
Na faixa entre 1º C e 2º C, os riscos em todas as regiões aumentam significativamente e são substanciais em nível regional, diz o relatório.
Já acima de 2º C, os riscos aumentam muito substancialmente, envolvendo potencialmente um grande número de extinções ou mesmo colapso de ecossistemas, grande aumento de riscos de escassez de água e fome, bem como prejuízos sócio-econômicos, particularmente em países em desenvolvimento.
Um aumento de 2º C seria suficiente para iniciar o derretimento da camada de gelo da Groenlândia. Isso teria um enorme impacto sobre os níveis do mar no mundo inteiro, embora levasse até 1.000 anos para que subissem os sete metros previstos.
Um aumento de 2ºC na temperatura, segundo os pesquisadores, seria suficiente para provocar a queda nos rendimentos de plantações do mundo desenvolvido e em desenvolvimento, triplicar as colheitas ruins na Europa e na Rússia, deslocamento em larga escala de pessoas no norte da África por causa de desertificação e até 2,8 bilhões de pessoas com risco de sofrer escassez de água.
Além disso, também seriam identificadas perda de 97% dos corais de recife, perda total do gelo do verão no Ártico --com extinção do urso polar e do cavalo marinho-- e disseminação de malária na África e na América do Norte.

Da BBC Brasi - lFolha de São Paulo - - 30/01/2006

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AGROTÓXICO É A SEGUNDA CAUSA DE CONTAMINAÇÃO DE ÁGUA DO PAÍS

O uso de agrotóxicos e fertilizantes já é a segunda causa de contaminação de água no país. Só perde para o despejo de esgoto doméstico, o grande problema ambiental brasileiro. A pesquisa do IBGE mostra que, do total de 5.281 municípios que têm atividade agrícola, 1.134 (21,5%) informam ter o solo contaminado por agrotóxicos e fertilizantes.
Das cidades que registraram poluição freqüente da água, onde vivem sete de cada dez brasileiros, 75% apontaram o despejo de esgoto como principal causa da poluição, 43% disseram que o problema se deve ao uso de agrotóxicos e 39% à disposição inadequada de resíduos sólidos (lixo) e à criação de animais. A contaminação da água provocada por agrotóxico é um problema para 16,2% (901) dos municípios brasileiros.
Proibido por lei federal em 2002, o descarte irregular de embalagens vazias de agrotóxicos é apontado como principal causa de contaminação: 978 descartavam recipientes em vazadouro a céu aberto. Em todo o país, 600 municípios informaram possuir posto de coleta de embalagens. O destaque foi Santa Catarina, com a maior proporção de postos de recebimento.
Usado para o controle de pragas, doenças e ervas daninhas, o agrotóxico se tornou um dos principais elementos do modelo agrícola brasileiro após uma política oficial de incentivo iniciada durante o regime militar, na década de 70.
De acordo com dados divulgados na pesquisa do IBGE, o governo federal investiu mais de US$ 200 milhões na implantação e no desenvolvimento de indústrias voltadas para a prática. A vinculação da ampliação do crédito agrícola subsidiado à compra de agrotóxicos difundiu a medida. Em 1995 foram comercializados US$ 1,6 bilhão em agrotóxicos. Cinco anos depois a cifra chegou a US$ 2,5 bilhões.
Mas a pesquisa também mostra que, dos 5.281 municípios com atividade agrícola, 35,8% incentivam a promoção e a prática da agricultura org|ância. Dos municípios onde há fiscalização, são 61,5% os que incentivaram esta prática.

Fonte: OESP

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IMPACTOS PROVOCADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL

"A construção civil gera 15% do PIB brasileiro, emprega 15 milhões de pessoas e provoca um impacto ambiental proporcional. O setor consome nada menos que 50% dos recursos extraídos da natureza e produz 40% de todo o resíduo gerado no mundo. Seus efeitos atingem a cadeia produtiva desde a concepção das obras até a demolição. A localização dos projetos, a arquitetura e a escolha dos materiais afetam diretamente o entorno com aglomerações, aterros, inundações, mudanças de insolação e outros impactos" - Ricardo Arnt - Jornalista.[Topo]


AB'SABER FAZ DURAS CRÍTICAS À POLÍTICA AMBIENTAL DE LULA

Geógrafo condena a falta de planejamento para combater o problema do desmatamento

São Paulo - Aos 81 anos, o geógrafo Aziz Ab’Sáber afirma que nessa idade não poderia fazer tantas viagens à Amazônia.

"Mas faço e farei até morrer."

E é dele, um dos principais estudiosos da maior floresta tropical do mundo, que vêm duras críticas à política ambiental do governo Lula. Não só pela recente divulgação de mais um recorde na taxa de desmatamento, mas também pela falta de planejamento para combater o problema.
"Como pensar otimistamente nos próximos tempos se tudo está em dinâmica desastrosa, devastadora e à custa de uma ignorância generalizada."
Nessa entrevista, o professor da Universidade de São Paulo chama atenção para o "governo paralelo" que se criou na Terra do Meio, no sul do Pará.
Há algum tempo, visitou a região e viu como fazendeiros e madeireiros desfilavam durante horas pela Transamazônica com bandeiras em grupos numerosos para amedrontar a população.
"Aqueles mesmos que dizem a propriedade é minha, e eu faço com ela o que quiser, como quiser e quando quiser pensando já no futuro do processo devastador." Para Ab’Sáber, o governo precisa agir já.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) justifica que a taxa de desmatamento foi contida, já que poderia ter sido muito maior porque houve um ano de crescimento econômico da ordem de 5%. O sr. se convence com a explicação?
Não posso discutir as desculpas e os argumentos que o MMA tem em relação ao gravíssimo problema da ampliação da devastação da Amazônia. Eu fico psicologicamente muito arrasado de falar da Amazônia na atual conjuntura. Quem não tem ética com o futuro e capacidade de pensar o futuro em diferentes níveis e profundidades de tempo, deixa que a devastação aconteça. E aí ficam justificando: "Ah, estatisticamente aconteceu isso, por isso." Só que o "por isso" é a conjuntura da economia de fazendeiros, madeireiros e agricultores em ganhos rápidos e imediatos e o futuro que se dane.
Onde o governo erra nessa questão?
Em primeiro lugar há que se pensar num governo capaz de ter um pensamento e um conjunto de estratégias para as questões nacional, regional e setorial. No caso do Brasil, estamos tendo um esforço para pensar o internacional, mas com excesso de visitas e pouco cuidado com o regional. Acharam que era possível fazer viagens custosas, levando um grande número de pessoas para conhecer outro país distante, que pode ou não ofertar vantagens econômicas. Enquanto isso deixam acontecer tudo o que as circunstâncias internas permitem.
Gostaria de dizer também que os membros do segundo escalão do governo Lula deveriam ter um melhor conhecimento com os fatos relacionados à tropicalidade. No caso da Amazônia, é uma área quente e úmida e está sob aquilo que muitos pesquisadores chamam de invasão capitalista. Os cientistas, jovens geógrafos e promotores sabem que nosso tempo todos os espaços viraram mercadorias. É preciso pôr isso na cabeça dos governantes brasileiros. Houve uma invasão permitida pela ignorância dos governos que sucederam desde o início da construção da Belém-Brasília, depois a Transamazônica e as outras estradas que rasgaram o coração das selvas.
Quem vem promovendo a invasão da floresta?
Foram vários ciclos sucessivos. Primeiro a agropecuária, depois as madeireiras, logo agora a soja e no intervalo de tudo isso os negócios amazônicos. Um político que enriqueceu muito rapidamente e outros grupos que estão até nos governos estaduais, filhos deles, eles justificam suas riquezas pelos negócios da Amazônia. E o governo não tem noção do que seja isso. Está acontecendo no centro sul do Pará, naquela chamada Terra do Meio, um verdadeiro governo paralelo por parte dos fazendeiros, madeireiros, dos que estão preocupados com devastação para eventual produção da soja.
O governo tem medo, interesses particulares ou não sabe como atuar em áreas de conflito como no sul do Pará? O que fazer na Terra do Meio?
No Brasil só se esboçaram dois Estados paralelos, perigosíssimos e que precisam de uma atenção estratégica. A região do narcotráfico no Rio de Janeiro e a Terra do Meio. Não posso dizer (o que fazer). Se disser, alguém vai dizer que está tudo errado. Eles (o MMA) só respeitam o planejamento estratégico pagando e pagando muito para imbecis. Não vou dizer quais são as soluções, porque não adianta coisa nenhuma perante o ideário vigente na administração federal.
Este governo criou 7,7 milhões de hectares de unidades de conservação, boa parte para frear a fronteira agrícola. É uma boa solução ou só vai criar novas frentes em outras partes da Amazônia?
O grande problema que o governo não entendeu é o seguinte: no caso de algumas reservas particulares que foram pensadas em termos de uma exploração auto-sustentável, a situação mudou muito porque elas estavam inseridas dentro de um corpo territorial contínuo. Com a devastação que houve, aqui e acolá, a coisa mudou muito. As reservas extrativistas que tentaram ser organizadas sozinhas não valem muito. Nem para a economia regional, nem para o futuro.
Qual a sua avaliação da equipe do MMA?
Não posso dizer mais para um jornal da importância do Estado, porque teria de me referir a nomes de pessoas, a ignorantes que foram colocados dentro do MMA, e não conhecem a Amazônia e ficam projetando coisas. Fazer concessões de Flonas (Florestas Nacionais) para ONGs estrangeiras... Deus meu, que ignorância. Alugar por 30 ou 60 anos é uma das mais terríveis propostas contra a soberania brasileira na Amazônia. Poucos dos que fizeram essa estupidez de propor aluguel de florestas nacionais para particulares de qualquer instância estarão vivos para responder por seus projetos esgarçados.
Qual é o risco?
Em 30 ou 60 anos, as Flonas poderão ser exploradas em qualquer nível sem que haja gerenciamento real, da maneira pela qual vão trabalhar explorando madeiras e podendo explorar tudo aquilo que fizeram, porque alugaram e pagaram. Estamos numa situação desesperadora. A conjuntura internacional está de olho numa região de um país imenso como é o Brasil e parece que os governantes não têm idéia disso.
Até que ponto a chamada internacionalização da Amazônia o preocupa?
Lá fora, quando qualquer membro do governo faz algumas pressões no sentido de ter alguma presença internacional, eles respondem com as seguintes frases: "O governo brasileiro não tem condições de gerenciar a Amazônia." Isso é muito triste, muito dramático. Se não houver um nível de esclarecimento e conhecimento integrado, se não existir uma política estratégica para gerenciar a Amazônia e impedir qualquer embrião de Estado paralelo, estaremos com a nossa soberania ameaçada permanentemente.
O governo tem cerca de 30 grandes projetos de infra-estrutura na Amazônia legal. O sr. teme os impactos dessas obras na região?
Como construir isso linearmente esquecendo as regiões que formam o todo? Existe uma preocupação com velhos projetos no Brasil. Primeiro a transposição das águas do São Francisco. Dizem: "Vai resolver o problema do semi-árido brasileiro." Sobre isso não digo mais nada, porque já chamei a atenção rigorosamente científica e as respostas são rigorosamente políticas. Outro projeto é fazer a ligação do Acre com o Pacífico. Projeto mal-estudado por todos e no presente momento desastroso, porque seria apenas uma rota da madeira para o Oriente.
Falta ética com o futuro...
Essa ética com o futuro tem de ser melhor colocada na cabeça dos governantes, do primeiro, segundo e terceiro escalões. Houve um rapaz que está dentro do MMA que perguntado numa TV se conhecia a Amazônia, porque estava forçando o problema dos aluguéis das Flonas e da concessão para ONGs estrangeiras, ele respondeu assim: "Ah, eu fui até o Amapá." A Amazônia com 4,2 milhões de quilômetros quadrados, e a justificativa dele é que foi até o Amapá? Por acaso estava pesquisando com pessoas muito importantes que queriam conhecer um pouco da Amazônia, dos grupos indígenas remanescentes do Amapá, e vi onde essa pessoa esteve. Era uma reunião de ONGs. É assim que se conhece a Amazônia?
O sr. tem alertado o governo?
Um dia a dona Marina (Silva, ministra do MMA) teria dito, segundo me contaram, que ela precisava forçar o encaminhamento da concessão do aluguel de Flonas, e alguém disse que precisavam consultar o doutor Aziz. Aí ela disse: não dá tempo de convencer o doutor Aziz. É assim que funciona assim lá em cima. Não posso ficar falando essas coisas, porque não tenho vontade de citar nomes. Se fosse citar nomes, meu Deus, (o secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo) Capobiancos, Tassos Rezendes (gerente de projetos) e muitos outros que estão lá. E dentro do Ibama grandes problemas também, apesar de que o presidente do Ibama (Marcus Barros) é alguém que sempre respeitei muito. Não existe política estratégica dentro do Ibama capaz de gerenciar todo esse caos.
O sr. tem mais preocupação com a pressão de grileiros, madeireiros e fazendeiros ou a de ONGs?
Tenho impressão de que as ONGs deixaram de ser organizações não-governamentais para ser governo. É o caso do MMA, que foi inundado por ONGs. O marido da dona Marina Silva (Fabio Vaz de Lima) foi presidente das ONGs amazônicas. Tenho muito receio das ONGs, tanto as internas quanto as possíveis externas que nunca entenderam o mundo tropical e dentro do tropical um país como o Brasil com um regional diferenciado. Alguém disse, lá no MMA, que esses paulistas esqueçam a Amazônia e passem a pensar na despoluição do Rio Tietê, como se o ministério não tivesse que pensar em tudo. Você está me obrigando a dizer coisas que não gostaria de dizer...
O sr. é partidário da tese de buscar desenvolvimento mantendo o máximo da floresta intacta...
Pensar um desenvolvimento com o máximo de floresta em pé significa o máximo de biodiversidade conservada e in situ. Do chão até o dossel. Passei pelo Estreito de Breves (no Pará), numa das caravanas da cidadania (organizadas pelo então candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva), quando meditei muito sobre meu País - foi inútil, aparentemente. Passei numa madeireira na região e estavam desenrolando troncos gigantes para fazer placas e vender para o exterior. Fui num estacionamento, no fundo, e comecei a olhar os cortes dos troncos pensando em quantos anos levaram para crescer aquelas árvores. Uma delas tinha 1 metro e 65 centímetros de diâmetro. Aí comecei a contar os anéis de crescimento e tive de parar. Ia dar uns 500, 600 anos. E há brasileiros que dizem "pode cortar uma árvore se plantar uma outra". Estamos no campo da ignorância.
Como estudioso da Amazônia e professor, que nota daria ao governo Lula na questão ambiental?
Olha, não quero ferir a dona Marina e não quero ferir o governo Lula, mas é claro que a nota é muito baixa.
O sr. já propôs saídas para a Amazônia para este governo?
Fiz um zoneamento da Amazônia em 23 células espaciais, sugerindo ao governo que fizesse uma reunião em Brasília para encontrar um método de estudo para cada uma dessas regiões e entender a situação delas em termos das poucas atividades urbanas, das que têm verdadeiras capitais regionais funcionando mais para os madeireiros do que para qualquer outra coisa, das doenças tropicais e das locações de cada célula espacial. Enviei uma carta ao presidente Lula logo que foi eleito. Nenhuma resposta.


Fonte: O Estado de São Paulo, 14 de junho de 2005.

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O DESAFIO DA EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Na última década, inúmeras pesquisas se desenvolveram para discutir as formas e os resultados sobre "Educação Ambiental".
Em geral pode-se dizer que, na maioria dos casos, os resultados são considerados como baixos ou duvidosos se considerarmos as mudanças, condutas, ações, inclusão social, cidadania e produtividade. Em parte e entre outros aspectos, a questão programática, as formas, metodologias e práticas, e em especial a Falta de continuidade se colocam como as principais.
Como notável se coloca que, na maioria dos casos a Educação Ambiental se desenvolve de forma fragmentada ou com focalização parcial, muitas vezes comprometida ou submetida a interesses, outras vezes oportunistas ou festivas, de espectro especulativo, ou ainda obrigadas por leis, ordens ou modismos.
Pode-se dizer que, devido ao crescente aumento da consciência social e política e os impactos sociais provocados por uma diversidade de fatores, as formulações críticas na Educação Ambiental que antes quase que exclusivamente se vinculavam a questões relacionadaas à natureza, incorporam inseparavelmente a questão social em todo seu contexto, incluindo a globalização.
Contribui para isto também a fase de transição, ainda não concluída, entre o autoritarismo e a democracia plena.

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UM ENFOQUE NA CULTURA SOCIOAMBIENTAL

“ Em cinco anos, tudo o que sabemos hoje será inútil ou tóxico.
O papel fundamental dos líderes do futuro será gerenciar o presente, esquecer seletivamente o passado e dar combustível ao futuro”

C. K. Prahalad

Prahlad talvez não tenha analisado a Agenda 21. Não importa se não o fez.
A questão é que as empresas são feitas por pessoas e líderes. Para serem líderes, não necessitam ocupar cargos, mas sim conhecer seus encargos e assim suas responsabilidades, as quais, já há muitos anos, não se relacionam apenas ao setor de trabalho e na busca de fazer mais com menos.
Qualquer relação dentro das paredes físicas e estruturais de uma empresa é antes de tudo uma relação social inseparável, constituindo-se a produção de bens e serviços também numa relação social, diversa e holística, dentro da qual se estabelece o meio que é um meio socioambiental.
Quando uma empresa “toca” o lucro sem considerar os aspectos socioambientais do desenvolvimento sustentável, vai progressivamente traçando o caminho de sua própria insustentabilidade.
A Eco-eficiência se fundamenta no desenvolvimento sustentável que, ao ser social, inclui a empresa dentro de um complexo de relações que lhe permitem não só sua existência, mas seu progresso.
A inestabilidade e a degradação socioambiental colocam em risco a humanidade num futuro sem retorno e por sua vez marcam o agravamento permanente da crise social e de mercado e isto sem duvidas acometerá os setores produtivos de comércio e serviços.
Estes poderão administrar os conflitos e superá-los quando adotem chegar ao lucro “tocando” a sustentabilidade e a competitividade através da eco-eficiência e da responsabilidade social.
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POLUIÇÃO DA ÁGUA CRESCE DE FORMA CONSTANTE
(um problema antigo sem soluções eficazes)

Nos últimos dez anos, a contaminação das águas de rios, lagos e lagoas (incluindo reservatórios e represas) aumentou cinco vezes. A principal fonte de contaminação é o despejo de material tóxico resultante de atividades agro-industriais e industriais, esgotos rurais e urbanos, também incluídos os lixões.
A conclusão está no relatório Estado Real das Águas no Brasil (2003-2004), feito pela Defensoria da Água. O estudo indica a existência de 20 mil áreas contaminadas com população exposta a riscos de saúde. Além disso, os vestígios de esgoto despejado na região costeira, que há uma década eram encontrados a até 5 quilômetros do litoral, hoje estão presentes em uma faixa dez vezes maior, alcançando 50 quilômetros da costa.
O documento conclui que nos próximos dez anos o problema da escassez de água para consumo humano nas regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte e Rio ficará mais grave. A falta de água atingirá 40 milhões de pessoas, afirma o relatório, segundo o qual as autoridades governamentais não têm tomado quaisquer providência preventivas.
Oportuno colocar que muitas regiões e até pequenos municípios do estado de São Paulo, serão atingidas da mesma forma que nas grandes cidades.
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Mais de 27 milhões de crianças vivem na pobreza no Brasil, diz Unicef

O relatório “O Estado da Criança no Mundo 2005” , divulgado pela Unicef no mês de dezembro, mostra que mais de 27 milhões de crianças vivem abaixo da linha de pobreza no Brasil, o que significa fazer parte das famílias com renda de até meio salário mínimo.
No total, 33,5% da população brasileira vivem com metade de um salário mínimo. Desse grupo, 45% são crianças.
O relatório também mostra uma queda no índice de mortalidade infantil no Brasil. No entanto, segundo o documento, 35 crianças brasileiras por cada mil, ainda morrem antes de completar cinco anos de idade, o que coloca o país do lado de Peru e Cabo Verde.
Suécia e Singapura se colocam com os menores índices - 3 crianças mortas por cada mil, antes dos cinco anos.

Saneamento básico
Também segundo o documento, cerca de 44 milhões de brasileiros vivem em condições sanitárias abaixo do mínimo esperado. Este número é maior do que o relatório do ano passado. A situação é mais critica nas zonas rurais do país, onde apenas 35% da população têm acesso a serviços básicos sanitários.
A precariedade no abastecimento de água é um dos problemas brasileiros em destaque no relatório. A situação é mais grave nas áreas rurais do país onde apenas 58% da população têm acesso à água potável.

Unicef ressalta
Que a situação no Brasil é preocupante. Mortalidade infantil, falta de saneamento básico e água potável e o crescente número de casos de homicídios entre adolescentes e jovens, principalmente entre 15 e 24 anos, são desafios que o governo e os governos locais ainda precisão resolver
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA SOCIEDADE
Educação Ambiental.
O melhor caminho e a melhor solução para o Desenvolvimento Sustentável.

Parece que o paradigma entre quantidade e qualidade continua sendo o maior problema a se resolver quando falamos de Educação.
A primeira responde à necessidade de “mostrar serviço” na companhia de índices estatísticos e burocracias injustificadas e cumprir o requisito do imediatismo. O outro lado pretende a construção da cidadania mediante a preparação de multiplicadores comprometidos com o progresso e a melhoria da qualidade de vida desde uma perspectiva de desenvolvimento sustentável sem discurso e com amplo conteúdo e práticas dinâmicas impulsionadas pela crítica.

Quando falamos de educação surgem uma série de dúvidas e de idas e voltas e sempre nos deparamos com perguntas muitas vezes com respostas que devemos guardar em cada um ou em pequenos grupos, respostas estas que nos colocam na frente muralhas construídas para retardar o progresso da cultura, da consciência e do civismo. Muitas vezes a Educação Socioambiental se alicerça no que se apresenta como adequado no que carece de história, conceitos e princípios e se “totalitariza” através de processos burocráticos, de dirigismos digestivos, de receitas de efeito imediato, de compromisso pontual e de descontinuidade anunciada, estes deficientes ou pela falta de investimentos, de vontade política, de compreensão e compromisso, por interesses ou por todas elas.

Cada dia mais evidentes e presentes, crescem com maior rigor as discussões críticas sobre o compromisso histórico e suas conseqüências na abordagem dos conteúdos e da qualidade da educação, a qual inexoravelmente deve ser focada na construção da consciência social e no civismo centralizado na participação e no controle social.
Não descartamos em absoluto as ferramentas primárias das condutas e das iniciativas de reciclar, coletar seletivamente, plantar sementes e mudas, economizar água e energia, etc., se estas ferramentas estiverem consorciadas nas causas para depois seguir pelos efeitos e assim continuar na aplicação das soluções emergenciais ou paliativas.

Devemos nos fazer algumas perguntas:

O que significa reciclar latinhas, quais são as economias e os benefícios envolvidos em toda a cadeia, que começa na existência do produto, origem, mercado, consumo, resíduo, intermediação, novamente produto, mercado e assim por diante. Há uma embalagem com menores custos ambientais? Se não há, é possível desenvolver-se uma nova menos impactante ou eu posso buscar uma no mercado com menores custos e conseqüências ambientais?

No momento em que plantamos uma muda nativa, paramos para pensar quantas árvores são arrancadas e quais as conseqüências ambientais imediatas e no tempo?, existe algum impedimento legal para que isso não aconteça?, se há, porque não se inibe aplicando o controle e a lei? de quem é a responsabilidade?
Se eu economizo água pelo risco de faltar, por que faltaria?.
Se eu ouço que há perdas no sistema de abastecimento, o que se está fazendo para resolver essas perdas?

Se eu devo economizar energia, por que ela iria faltar?
Se eu devo andar menos de carro, porque cada vez há mais construções na cidade e menos ruas e muito mais carros e apenas um pouco mais de trens, ônibus e metrôs e eles demoram mais para chegar ao ponto de destino?
Se eu pago um imposto que envolve a coleta e destino do lixo, para quem eu devo selecionar e separar os resíduos?, e essa economia, onde é aplicada? Essas pessoas que eu organizo para que façam coleta para reciclagem e trabalham informalmente, quando cheguem à velhice como se aposentarão?
Essas pessoas, especialmente crianças, que coletam produtos recicláveis nos lixões, além da segregação social não sofrem riscos de contrair doenças?
Por que há municípios que têm mais de 100 anos e não têm saneamento básico e aterro adequado?
Por que todos esses folhetos ambientais são tão coloridos e impressos em papel tão caro?
Estes são apenas simples exemplos para educadores, monitores e multiplicadores. Perguntas e respostas que, quando pensada a conscientização social, obrigatoriamente necessitam ser feitas e objetivamente respondidas.

Lembrando José Bonifácio de Andrade e Silva (Representação à Constituinte e Legislativa do império do Brasil sobre a escravatura, 1823)*

“A Natureza fez tudo a nosso favor, nós porém pouco ou nada temos feito a favor da Natureza. Nossas terras estão ermas, e as poucas que temos roteado são mal cultivadas, porque o são por braços indolentes e forçados. Nossas numerosas minas, por falta de trabalhadores ativos e instruídos, estão desconhecidas ou mal aproveitadas. Nossas preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do fogo e do machado destruidor da ignorância e do egoísmo. Nossos montes e encostas vão-se escalvando diariamente, e com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes que favoreçam a vegetação e alimentem nossas fontes e rios, sem o que o nosso Brasil, em menos de dois séculos, ficará reduzido aos páramos e desertos áridos da Líbia. Virá então este dia (dia terrível e fatal), em que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos”

(*) Extraído do Livro “Um Sopro de Destruição” – Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista (1786-1888) de José Augusto Pádua – Companhia das Letras – Brasil

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A EMPRESA e a EDUCAÇÃO e COMUNICAÇÃO AMBIENTAL

Até hoje poucas são as empresas, considerando sua totalidade, que têm entendido que políticas definidas do uso de conceitos e práticas de Educação Ambiental diretamente compreendidas no contexto produtivo, isto quer dizer com conteúdos que contemplem os fatores de redução do uso de recursos, bens e materiais, podem gerar melhorias produtivas e de qualidade.
Por outro lado também devemos considerar que existem muitas empresas que têm demonstrado notável superação às exigências licenciatórias governamentais e normativas assim como têm adotado políticas e condutas que as colocam dentro da pró-atividade, entendendo que a questão ambiental pode significar ganhos competitivos e também crescimento do capital intangível.
Não devemos desconsiderar que as questões ambientais estão aos poucos promovendo diversas formas de barreiras, impedimentos ou exigências tanto tecnológicas como de conduta, que cedo ou tarde poderão afetar os mercados de empresas e até de setores.
É oportuno dizer que não se trata somente de adotar normas certificadas. A conduta ambiental parte de uma política definida e esta de um conceito que poderia ser o próprio Desenvolvimento Sustentável, sem deixar de priorizar a responsabilidade social a qual não deveria ser entendida como empreendimento assistencial e sim como investimento na recuperação e conservação dos recursos e no aumento da qualidade de vida da sociedade como um todo, e assim assegurar a existência e o progresso da humanidade onde se inclui o econômico.
Desde nossa perspectiva, essas condutas e políticas podem ser vantajosas em todos os segmentos econômicos independendo do seu porte, tamanho e atividade.

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